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País tem de voltar a ser competitivo, diz dirigente da Anfavea
Para executivo, altas taxas de juros e custos crescentes são entrave à atração de investimentos por montadoras do país
Entidade deve entregar a novo governo documento
com propostas que incluem corte de gastos públicos e
reformas necessárias ao país
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os recordes registrados pelas
montadoras não são suficientes para garantir investimentos
para o Brasil, diz a Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores).
O setor, hoje em foco pela crise
da Volkswagen, prepara documento com propostas macroeconômicas a ser encaminhado
ao governo eleito, em 2007,
alertando sobre a necessidade
de o país ser mais competitivo
no cenário internacional.
Segundo Rogelio Golfarb,
presidente da entidade, o texto
falará em corte de despesas de
custeio, reformas da Previdência e trabalhista e até em flexibilização para importações em
alguns segmentos. "O Brasil
precisa crescer mais", diz.
Sobre a situação da Volkswagen, que fechou acordo para demitir 3.600 trabalhadores, o
executivo, que é diretor de assuntos corporativos da Ford,
afirma que o corte de custos é
comum a todas as montadoras
e que a empresa foi uma das
mais afetadas pelo câmbio desfavorável a exportações. Leia
trechos da entrevista.
FOLHA - As vendas internas de carros estão se sustentando a partir de
financiamentos. Mas já se fala em
sinais de esgotamento do crédito.
Existe um limite para esse caminho?
ROGELIO GOLFARB - Você entrou
em uma questão específica, e
eu preciso dar uma visão de
conjunto. Existem alguns pontos de base, que são o desafio do
Brasil daqui para a frente. Conseguimos uma coisa chamada
equilíbrio macroeconômico.
Tivemos grandes sacrifícios ao
longo da nossa história para isso. Temos hoje inflação sob
controle, taxas de juros declinantes, um risco-país em nível
historicamente baixo, uma redução sensível da volatilidade
dos parâmetros da economia,
um superávit fiscal. Mas o Brasil precisa crescer mais. Claro
que a seqüência é exatamente
essa: equilíbrio macroeconômico para começar a trabalhar
uma fase de maior crescimento, sem risco, se não vamos voltar. Se você tiver níveis de crescimento maior, sem risco macroeconômico, muitas dessas
preocupações, como se o crédito vai ou não se extinguir, vão
embora. Uma das preocupações para o país crescer mais é
aumentar a taxa de investimento. Aí tem a questão do
ajuste fiscal, que é o ponto de
partida. Tem que trabalhar as
despesas de custeio do governo
e a Previdência, que é um dos
grandes problemas da dívida
interna brasileira. A reforma
trabalhista também é importante. Se fizermos isso, a redução de custos permitirá que o
governo tenha mais dinheiro
para investir e que ele possa reduzir a carga tributária do setor
privado para que este possa
crescer. Esse é o caminho. Temos também que fazer o alerta
da questão competitiva. É preciso atacar a competitividade
brasileira como questão fundamental. Os nossos custos, que
eram vantajosos no passado, há
oito, dez anos, se nivelaram hoje aos padrões internacionais.
Plásticos, por exemplo, aço,
metais não-ferrosos, como alumínio, eram vantagens competitivas para o Brasil e hoje não
são mais. Estão nivelados com
os preços mundiais. A taxa real
de juros hoje é de 9,4% ao ano.
A da Turquia é 5,1%, na Coréia
do Sul, nosso grande competidor, é 2,8%. Portanto, isso me
onera. Continuo com meus
custos logísticos altos, continuo com a minha taxa de juros
acima dos meus competidores,
com a carga tributária alta, que
meus competidores não têm.
FOLHA - Mesmo assim, estamos
vendo neste ano o setor apresentar
números recordes. Esses resultados
não são suficientes para atrair investimentos para o Brasil?
GOLFARB - Estamos vendo de
2003 a 2005 um crescimento
muito com base no mercado
externo. Os recordes não são de
mercado interno. Agora estamos declinando no mercado
externo e crescendo no mercado interno. Mas ainda não voltamos aos níveis de 1997 para o
mercado interno, os recordes
são resultado de produção por
causa da combinação dos dois,
mas as exportações começaram a cair. A verdade é que, para o tamanho da economia brasileira e para os níveis de competitividade, a resposta para
você é não. O investidor olha o
filme que ele acha que vai acontecer ao longo do tempo.
FOLHA - Essas necessidades apontadas pelo sr. serão levadas ao governo em 2007? Ou já foram levadas
aos candidatos à Presidência?
GOLFARB - Não levamos aos
candidatos. O governo que assumir vai receber um documento da Anfavea que tem uma
visão macro e uma visão de setor. E elas precisam estar concatenadas, não é possível a gente chegar e dizer: quero crescer,
me reduz imposto, me faz uma
medida emergencial. Estamos
em uma fase em que temos que
ter uma visão estrutural.
FOLHA - A Anfavea não revisou as
expectativas para este ano, apesar
de o PIB ter vindo abaixo do esperado. Mas o que se espera para 2007,
lembrando que as exportações não
irão contrabalancear o jogo?
GOLFARB - O PIB do terceiro
trimestre vai vir acima, eu
acho. Precisamos ter cuidado
ao analisar o PIB, acredito que
devemos olhar muito mais a
tendência do que o número.
Quando olho a queda da taxa de
juros que está acontecendo, e
pelo nível de inflação baixa, eu
acho que nós vamos ter patamares de crescimento maiores.
As grandes quedas nas taxas de
juros que estamos vendo agora
vamos colher daqui a sete meses, lá na frente. A queda da taxa de juros aqui dá pico de crescimento do PIB lá na frente.
FOLHA - Os números do setor são
bons, mas vemos a Volkswagen,
que chegou a falar em fechar a unidade de São Bernardo. Por que essas
situações tão díspares?
GOLFARB - Existem coisas que
transparecem publicamente
quando você tem um fato mais
forte, como esse da Volkswagen. Posso garantir que todas as
empresas estão fazendo um esforço gigantesco para reduzir
custos: desperdício, melhoria
da produtividade interna, das
eficiências. Por quê? Porque
33% da produção está dedicada
à exportação. Isso é a média da
indústria. Se você pegar os cinco grandes produtores de veículos do Brasil, eles rodam acima de 40%. Na briga por competitividade há empresas que
têm necessidades maiores do
que as outras. É o que estamos
vendo com a Volkswagen. Ajustes todo mundo está fazendo.
Algumas montadoras têm ajustes na mão-de-obra, mas outras
têm ajustes silenciosos. Na minha empresa [Ford], há uma
guerra violenta contra custos,
todos os tipos de custo, como
quanto é gasto em papel, celular, conta telefônica etc.
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