São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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Bancos renegociam perdas de empresas

Objetivo das instituições financeiras é evitar avalanche de processos na Justiça contestando as operações cambiais

Calcula-se que mais de 200 empresas tenham feito apostas pesadas na valorização do real e agora amargam perdas

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Para aliviar o impacto das perdas das empresas com as operações de alto risco no mercado futuro de câmbio, os bancos brasileiros e estrangeiros deram partida a um processo de renegociação desses débitos. Os bancos devem conceder novos empréstimos em reais e a prazos mais longos.
Muitas empresas no Brasil, calcula-se que mais de 200, fizeram apostas pesadas de altíssimo risco na manutenção do dólar baixo até o final deste ano. Essas apostas foram feitas em sofisticadas operações no mercado de derivativos aqui e fora do país.
Com a crise global, o dólar subiu abruptamente de R$ 1,60 para quase R$ 2,50, e as empresas amargaram elevados prejuízos. Até agora, só três declararam ter tido perdas grandes nessas operações: Sadia (R$ 760 milhões), Aracruz (R$ 1,95 bilhão) e Votorantim (R$ 2,2 bilhões). As perdas totais são estimadas em R$ 40 bilhões. São esses prejuízos que estão sendo renegociados agora.
O objetivo dos bancos, ao renegociar esses débitos, é o de evitar que as empresas entrem com ações na Justiça contestando essas operações.
Nesta semana, o banco Credibel, do grupo Splice, obteve da Justiça liminar para não pagar a variação cambial em contratos fechados com o Itaú BBA. A liminar acendeu a luz amarela nos bancos.
Os bancos pretendem que essa ação do banco Credibel na Justiça seja um caso isolado. Já se discute entre as empresas a idéia de criação de um comitê de credores para negociar de forma conjunta com os bancos.
As discussões entre os bancos e as empresas ainda estão no início, mas já há algumas idéias na mesa. Uma delas é a de converter essas operações em dólar em novos empréstimos em reais a serem pagos em prazos mais longos.
Os bancos brasileiros terão mais facilidade do que os estrangeiros em fechar essas operações. As subsidiárias dos bancos estrangeiros terão que recorrer a outras alternativas mais criativas para renegociar esses débitos.
Esse tipo de renegociação não é novo no Brasil. Em 2002, na crise da primeira eleição do presidente Lula, quando o dólar chegou a R$ 4, muitas empresas endividadas em dólar também viveram o mesmo problema, e os bancos refinanciaram esses débitos.
A situação das empresas que registraram perdas com essas operações preocupa bastante o governo pelo efeito sobre o câmbio. O real foi das moedas que mais se desvalorizaram em relação ao dólar recentemente.
Em meio à crise de confiança, muitas empresas brasileiras, para se desfazerem de suas posições nessas operações de derivativos, correram para adquirir dólar à vista, o que contribuiu para valorizar a moeda.


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