São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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Greenspan sugere cautela no corte dos juros

Ex-presidente do Fed alerta para riscos de inflação e avalia que crise imobiliária pode afetar desempenho da economia dos EUA

Segundo ele, o banco central americano, que decide amanhã sobre juros, deve ter cuidado com a ameaça de "ressurgimento" da inflação

Scott Olson - 31.jan.06/France Presse
Imagem de Alan Greenspan em telão da Bolsa de Chicago


DO "FINANCIAL TIMES"

Às vésperas da reunião do Fomc (comitê de política monetária do Fed -o banco central americano), o ex-presidente do Fed Alan Greenspan, 81, disse que seus sucessores devem ser cautelosos para não diminuir as taxas de juros muito agressivamente, pois o risco do "ressurgimento da inflação" é maior agora do que quando ele ocupava o cargo (1987-2006).
Os preços das casas americanas estão prestes a cair significativamente em comparação com os níveis atuais, disse ao "Financial Times", admitindo que havia uma "bolha" no mercado imobiliário americano.
Em uma entrevista concedida antes do lançamento de seu livro de memórias, "A Era da Turbulência", que chega hoje às livrarias, o ex-presidente do banco central dos EUA disse que a queda nos preços das casas "será muito maior do que a maioria das pessoas esperava". Greenspan afirmou ainda que não ficaria surpreso se essa queda no valor dos imóveis ficasse em "dois dígitos".
Para o ex-presidente do Fed, os preços das casas provavelmente já estão cerca de 2% a 3% menores com relação ao pico em nível nacional. Entretanto, ele ressalva que é muito difícil prever qual será a extensão das últimas perdas.
Enquanto presidiu o Fed, Greenspan falou sobre "espumas" no mercado imobiliário, mas nunca afirmou que havia uma "bolha" no setor como um todo. Já seu sucessor, Ben Bernanke, também vem evitando usar a palavra "bolha".
Porém, Greenspan disse ao "Financial Times" que aquela "espuma era um eufemismo para a bolha". Ele disse que ainda considera que a "espuma" -coleção de "bolhas"- era uma descrição melhor por causa da variação na apreciação dos preços das casas em diferentes locais do mercado imobiliário. Porém afirmou que "todas as bolhas das espumas se transformam em uma grande bolha". Para ele, o atual tumulto nos mercados financeiros mundiais foi um "acidente esperando para acontecer".
O ex-Fed, hoje consultor, disse ainda que os CDOs (Obrigação Colateralizada de Dívida, na sigla em inglês) -papéis que fatiam o crédito imobiliário já securitizado (transformado em recebíveis) em vários níveis de risco e o oferecem como opção de aplicação financeira de alto retorno para o investidor- nunca mais voltarão aos níveis e estruturas em que estavam porque agora todos sabem que não podem estabelecer preço para eles.
E ele completou que no criativo mercado financeiro "sempre haverá produtos que vão dar errado". No entanto, disse acreditar que os instrumentos de troca de crédito em atraso "estão aqui para ficar" e demonstraram sua capacidade de diversificar o risco.
Ele explica que houve um descompasso entre o patrimônio das instituições que ofereciam crédito na praça e suas garantias. E elas deram sinais de que algo estava errado. Um deles foi o preço do risco tomado pelos investidores, que atingiu níveis insustentavelmente baixos às vésperas da crise. Investidores "viciados" procuravam papéis com ganhos superiores aos dos títulos do Tesouro como se fossem "cocaína", afirmou Greenspan.
Outro efeito foi o aumento da demanda por financiamentos imobiliários. Com dinheiro sobrando, muitas instituições passaram a liberar crédito para clientes que não tinham bom histórico de pagamento. A inadimplência nesse segmento agravou a situação.
Republicano "a vida toda", Greenspan critica seu partido por "abandonar" os princípios de reduzir o papel do governo e alerta que a relação de troca entre inflação e crescimento está prestes a piorar.

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