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ÚLTIMOS CARTUCHOS
Inflação vai superar os 5% em 2003, diz ata do Copom
BC elevou juros por prever turbulências na transição
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central informou que,
diante do aumento no grau de incerteza dos últimos meses, ficou
mais difícil se concretizar o cenário de transição para o próximo
governo "sem turbulências exageradas ou prolongadas" com o
qual trabalhava. Isso levou o BC a
elevar os juros para controlar a inflação de 2003.
Esse aumento no grau de incertezas explica, segundo o BC, a recente disparada do dólar, que, por
sua vez, leva a reajustes nos preços. Essa situação fez o BC rever
para cima a estimativa de inflação
para o próximo ano, que deve ultrapassar 5%.
Todo esse cenário fez com que
na última segunda-feira o Copom
(Comitê de Política Monetária do
BC) realizasse reunião em caráter
extraordinário para aumentar a
taxa Selic, que passou de 18% para
21% ao ano. Há duas semanas, a
instituição projetava uma inflação de 4,5% para o ano que vem.
Desde a criação do Copom, apenas em duas outras ocasiões foram convocadas reuniões extraordinárias, durante as crises
asiática (1997) e russa (1998).
Ontem, o BC divulgou a ata da
reunião, que expõe os motivos
que levaram ao aumento dos juros. Segundo o documento, "o
Copom vinha baseando suas projeções em um cenário básico no
qual a transição para o futuro governo ocorreria sem turbulências
exageradas ou prolongadas. O aumento do grau de incerteza observado nos últimos meses tem diminuído a probabilidade de concretização desse cenário".
Na semana passada, o presidente do BC, Armínio Fraga, já havia
afirmado, durante entrevista coletiva, que um dos caminhos para o
Brasil superar a atual crise seria
fazer com que os presidenciáveis
explicitassem melhor suas propostas na área econômica. As declarações foram entendidas como
uma crítica ao candidato Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) e, consequentemente, como um apoio
implícito a José Serra (PSDB).
O "cenário básico", traçado pelo
BC na reunião do Copom do mês
passado, estimava que a cotação
do dólar se estabilizaria em R$
3,20. Esse cenário não menciona
qual poderia ser o novo governo.
Desde então, o dólar se situou
próximo de R$ 3,90. Diante disso,
a "projeção para a inflação [...] aumentou significativamente".
Segundo o documento, a inflação de 2003 deve ficar "acima da
meta ajustada" para o período.
Oficialmente, a meta do governo
para 2003 é de 4% -com margem de tolerância de 2,5 pontos
para cima ou para baixo.
O BC já informou, porém, que
por causa dos choques sofridos
pela economia, a inflação dificilmente ficaria abaixo de 5%: esse é
o valor da "meta ajustada", ou seja, os juros seriam calibrados para
manter a inflação próxima desse
número, mas que esperava inflação de 4,5%. Em tese, juros elevados desestimulam o consumo e
dificultam o repasse da alta do dólar aos preços.
Sobre os motivos que levaram à
convocação de uma reunião extraordinária, o BC diz que, com isso, "o Copom teve como objetivo
não adiar decisões que transparecem como naturais ao Banco
Central, comprometido com as
metas de inflação, em um cenário
econômico mais adverso".
Também na ata da reunião extraordinária do Copom, o BC negou que tenha elevado os juros
numa tentativa de frear a alta do
dólar. "A política monetária continua sendo calibrada exclusivamente para que a inflação se situe
dentro da trajetória de suas metas, não visando determinar um
nível para a taxa de câmbio", diz o
documento.
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