São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Apesar da crise, Fed mantém os juros

BC norte-americano não altera taxa básica da economia, mas deixa janela aberta para ações de emergência nos juros

Bolsa de Nova York fecha em alta com primeiros relatos de que governo sairia em socorro à seguradora AIG

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em meio a uma das crises mais graves a solapar a maior economia mundial, o Federal Reserve, o Fed, o banco central dos EUA, decidiu manter sua taxa básica de juros inalterada, em 2%. Contrariou, assim, expectativas de parte do mercado, que esperava um corte de pelo menos 0,25 ponto percentual.
Ao justificar a decisão, a primeira unânime em um ano e a terceira a deixar intocada a taxa, o Comitê Federal de Open Market cita preocupações com a queda do crescimento econômico, o aperto no crédito e a alta da inflação. Deixa aberta ainda a janela para ações de emergência mesmo antes da próxima reunião, prevista para os dias 28 e 29 de outubro.
"O comitê irá monitorar cuidadosamente os desenvolvimentos econômico e financeiro e agirá conforme o necessário para promover crescimento econômico sustentável e estabilidade dos preços", diz o texto, assinado pelo presidente, Ben Bernanke, e dez diretores.
"Tensões nos mercados financeiros aumentaram significativamente, e os mercados de trabalho se enfraqueceram ainda mais", começa a nota. "O crescimento econômico aparentemente se desacelerou recentemente, refletindo parcialmente um enfraquecimento dos gastos domésticos. O aperto nas condições de crédito, a contração imobiliária em andamento e alguma desaceleração no crescimento das exportações devem pesar no crescimento econômico durante os próximos trimestres."
Mais adiante, o comitê cita preocupações com a alta de preços, mas aponta para um cenário mais positivo na virada do ano. "A inflação tem sido alta, estimulada pelos aumentos anteriores nos preços de energia e de algumas outras commodities. O comitê espera que a inflação se modere no final deste ano e no próximo ano, mas o cenário para a inflação se mantém altamente incerto."
O anúncio da decisão do Fed chega horas depois de um dos piores dias dos mercados globais desde o ataque de 11 de setembro de 2001. Foi recebido com ceticismo pela Bolsa de Nova York, que caía 150 pontos na hora em que vinha a público.
Aos poucos, porém, embalada por rumores vindos de outra reunião do BC americano, a portas fechadas em Nova York, o pregão se recuperou e fechou em alta. Diretores do Fed e pessoas ligadas ao Tesouro dos EUA e o governo do Estado de Nova York acertavam na tarde de ontem um pacote de ajuda à seguradora AIG, que deve dar novo fôlego hoje aos mercados.
O índice industrial Dow Jones fechou em alta de 1,3%, de 141,51 pontos, acima da barreira dos 11 mil, num dia em que perdas que chegavam a até cem pontos foram recuperadas por duas vezes. A montanha-russa dos índices retrata a instabilidade por que passa a economia norte-americana, causada pelo desconhecimento do tamanho real da crise e sua duração.
"Esse é um mercado que não está olhando para os fundamentos [econômicos]", disse Quincy Krosby, estrategista-chefe de investimento do fundo Hartford, de Connecticut, que gerencia US$ 380 bilhões. "Sobe e desce baseado em rumores e manchetes e está se divorciando temporariamente da análise dos fundamentos."
"Essa administração deveria ter agido antes e de maneira mais agressiva", disse à Folha Larry Summers, ex-secretário do Tesouro (1999-2001) do governo de Bill Clinton, durante teleconferência ontem.
"O pacote de estímulo fiscal deveria ter sido mais agressivo, a via da diplomacia econômica internacional poderia ter sido usada antes de maneira a haver um descolamento mais amplo dos outros países e, mais importante, se não estivéssemos no déficit orçamentário em que estamos, salvar os bancos de investimento não seria tarefa tão difícil como está sendo na atual situação", afirmou ele.


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