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Fusão preocupa produtores e rivais menores
Criadores dizem temer que maior concentração acabe com opções de negócio e derrube mais o preço da arroba do boi
Frigoríficos pedem "análise séria" pelo Cade para que se mantenham condições de competitividade e equilíbrio no mercado interno do país
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
ESTELITA HASS CARAZZAI
DA AGÊNCIA FOLHA
O anúncio da fusão entre
JBS-Friboi e Bertin, dois gigantes do setor de carnes do Brasil,
trouxe preocupação a produtores e pequenos frigoríficos. A
concentração do setor é vista
com apreensão no segmento.
Os produtores pedem que o
Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) analise os efeitos sobre o mercado
interno de carne bovina antes
da aprovação da fusão.
""Vemos o surgimento de um
oligopólio com características
de monopólio, o que desequilibra ainda mais a relação entre
produtores e indústria, que já
não é equilibrada", afirma Alexandre Kireeff, presidente da
Sociedade Rural do Paraná.
A falta de organização dos
produtores, que negociam individualmente suas vendas, é
apontada por José Antônio
Pontes, presidente da ANPBC
(Associação Nacional dos Produtores de Bovinos de Corte),
como um dos principais fatores
de apreensão com o negócio.
Em Mato Grosso, a fusão pode fazer com que a nova holding seja responsável por 50%
do abate no Estado, diz Eduardo Alves Ferreira Neto, tesoureiro da Famato (federação da
agricultura e da pecuária do Estado). Segundo ele, essa concentração "acaba com as opções de comercialização por
parte dos pecuaristas".
"O fazendeiro, que já está
num momento difícil por conta
da cotação da arroba e da dificuldade de abater o gado, tem
que ficar mais atento ainda para evitar o controle do preço do
boi por parte de poucas indústrias", diz o presidente da Associação dos Criadores de Mato
Grosso, Mário Figueiredo.
O presidente da Abrafrigo
(Associação Brasileira de Frigoríficos), Péricles Salazar, pede uma análise séria do Cade,
para que se mantenham as condições de competitividade e
equilíbrio no mercado interno
do setor de carnes.
"Essa junção vai trazer um
impacto violento no mercado e
vai atingir as duas pontas da cadeia, com prejuízos para produtores e para consumidores."
A notícia também é recebida
com apreensão pelas entidades
nacionais que representam os
produtores. "Tem o lado bom,
que é o fortalecimento da indústria, o que, em tese, beneficia o produtor. Mas há a possibilidade de a empresa mandar
no mercado, ditar normas, manusear preço", afirma o presidente da comissão de pecuária
de corte da CNA (Confederação
da Agricultura e Pecuária do
Brasil), Antenor Nogueira.
A preocupação da Sociedade
Rural Brasileira é semelhante.
"Com estruturas grandiosas,
você ganha em custos, consegue penetrar nos mercados e,
teoricamente, tem chance de
vender mais e melhor o produto. Mas, se não for uma empresa do bem, ela poderá manipular o mercado com o seu poder
de compra", diz o presidente
Cesário Ramalho da Silva.
No Rio Grande do Sul, longe
da concorrência com a nova
holding (os dois grupos não
têm unidades no Estado), os
pecuaristas são vozes discordantes sobre a fusão.
Carlos Sperotto, presidente
da Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), disse serem "normais", após a crise, as fusões de
grandes corporações, como já
ocorreu com Sadia e Perdigão.
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