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Gasto social ajuda, mas não substitui o investimento produtivo no país, diz FMI
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA
Os gastos sociais têm contribuído para o aumento do consumo e da distribuição de renda, mas, sem mais investimentos produtivos, o Brasil não
conseguirá crescer de forma
sustentada. Em resumo, essa é
a explicação que o diretor do
FMI (Fundo Monetário Internacional) para a América Latina, Anoop Singh, dá para o baixo ritmo e a inconstância do
crescimento no Brasil.
"A lição é clara. O crescimento requer investimentos, e a
maneira mais eficiente de se
obter isso é através do setor privado. Não há saída disso", afirmou Singh.
No Brasil, os investimentos
se mantêm estagnados em torno de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) há anos. Na China,
que deve crescer 10% neste ano
(contra 3,6% previstos para o
Brasil pelo FMI), eles atingem
30% do PIB.
Em entrevista na manhã de
ontem em Cingapura, Singh foi
a terceira autoridade do FMI a
alertar para o aumento de gastos públicos na América Latina
e Brasil não necessariamente
dirigidos às áreas sociais e de
infra-estrutura. "Esses gastos
têm crescido de forma significativa e não deveriam ser
orientados para salários e despesas correntes", afirmou.
Segundo previsões do Fundo,
o Brasil terá o menor crescimento entre todas as economias da América Latina -que
deve evoluir 4,8% em 2006.
Elogios à economia
Singh ponderou, no entanto,
que "crescimento não é só um
número" e elogiou as medidas
macroeconômicas adotadas no
Brasil e a ampliação dos programas sociais.
"O Brasil dos últimos três
anos tem de ser examinado
com cuidado, pois tem tido resultados impressionantes. O
país não só se recuperou de
uma crise como pode crescer
cerca de 4% em 2007", disse. "O
tipo de crescimento que perseguimos é o que também reduz a
pobreza e a desigualdade social.
É esse tipo de crescimento que
temos no Brasil. As bases para
crescer estão sendo assentadas,
mas dentro de um quadro de
estabilidade. Os dividendos devem vir com o tempo."
O diretor do Fundo afirmou
que Brasil e região devem usar
a atual "oportunidade histórica" para realizar reformas que
estimulem mais investimentos
e reduzam a vulnerabilidade.
Para ele, o alto nível de endividamento público na região, cerca de 50% do PIB, ainda a torna
"muito sensível" a choques.
Críticas à educação
Em seu "Relatório sobre Desenvolvimento Mundial" divulgado ontem, o Banco Mundial
fez críticas diretas à qualidade
da educação básica no Brasil.
O relatório diz que, embora o
Brasil tenha fundos "suficientes" em nível federal, eles acabam "fragmentados por uma
coordenação pobre, especialmente quando os serviços são
prestados por mais de um nível
de governo". No Brasil, a educação primária cabe aos municípios. A secundária, aos Estados.
"No Brasil, apenas 60% dos
jovens na faixa dos 15 anos estão na sétima série ou em níveis
mais elevados. Esse percentual
baixo reflete em parte o fracasso do ensino primário e secundário em oferecer habilidades
básicas necessárias ao trabalho", afirma o relatório do Banco Mundial.
"Ele também reflete o nível
de desigualdade no acesso às
escolas. As diferenças entre as
notas alcançadas entre ricos e
pobres é explicada pela freqüência em escolas diferentes."
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