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Apesar da crise, Fed mantém os juros
BC norte-americano não altera taxa básica da economia, mas deixa janela aberta para ações de emergência nos juros
Bolsa de Nova York fecha
em alta com primeiros
relatos de que governo
sairia em socorro à
seguradora AIG
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em meio a uma das crises
mais graves a solapar a maior
economia mundial, o Federal
Reserve, o Fed, o banco central
dos EUA, decidiu manter sua
taxa básica de juros inalterada,
em 2%. Contrariou, assim, expectativas de parte do mercado,
que esperava um corte de pelo
menos 0,25 ponto percentual.
Ao justificar a decisão, a primeira unânime em um ano e a
terceira a deixar intocada a taxa, o Comitê Federal de Open
Market cita preocupações com
a queda do crescimento econômico, o aperto no crédito e a alta da inflação. Deixa aberta ainda a janela para ações de emergência mesmo antes da próxima reunião, prevista para os
dias 28 e 29 de outubro.
"O comitê irá monitorar cuidadosamente os desenvolvimentos econômico e financeiro
e agirá conforme o necessário
para promover crescimento
econômico sustentável e estabilidade dos preços", diz o texto, assinado pelo presidente,
Ben Bernanke, e dez diretores.
"Tensões nos mercados financeiros aumentaram significativamente, e os mercados de
trabalho se enfraqueceram ainda mais", começa a nota. "O
crescimento econômico aparentemente se desacelerou recentemente, refletindo parcialmente um enfraquecimento
dos gastos domésticos. O aperto nas condições de crédito, a
contração imobiliária em andamento e alguma desaceleração
no crescimento das exportações devem pesar no crescimento econômico durante os
próximos trimestres."
Mais adiante, o comitê cita
preocupações com a alta de
preços, mas aponta para um cenário mais positivo na virada
do ano. "A inflação tem sido alta, estimulada pelos aumentos
anteriores nos preços de energia e de algumas outras commodities. O comitê espera que
a inflação se modere no final
deste ano e no próximo ano,
mas o cenário para a inflação se
mantém altamente incerto."
O anúncio da decisão do Fed
chega horas depois de um dos
piores dias dos mercados globais desde o ataque de 11 de setembro de 2001. Foi recebido
com ceticismo pela Bolsa de
Nova York, que caía 150 pontos
na hora em que vinha a público.
Aos poucos, porém, embalada por rumores vindos de outra
reunião do BC americano, a
portas fechadas em Nova York,
o pregão se recuperou e fechou
em alta. Diretores do Fed e pessoas ligadas ao Tesouro dos
EUA e o governo do Estado de
Nova York acertavam na tarde
de ontem um pacote de ajuda à
seguradora AIG, que deve dar
novo fôlego hoje aos mercados.
O índice industrial Dow Jones fechou em alta de 1,3%, de
141,51 pontos, acima da barreira dos 11 mil, num dia em que
perdas que chegavam a até cem
pontos foram recuperadas por
duas vezes. A montanha-russa
dos índices retrata a instabilidade por que passa a economia
norte-americana, causada pelo
desconhecimento do tamanho
real da crise e sua duração.
"Esse é um mercado que não
está olhando para os fundamentos [econômicos]", disse
Quincy Krosby, estrategista-chefe de investimento do fundo
Hartford, de Connecticut, que
gerencia US$ 380 bilhões. "Sobe e desce baseado em rumores
e manchetes e está se divorciando temporariamente da
análise dos fundamentos."
"Essa administração deveria
ter agido antes e de maneira
mais agressiva", disse à Folha
Larry Summers, ex-secretário
do Tesouro (1999-2001) do governo de Bill Clinton, durante
teleconferência ontem.
"O pacote de estímulo fiscal
deveria ter sido mais agressivo,
a via da diplomacia econômica
internacional poderia ter sido
usada antes de maneira a haver
um descolamento mais amplo
dos outros países e, mais importante, se não estivéssemos
no déficit orçamentário em
que estamos, salvar os bancos
de investimento não seria tarefa tão difícil como está sendo
na atual situação", afirmou ele.
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