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Bancos renegociam perdas de empresas
Objetivo das instituições financeiras é evitar avalanche de processos na Justiça contestando as operações cambiais
Calcula-se que mais de
200 empresas tenham
feito apostas pesadas na valorização do real e
agora amargam perdas
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Para aliviar o impacto das
perdas das empresas com as
operações de alto risco no mercado futuro de câmbio, os bancos brasileiros e estrangeiros
deram partida a um processo
de renegociação desses débitos.
Os bancos devem conceder novos empréstimos em reais e a
prazos mais longos.
Muitas empresas no Brasil,
calcula-se que mais de 200, fizeram apostas pesadas de altíssimo risco na manutenção do
dólar baixo até o final deste
ano. Essas apostas foram feitas
em sofisticadas operações no
mercado de derivativos aqui e
fora do país.
Com a crise global, o dólar
subiu abruptamente de R$ 1,60
para quase R$ 2,50, e as empresas amargaram elevados prejuízos. Até agora, só três declararam ter tido perdas grandes
nessas operações: Sadia (R$
760 milhões), Aracruz (R$ 1,95
bilhão) e Votorantim (R$ 2,2
bilhões). As perdas totais são
estimadas em R$ 40 bilhões.
São esses prejuízos que estão
sendo renegociados agora.
O objetivo dos bancos, ao renegociar esses débitos, é o de
evitar que as empresas entrem
com ações na Justiça contestando essas operações.
Nesta semana, o banco Credibel, do grupo Splice, obteve
da Justiça liminar para não pagar a variação cambial em contratos fechados com o Itaú
BBA. A liminar acendeu a luz
amarela nos bancos.
Os bancos pretendem que
essa ação do banco Credibel na
Justiça seja um caso isolado. Já
se discute entre as empresas a
idéia de criação de um comitê
de credores para negociar de
forma conjunta com os bancos.
As discussões entre os bancos e as empresas ainda estão
no início, mas já há algumas
idéias na mesa. Uma delas é a
de converter essas operações
em dólar em novos empréstimos em reais a serem pagos em
prazos mais longos.
Os bancos brasileiros terão
mais facilidade do que os estrangeiros em fechar essas operações. As subsidiárias dos
bancos estrangeiros terão que
recorrer a outras alternativas
mais criativas para renegociar
esses débitos.
Esse tipo de renegociação
não é novo no Brasil. Em 2002,
na crise da primeira eleição do
presidente Lula, quando o dólar chegou a R$ 4, muitas empresas endividadas em dólar
também viveram o mesmo problema, e os bancos refinanciaram esses débitos.
A situação das empresas que
registraram perdas com essas
operações preocupa bastante o
governo pelo efeito sobre o
câmbio. O real foi das moedas
que mais se desvalorizaram em
relação ao dólar recentemente.
Em meio à crise de confiança, muitas empresas brasileiras, para se desfazerem de suas
posições nessas operações de
derivativos, correram para adquirir dólar à vista, o que contribuiu para valorizar a moeda.
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