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Falta de transparência alimentou crise, afirma FMI
Fundo diz que países emergentes evitaram que os efeitos da turbulência fossem maiores e cita o Brasil como exemplo positivo
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Há dez anos, a seguinte afirmação constaria das prateleiras de ficção, não das de economia: a crise financeira detonada em agosto pela ausência de
liquidez do mercado imobiliário americano foi fruto da falta
de transparência das instituições envolvidas. E economias
emergentes como o Brasil fizeram com que os efeitos da turbulência fossem menores.
O estranhamento fica completo quando se sabe que o autor das constatações é o Fundo
Monetário Internacional, até
outro dia o bedel de tais economias. Essas são duas das principais conclusões da atualização
do relatório sobre estabilidade
financeira global, divulgada ontem pelo FMI como preparativo para o encontro bianual da
instituição com o Banco Mundial, que acontece no fim de semana, em Washington.
O pior da turbulência já passou, disse Jaime Caruana, diretor do Departamento de Mercado de Capitais do Fundo, mas
o período de ajustes ainda levará tempo ("Estamos pensando
em semanas e meses, não
dias"), e alguns retrocessos são
possíveis. Além disso, a crise
iniciada em agosto deve reduzir
o crescimento global, afirmou
-o FMI só divulgará sua nova
previsão na manhã de hoje.
"A falta de transparência em
como tais riscos estavam embutidos em produtos de créditos estruturados criou incerteza sobre avaliações e o tamanho
e a distribuição das perdas potenciais", afirmou Caruana. Para o economista, o efeito do que
chamou de "fator corrosivo" só
não foi pior por conta do equilíbrio dado por economias emergentes, como o Brasil.
"É até um pouco surpreendente, mas nessa situação muitos emergentes têm dado estabilidade para o sistema global",
disse o diretor. "Nesse sentido,
o centro da crise tem permanecido mais nos mercados financeiros mais amadurecidos."
É o oposto do que vinha ocorrendo nas duas últimas décadas, quando se dizia que, se as
economias industrializadas espirravam, as emergentes pegavam um resfriado. Agora, as segundas estão servindo como remédio. "Esses mercados fizeram várias reformas positivas,
como o gerenciamento de suas
dívidas e a redução à exposição
de moeda estrangeira, e o Brasil
é um exemplo bom."
Para evitar crises futuras,
disse Jaime Caruana, é fundamental que haja mais informação à disposição do mercado.
Nesse sentido, ele acredita que
"más notícias são melhores do
que incertezas". Para isso, são
necessários balanços realistas e
que a graduação das agências
de risco deixe de funcionar como avalistas de empresas.
Nas últimas semanas, agências avaliadoras de riscos têm
rebaixado a graduação de empresas atingidas direta ou indiretamente pela falta de liquidez
de mutuários americanos, a
chamada crise do "subprime".
"A metodologia de graduação
de produtos complexos precisa
ser reavaliada", diz ele. Da mesma forma, o uso da graduação
por investidores não pode ser
visto como substituto para pesquisa bem-feita e gerenciamento apropriado de riscos.
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