São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Empresário já sente retração do consumo

A economia real já dá sinais de que a crise internacional chegou ao Brasil. De acordo com o estudo da rede de alavancagem de negócios Integra Global Business Networks, 57% dos empresários perceberam uma redução moderada no ritmo de compra de seus clientes recentemente. A Integra entrevistou cerca de 300 empresários, investidores e executivos entre os dias 10 e 15 deste mês.
Cerca de 7% deles notaram forte diminuição do consumo e 36% disserem que o movimento foi normal. No entanto, ninguém respondeu que houve aumento nas vendas.
Apesar dos sinais negativos, a maioria dos empresários ouvidos mantém as ações planejadas antes do agravamento da turbulência financeira. Mesmo com o cenário de retração leve do consumo, 75% deles disseram que estão agindo conforme seu planejamento -11% revêem investimentos, mas mantêm o pessoal e outros 14% estão enxugando o quadro. Assim, 82% esperam manter ou expandir seus negócios nos próximos 12 meses.
"O que nos surpreendeu nesta pesquisa é que o ambiente de pessimismo não está presente ainda", disse o sócio-diretor da Integra, Francisco Martinez. Para ele, até o momento, a crise abalou mais os setores dependentes de crédito e da importação de matérias-primas e produtos importados.
Apenas 7% dos empresários disseram que estão obtendo financiamentos normalmente. Cerca de 14% admitiram ter dificuldades para emprestar, e 32% encontram crédito disponível, mas com juros mais altos. "É fato. Quem toma crédito está tendo mais dificuldade de captar recursos e pagando mais caro", avalia Martinez.
A valorização do dólar, outra conseqüência imediata da crise, é um aspecto considerado mais negativo do que positivo pelos empresários. De acordo com a pesquisa, 71% deles afirmam que a alta da moeda prejudica seus negócios -contra 29% que se dizem beneficiados.
Porém, para a maioria deles (36%), a crise financeira será de médio prazo, e deve se estender por 12 a 18 meses.

Profissional de investimento tem baixa qualidade de vida, diz estudo

A qualidade de vida dos analistas do mercado de investimentos não anda boa, e deve piorar com os desdobramentos da crise.
Entre os problemas mais comuns estão deficiências visuais, dores na coluna, travamento dos dentes e gastrite, segundo pesquisa realizada pela Apimec SP (associação de analistas e profissionais do mercado de capitais) em parceria com a Unifesp, com profissionais de investimentos e analistas.
O levantamento foi feito em maio e junho e questionou 162 profissionais.
Em geral, os pesquisados tomam algum medicamento.
Para Lucy Sousa, presidente da entidade, os analistas "estão sendo submetidos a pressões e, se a pesquisa fosse feita neste exato momento, o resultado tenderia a ser pior".
Segundo Sousa, os profissionais seniores, em geral mais velhos e com renda mais alta, registram qualidade de vida um pouco superior à dos jovens iniciantes, que são submetidos a cobranças sobre avaliações e prazos de entrega de relatórios sobre companhias abertas.
Sintomas de depressão são mais comuns entre os que possuem cerca de 35 anos. A média de idade entre os pesquisados é de 41 anos, e 75% são homens.

VETERANA

Veterana em crises, a Veuve Clicquot, fundada em 1772, espera sobreviver a esta avalanche na economia mundial. A marca de champanhe trouxe ao Brasil nesta semana Jacques Péters, atual chefe de cave, e Dominique Demarville, que toma o comando em 2009. Para Demarville, "como o ciclo é longo, de 4 a 8 anos da elaboração ao consumo, o efeito da crise é dissolvido". Péters diz que, "como o Brasil é um dos Brics, tem espaço para crescer na marca em meio à crise que afeta o resto do mundo com mais força".

RELEITURA
A crise já fez crescer na Alemanha as vendas da obra "O Capital", de Karl Marx, segundo a agência Ansa. A obra, do século 19, analisa o mercado de produção capitalista. Segundo a editora Karl-Dietz, de Berlim, que publica as obras de Marx e Friedrich Engels em alemão, Marx está na moda. As vendas do primeiro volume da obra triplicaram desde 2005. Para dezembro, a editora espera alta ainda maior na demanda. No fim de setembro, o ministro das finanças alemão, Peer Steinbrueck, afirmou que "algumas partes da teoria marxista não estavam tão erradas".

POR ACASO
A Sadia teria descoberto as perdas com as operações de alto risco no câmbio quase que por acaso. Quando foi sacar R$ 1,2 bilhão do caixa para comprar a Frangosul, o então diretor financeiro da empresa, Adriano Ferreira, barrou o negócio. O dinheiro teria que ser utilizado para cobrir as perdas de R$ 1,8 bilhão com os derivativos de câmbio. A diretoria financeira tinha feito essas operações sem o consentimento do conselho.

BATE-BOLA
A Amway anuncia hoje que sua marca Nutrilite, de suplementos vitamínicos, minerais e alimentícios, será patrocinadora do clube de futebol italiano Milan. A Nutrilite também doará US$ 10 mil à Fundação Milan por cada gol feito por Ronaldinho Gaúcho, jogador do time e garoto-propaganda da empresa.

CRÉDITO
Guido Mantega (Fazenda) se encontra hoje com Fábio Barbosa (Febraban). Na mesa, a reativação do crédito no país.

TIMIDEZ
Os bancos brasileiros começaram a registrar, ainda que de forma tímida, algumas operações de empréstimos mais parrudas.

BEM-SUCEDIDOS
Antônio Ermírio de Moraes, Cauby Peixoto, Eike Batista, Ana Paula Arósio e Luiz Inácio Lula da Silva. Esses são alguns dos 21 brasileiros que relatam lições de vida no livro "Eles me Disseram - Idéias e Valores de 21 Brasileiros de Sucesso", do jornalista Thales Guaracy (editoras Saraiva e Versar, 174 páginas).

PELO BRASIL
"Não faço isso pelo dinheiro. Faço isso pelo Brasil", disse Antônio Ermírio de Moraes ao jornalista, em novembro de 2007. Ele justificava a manutenção de uma pesada rotina de trabalho no grupo Votorantim e no hospital Beneficência Portuguesa mesmo com o lucro bilionário de sua empresa.

ESPÍRITO DE LUTA
"Ficar em primeiro é algo que não depende de nós. Mas temos o dever de ser os melhores", afirmou Abilio Diniz, em 1987, quando a rede de supermercados Pão-de-Açúcar tentava recuperar a liderança do setor, atingida pelo Carrefour. Apaixonado por esporte, tentava passar aos filhos e aos funcionários um "espírito de luta", diz o jornalista.

com JOANA CUNHA, MARINA GAZZONI



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