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Greenspan sugere cautela no corte dos juros
Ex-presidente do Fed alerta para riscos de inflação e avalia que crise imobiliária pode afetar desempenho da economia dos EUA
Segundo ele, o banco central americano, que decide amanhã sobre juros, deve ter cuidado com a ameaça de "ressurgimento" da inflação
Scott Olson - 31.jan.06/France Presse
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Imagem de Alan Greenspan em telão da Bolsa de Chicago |
DO "FINANCIAL TIMES"
Às vésperas da reunião do
Fomc (comitê de política monetária do Fed -o banco central americano), o ex-presidente do Fed Alan Greenspan, 81,
disse que seus sucessores devem ser cautelosos para não diminuir as taxas de juros muito
agressivamente, pois o risco do
"ressurgimento da inflação" é
maior agora do que quando ele
ocupava o cargo (1987-2006).
Os preços das casas americanas estão prestes a cair significativamente em comparação
com os níveis atuais, disse ao
"Financial Times", admitindo
que havia uma "bolha" no mercado imobiliário americano.
Em uma entrevista concedida antes do lançamento de seu
livro de memórias, "A Era da
Turbulência", que chega hoje
às livrarias, o ex-presidente do
banco central dos EUA disse
que a queda nos preços das casas "será muito maior do que a
maioria das pessoas esperava".
Greenspan afirmou ainda que
não ficaria surpreso se essa
queda no valor dos imóveis ficasse em "dois dígitos".
Para o ex-presidente do Fed,
os preços das casas provavelmente já estão cerca de 2% a
3% menores com relação ao pico em nível nacional. Entretanto, ele ressalva que é muito difícil prever qual será a extensão
das últimas perdas.
Enquanto presidiu o Fed,
Greenspan falou sobre "espumas" no mercado imobiliário,
mas nunca afirmou que havia
uma "bolha" no setor como um
todo. Já seu sucessor, Ben Bernanke, também vem evitando
usar a palavra "bolha".
Porém, Greenspan disse ao
"Financial Times" que aquela
"espuma era um eufemismo
para a bolha". Ele disse que ainda considera que a "espuma"
-coleção de "bolhas"- era
uma descrição melhor por causa da variação na apreciação
dos preços das casas em diferentes locais do mercado imobiliário. Porém afirmou que
"todas as bolhas das espumas
se transformam em uma grande bolha". Para ele, o atual tumulto nos mercados financeiros mundiais foi um "acidente
esperando para acontecer".
O ex-Fed, hoje consultor,
disse ainda que os CDOs (Obrigação Colateralizada de Dívida,
na sigla em inglês) -papéis que
fatiam o crédito imobiliário já
securitizado (transformado em
recebíveis) em vários níveis de
risco e o oferecem como opção
de aplicação financeira de alto
retorno para o investidor-
nunca mais voltarão aos níveis
e estruturas em que estavam
porque agora todos sabem que
não podem estabelecer preço
para eles.
E ele completou que no criativo mercado financeiro "sempre haverá produtos que vão
dar errado". No entanto, disse
acreditar que os instrumentos
de troca de crédito em atraso
"estão aqui para ficar" e demonstraram sua capacidade de
diversificar o risco.
Ele explica que houve um
descompasso entre o patrimônio das instituições que ofereciam crédito na praça e suas garantias. E elas deram sinais de
que algo estava errado. Um deles foi o preço do risco tomado
pelos investidores, que atingiu
níveis insustentavelmente baixos às vésperas da crise. Investidores "viciados" procuravam
papéis com ganhos superiores
aos dos títulos do Tesouro como se fossem "cocaína", afirmou Greenspan.
Outro efeito foi o aumento
da demanda por financiamentos imobiliários. Com dinheiro
sobrando, muitas instituições
passaram a liberar crédito para
clientes que não tinham bom
histórico de pagamento. A inadimplência nesse segmento
agravou a situação.
Republicano "a vida toda",
Greenspan critica seu partido
por "abandonar" os princípios
de reduzir o papel do governo e
alerta que a relação de troca
entre inflação e crescimento
está prestes a piorar.
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