São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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BNDES deverá ser a principal fonte de financiamento

Com crédito mais escasso e caro, governo deve reforçar papel do banco, segundo representantes do setor industrial

Já se negocia o aumento dos repasses do FAT e do Tesouro Nacional para financiar planos das indústrias brasileiras

DA REPORTAGEM LOCAL

O BNDES deverá ser a principal fonte de financiamento das indústrias brasileiras -com a escassez e o encarecimento de crédito externo- em decorrência da crise do setor bancário nos EUA, na avaliação de representantes do setor industrial.
E o BNDES já negocia com o governo o aumento dos repasses do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e do Tesouro Nacional para dar conta de financiar planos de investimentos das indústrias brasileiras.
Fernando Puga, chefe do departamento de Análises Econômicas do BNDES, diz que o banco será o "colchão" que garantirá o investimento de longo prazo das empresas, especialmente agora com a crise mais intensa nos EUA. Neste ano, o banco quer aprovar financiamentos de R$ 84 bilhões.
O sistema bancário doméstico está intacto "e o governo brasileiro deve reforçar neste momento o papel do BNDES, já que muitas empresas não terão alternativas de crédito lá fora", afirma Júlio Gomes de Almeida, assessor econômico do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Na sua avaliação, se a crise nos Estados Unidos se agravar, o que ele acredita que deve acontecer, investimentos de empresas brasileiras no exterior poderão até ser revistos.
Armando Monteiro, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), diz que a crise preocupa. "Já havia um movimento de turbulência e essa percepção ficou agora mais evidente. Vamos passar por um momento de contração de crédito no mundo e isso vai afetar os investimentos. Não sentimos esse efeito, mas virá."
Para Jackson Schneider, presidente da Anfavea, associação das montadoras de veículos, é cedo para fazer avaliação sobre o impacto da crise no Brasil.
"O Brasil não está fora de sentir os efeitos da crise e é fundamental que o país acompanhe de perto quais as conseqüências que poderá ter na economia brasileira. Neste ano, nada muda. Agora, no ano que vem, dependendo da extensão da crise, poderemos crescer menos do que o previsto."
Na sua avaliação, se cair o custo dos ativos no exterior, é possível até que as empresas brasileiras aproveitem essa oportunidade para crescer no mercado internacional.
Benjamin Steinbruch, presidente da CSN, afirma que a conjuntura econômica favorece o crescimento do Brasil, que está com as contas em dia em um contexto de crise mundial.
"Tanto as empresas brasileiras quanto o sistema financeiro e o país como um todo estão em posição diferenciada." No 5º Fórum de Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Steinbruch defendeu o aumento da oferta de crédito pelo governo como forma de sustentar o consumo interno e garantir o crescimento econômico.
O presidente do conselho do grupo Ultra, Paulo Cunha, acredita que a crise internacional vá provocar redução no ritmo de crescimento do grupo.
"Nós temos andado depressa. Faturamos R$ 5 bilhões em 2005 e devemos faturar R$ 25 bilhões neste ano." Para ele, o momento não é favorável à realização de investimentos.
Para Sérgio Watanabe, presidente do Sinduscon SP, a eventual escassez de crédito que possa ocorrer no mercado internacional pode ser um problema para o setor. "Essa crise de liquidez vai afetar o mercado da construção civil não neste ano, mas, sim, no ano que vem."
(AGNALDO BRITO, FÁTIMA FERNANDES e MARINA GAZZONI)

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