São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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ÚLTIMOS CARTUCHOS

Inflação vai superar os 5% em 2003, diz ata do Copom

BC elevou juros por prever turbulências na transição

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central informou que, diante do aumento no grau de incerteza dos últimos meses, ficou mais difícil se concretizar o cenário de transição para o próximo governo "sem turbulências exageradas ou prolongadas" com o qual trabalhava. Isso levou o BC a elevar os juros para controlar a inflação de 2003.
Esse aumento no grau de incertezas explica, segundo o BC, a recente disparada do dólar, que, por sua vez, leva a reajustes nos preços. Essa situação fez o BC rever para cima a estimativa de inflação para o próximo ano, que deve ultrapassar 5%.
Todo esse cenário fez com que na última segunda-feira o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) realizasse reunião em caráter extraordinário para aumentar a taxa Selic, que passou de 18% para 21% ao ano. Há duas semanas, a instituição projetava uma inflação de 4,5% para o ano que vem.
Desde a criação do Copom, apenas em duas outras ocasiões foram convocadas reuniões extraordinárias, durante as crises asiática (1997) e russa (1998).
Ontem, o BC divulgou a ata da reunião, que expõe os motivos que levaram ao aumento dos juros. Segundo o documento, "o Copom vinha baseando suas projeções em um cenário básico no qual a transição para o futuro governo ocorreria sem turbulências exageradas ou prolongadas. O aumento do grau de incerteza observado nos últimos meses tem diminuído a probabilidade de concretização desse cenário".
Na semana passada, o presidente do BC, Armínio Fraga, já havia afirmado, durante entrevista coletiva, que um dos caminhos para o Brasil superar a atual crise seria fazer com que os presidenciáveis explicitassem melhor suas propostas na área econômica. As declarações foram entendidas como uma crítica ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, consequentemente, como um apoio implícito a José Serra (PSDB).
O "cenário básico", traçado pelo BC na reunião do Copom do mês passado, estimava que a cotação do dólar se estabilizaria em R$ 3,20. Esse cenário não menciona qual poderia ser o novo governo. Desde então, o dólar se situou próximo de R$ 3,90. Diante disso, a "projeção para a inflação [...] aumentou significativamente".
Segundo o documento, a inflação de 2003 deve ficar "acima da meta ajustada" para o período. Oficialmente, a meta do governo para 2003 é de 4% -com margem de tolerância de 2,5 pontos para cima ou para baixo.
O BC já informou, porém, que por causa dos choques sofridos pela economia, a inflação dificilmente ficaria abaixo de 5%: esse é o valor da "meta ajustada", ou seja, os juros seriam calibrados para manter a inflação próxima desse número, mas que esperava inflação de 4,5%. Em tese, juros elevados desestimulam o consumo e dificultam o repasse da alta do dólar aos preços.
Sobre os motivos que levaram à convocação de uma reunião extraordinária, o BC diz que, com isso, "o Copom teve como objetivo não adiar decisões que transparecem como naturais ao Banco Central, comprometido com as metas de inflação, em um cenário econômico mais adverso".
Também na ata da reunião extraordinária do Copom, o BC negou que tenha elevado os juros numa tentativa de frear a alta do dólar. "A política monetária continua sendo calibrada exclusivamente para que a inflação se situe dentro da trajetória de suas metas, não visando determinar um nível para a taxa de câmbio", diz o documento.


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