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Meirelles tem o apoio de Palocci
para ocupar comando da Fazenda
Ex-ministro atua nos bastidores e defende mudança num segundo mandato de Lula
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
À medida que aumentam as
chances de o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ser reeleito, crescem também as disputas internas no governo pelo
comando da equipe econômica.
Alvo número um dos petistas
desde 2003 e, até três meses
atrás, tido como carta fora do
baralho num eventual segundo
mandato, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ganhou um importante
aliado que já lançou seu nome
para o Ministério da Fazenda,
se Lula vencer as eleições. Trata-se de ninguém menos do que
Antonio Palocci Filho.
Depois de alguns meses de
reclusão, o ex-ministro da Fazenda, afastado do cargo após a
quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, voltou
à carga nos bastidores e tem
atuado fortemente no mercado
financeiro, defendendo prioridades para a economia e, especialmente, a ascensão de Meirelles à Fazenda.
Para fazer valer, na prática, o
status de ministro que Meirelles já tem no papel, porém, é
preciso assegurar que o presidente esteja disposto a se desfazer de Guido Mantega, que ocupa o cargo atualmente. Companheiro fiel de Lula, Mantega
tem tido uma participação importante na campanha à reeleição, gerando sucessivos fatos
positivos que rendem dividendos políticos a Lula.
Com isso, ganha ainda mais
confiança do presidente e tenta
se manter no cargo. Uma das
estratégias do ministro tem sido deixar na conta do BC a
principal crítica à política econômica: os juros elevados.
Enquanto isso, ganha pontos
com a elaboração de medidas
para estimular o crescimento e
que agradam a Lula, banqueiros, empresários e boa parte do
eleitorado. Mas sabe que ainda
tem pontos frágeis e tenta revertê-los. O principal deles é a
dúvida do mercado com relação à sua gestão fiscal.
Encontro em SP
Segundo a Folha apurou, a
substituição de Mantega por
Meirelles foi colocada pelo "cabo eleitoral" Palocci durante
encontro com banqueiros e
analistas do mercado, em São
Paulo, no início de agosto.
Numa roda de conversa, Palocci insinuou que não há a menor chance de Mantega permanecer no cargo. Disse que as
pessoas ali presentes teriam
"surpresas positivas" nessa
área e, quando questionado se
Meirelles poderia ir para a Fazenda, respondeu dizendo que
"essas chances são crescentes".
Normalmente mais discreto
e contido nas disputas de bastidores, o presidente do BC tem
mudado sutilmente seu discurso. Em vez de se restringir à política monetária e a assuntos
relacionados ao BC, prática
adotada desde que Mantega assumiu a Fazenda, ele tem falado com mais desenvoltura sobre as reformas prioritárias para o Brasil crescer, tema que
soa como música aos ouvidos
do mercado financeiro.
Na semana passada, ao desembarcar na Basiléia, Suíça,
Meirelles enfatizou que o crescimento maior da economia
nos próximos anos está vinculado à aceleração de reformas e
disse que essa deve ser a prioridade na economia no próximo
governo.
O discurso, que em parte serve para desviar o foco do debate atual sobre o baixo crescimento brasileiro e a alta taxa
de juros praticada no país,
coincide com a palestra que Palocci vem fazendo para diretores de instituições financeiras e
analistas do mercado nos últimos dois meses.
A apresentação do ex-ministro, com o título de "Desempenho Econômico Recente, Propostas para 2007-2010", inclui
12 slides com gráficos e tabelas
que mostram a evolução de indicadores da economia, como
superávit primário, dívida pública interna e externa, gastos
correntes do governo federal,
inflação e balança comercial.
Alguns comparam os dados da
gestão Palocci com a do governo anterior.
No final, o ex-ministro traça
as perspectivas para a política
econômica e aponta as prioridades para o próximo governo.
A primeira da lista é o compromisso fiscal de longo prazo,
proposta lançada quando Palocci ainda era ministro e que
perdeu força em meio à crise
política e às insatisfações que a
idéia gerou dentro do PT, sobretudo para a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil).
O ex-ministro toca ainda em
pontos importantes sobre os
quais técnicos da Fazenda, por
exemplo, têm evitado se manifestar para não criar atritos no
PT, já que o tema é polêmico:
uma nova reforma para reduzir
o déficit da Previdência.
Segundo fontes do governo, a
movimentação política de Palocci nos bastidores, que inicialmente tinha como justificativa reforçar sua candidatura à
Câmara dos Deputados, inclui
chapa fechada. O atual diretor
de Assuntos Internacionais do
BC, Paulo Vieira da Cunha, é
apontado como um provável
sucessor de Meirelles no comando do BC, caso os planos
do ex-ministro avancem.
Atualmente, numa diretoria
que ficou quase esvaziada, Paulo Vieira é visto pelos técnicos
do governo como uma pessoa
com um perfil mais político
que técnico.
Recentemente vem acompanhando Meirelles em vários
eventos e, em alguns deles, tem
reforçado o discurso das reformas prioritárias no próximo
governo.
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