São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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CRISE NO AR

Companhia ficaria com as linhas internacionais, e as empresas de boa situação financeira, com conexões domésticas

Governo quer criar a nova Varig com ajuda das concorrentes

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O ministro José Dirceu (Casa Civil) e o presidente da Infraero (empresa que administra os aeroportos), Carlos Wilson, se reuniram ontem e decidiram endurecer com a Varig e com a Vasp para preparar o terreno para uma solução conjunta para o setor aéreo em novembro, passado o segundo turno das eleições municipais. "Não dá mais para prestigiar inadimplentes", disse Wilson.
Conforme a Folha apurou, o governo pretende convidar as demais companhias, TAM, Gol, BRA e Ocean Air, que estão em melhores condições financeiras, a participar da Super Varig, nova empresa a ser criada a partir da atual Varig com suporte financeiro do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
Com isso, o governo pretende driblar duas esperadas críticas: 1) ao caráter estatal da nova companhia; 2) à falta de isonomia no tratamento das empresas do setor. As empresas estatais credoras da companhia, como a própria Infraero e a BR Distribuidora, entrariam forçosamente na composição acionária mas junto com as empresas privadas.
A médio prazo, a intenção é abrir o capital da Super Varig na Bolsa de Valores, como a Gol já fez. A nova companhia já nasceria operando as linhas internacionais -que são concessão estatal- combinadas com uma planta de conexões nacionais que incluísse as demais companhias. O passageiro iria e voltaria ao exterior usando a Varig no percurso externo, e voando pela Gol, a TAM, a BRA ou a Ocean Air internamente.
O governo já começa a criar as condições para a operação, que envolve complexas decisões jurídicas e técnicas. Esse é um dos motivos para o endurecimento com a Varig e com a Vasp.

Proposta rejeitada
Segundo Carlos Wilson, que não quis falar sobre a nova formatação do setor aéreo, a Infraero rejeitou oficialmente ontem a proposta da Vasp de quitar uma dívida de R$ 11,6 milhões em seis meses a partir de dezembro.
"Exigimos a quitação dentro do exercício de 2004", disse ele, resumindo a resposta oficial à companhia de Wagner Canhedo. Ou seja, o pagamento teria de ser feito entre outubro e dezembro.
Quanto à Varig, que deve R$ 110 milhões à Infraero, Wilson disse que ela tem de apresentar uma proposta de quitação desse débito até outubro. "A partir de primeiro de novembro, a Varig só voa se pagar antecipadamente a taxa diária de uso dos aeroportos", disse ele à Folha.
A Varig paga cerca de R$ 42 milhões à Infraero por mês, e a Vasp, menos de R$ 2 milhões, por causa da crise e da diminuição de vôos. Antes, as taxas portuárias devidas pelas Vasp ficavam entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões.
"Nosso limite de tolerância é a lei. Não posso expor os membros do conselho de administração e da diretoria executiva da empresa [Infraero] ao risco de serem responsabilizados judicialmente por leniência", acrescentou depois da conversa com Dirceu.
Segundo Wilson, as companhias aéreas "estão ganhando dinheiro", tanto que as demais não têm dívidas com a empresa ou, se têm, como a TAM, as estão quitando em dia. "Quem não está é porque está fazendo caixa", acusou, referindo-se à Varig e à Vasp.


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