São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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Gasto social ajuda, mas não substitui o investimento produtivo no país, diz FMI

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA

Os gastos sociais têm contribuído para o aumento do consumo e da distribuição de renda, mas, sem mais investimentos produtivos, o Brasil não conseguirá crescer de forma sustentada. Em resumo, essa é a explicação que o diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional) para a América Latina, Anoop Singh, dá para o baixo ritmo e a inconstância do crescimento no Brasil.
"A lição é clara. O crescimento requer investimentos, e a maneira mais eficiente de se obter isso é através do setor privado. Não há saída disso", afirmou Singh.
No Brasil, os investimentos se mantêm estagnados em torno de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) há anos. Na China, que deve crescer 10% neste ano (contra 3,6% previstos para o Brasil pelo FMI), eles atingem 30% do PIB.
Em entrevista na manhã de ontem em Cingapura, Singh foi a terceira autoridade do FMI a alertar para o aumento de gastos públicos na América Latina e Brasil não necessariamente dirigidos às áreas sociais e de infra-estrutura. "Esses gastos têm crescido de forma significativa e não deveriam ser orientados para salários e despesas correntes", afirmou.
Segundo previsões do Fundo, o Brasil terá o menor crescimento entre todas as economias da América Latina -que deve evoluir 4,8% em 2006.

Elogios à economia
Singh ponderou, no entanto, que "crescimento não é só um número" e elogiou as medidas macroeconômicas adotadas no Brasil e a ampliação dos programas sociais.
"O Brasil dos últimos três anos tem de ser examinado com cuidado, pois tem tido resultados impressionantes. O país não só se recuperou de uma crise como pode crescer cerca de 4% em 2007", disse. "O tipo de crescimento que perseguimos é o que também reduz a pobreza e a desigualdade social. É esse tipo de crescimento que temos no Brasil. As bases para crescer estão sendo assentadas, mas dentro de um quadro de estabilidade. Os dividendos devem vir com o tempo."
O diretor do Fundo afirmou que Brasil e região devem usar a atual "oportunidade histórica" para realizar reformas que estimulem mais investimentos e reduzam a vulnerabilidade. Para ele, o alto nível de endividamento público na região, cerca de 50% do PIB, ainda a torna "muito sensível" a choques.

Críticas à educação
Em seu "Relatório sobre Desenvolvimento Mundial" divulgado ontem, o Banco Mundial fez críticas diretas à qualidade da educação básica no Brasil.
O relatório diz que, embora o Brasil tenha fundos "suficientes" em nível federal, eles acabam "fragmentados por uma coordenação pobre, especialmente quando os serviços são prestados por mais de um nível de governo". No Brasil, a educação primária cabe aos municípios. A secundária, aos Estados.
"No Brasil, apenas 60% dos jovens na faixa dos 15 anos estão na sétima série ou em níveis mais elevados. Esse percentual baixo reflete em parte o fracasso do ensino primário e secundário em oferecer habilidades básicas necessárias ao trabalho", afirma o relatório do Banco Mundial.
"Ele também reflete o nível de desigualdade no acesso às escolas. As diferenças entre as notas alcançadas entre ricos e pobres é explicada pela freqüência em escolas diferentes."
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