São Paulo, quinta-feira, 17 de setembro de 2009

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Fusão preocupa produtores e rivais menores

Criadores dizem temer que maior concentração acabe com opções de negócio e derrube mais o preço da arroba do boi

Frigoríficos pedem "análise séria" pelo Cade para que se mantenham condições de competitividade e equilíbrio no mercado interno do país

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

ESTELITA HASS CARAZZAI
DA AGÊNCIA FOLHA

O anúncio da fusão entre JBS-Friboi e Bertin, dois gigantes do setor de carnes do Brasil, trouxe preocupação a produtores e pequenos frigoríficos. A concentração do setor é vista com apreensão no segmento.
Os produtores pedem que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) analise os efeitos sobre o mercado interno de carne bovina antes da aprovação da fusão.
""Vemos o surgimento de um oligopólio com características de monopólio, o que desequilibra ainda mais a relação entre produtores e indústria, que já não é equilibrada", afirma Alexandre Kireeff, presidente da Sociedade Rural do Paraná.
A falta de organização dos produtores, que negociam individualmente suas vendas, é apontada por José Antônio Pontes, presidente da ANPBC (Associação Nacional dos Produtores de Bovinos de Corte), como um dos principais fatores de apreensão com o negócio.
Em Mato Grosso, a fusão pode fazer com que a nova holding seja responsável por 50% do abate no Estado, diz Eduardo Alves Ferreira Neto, tesoureiro da Famato (federação da agricultura e da pecuária do Estado). Segundo ele, essa concentração "acaba com as opções de comercialização por parte dos pecuaristas".
"O fazendeiro, que já está num momento difícil por conta da cotação da arroba e da dificuldade de abater o gado, tem que ficar mais atento ainda para evitar o controle do preço do boi por parte de poucas indústrias", diz o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso, Mário Figueiredo.
O presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), Péricles Salazar, pede uma análise séria do Cade, para que se mantenham as condições de competitividade e equilíbrio no mercado interno do setor de carnes.
"Essa junção vai trazer um impacto violento no mercado e vai atingir as duas pontas da cadeia, com prejuízos para produtores e para consumidores."
A notícia também é recebida com apreensão pelas entidades nacionais que representam os produtores. "Tem o lado bom, que é o fortalecimento da indústria, o que, em tese, beneficia o produtor. Mas há a possibilidade de a empresa mandar no mercado, ditar normas, manusear preço", afirma o presidente da comissão de pecuária de corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Antenor Nogueira.
A preocupação da Sociedade Rural Brasileira é semelhante. "Com estruturas grandiosas, você ganha em custos, consegue penetrar nos mercados e, teoricamente, tem chance de vender mais e melhor o produto. Mas, se não for uma empresa do bem, ela poderá manipular o mercado com o seu poder de compra", diz o presidente Cesário Ramalho da Silva.
No Rio Grande do Sul, longe da concorrência com a nova holding (os dois grupos não têm unidades no Estado), os pecuaristas são vozes discordantes sobre a fusão.
Carlos Sperotto, presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), disse serem "normais", após a crise, as fusões de grandes corporações, como já ocorreu com Sadia e Perdigão.


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