São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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Lula culpa países ricos pela crise e diz que PAC não pára

Presidente ironiza FMI e EUA por permitirem "maior agiotagem que o mundo conheceu'

"Eu não vou parar uma obra que estamos fazendo", afirmou Lula durante visita a Moçambique; ele disse ver a crise com "apreensão"

Pedro Sá da Bandeira/Efe
Lula ao lado do presidente moçambicano, Armando Guebuza, em Maputo; brasileiro elogiou o premiê britânico, Gordon Brown

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A MAPUTO (MOÇAMBIQUE)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou as principais instituições financeiras internacionais, ao dizer que elas foram pegas de surpresa pela crise mundial dos mercados. Apesar de dizer que o Brasil está seguro contra a crise, Lula admitiu, em discurso a empresários brasileiros e moçambicanos em Maputo, "apreensão" com o vaivém das Bolsas.
"Cadê a solidez da economia americana? Cadê o infalível banco central americano [Federal Reserve]? Cadê o infalível FMI? Cadê o infalível Banco Mundial? Cadê o infalível Banco Central Europeu? Será que eles não sabiam que o seu sistema financeiro estava envolvido na maior agiotagem financeira que o mundo conheceu?"
Nos últimos 30 dias, segundo o presidente, seus diálogos com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, têm sido freqüentes. Tudo para não deixar o Brasil ser pego "de calça curta".
"O momento de crise é de apreensão. Estamos olhando com lupa. Eu nunca conversei tanto com o ministro da Fazenda e com o presidente do BC como nos últimos 30 dias. Porque não quero que o Brasil seja pego de calça curta. Não quero jogar fora o patrimônio de responsabilidade que acumulamos nos últimos anos."
Lula prometeu ousadia, ao dizer categoricamente que, mesmo com a crise, não vai haver cortes nos principais programas de infra-estrutura do seu governo. "Eu não vou parar uma obra que estamos fazendo. O PAC não perderá um centavo por conta dessa crise. As obras da Petrobras vão ser todas feitas. As rodovias vão ser feitas. Nós temos de nos desafiar."
Cansado, após vir da Índia a Moçambique, sua última parada de um giro de cinco dias por três continentes, Lula não queria falar sobre a crise. Mas acabou dedicando ao tema grande parte de seu discurso de 39 minutos a cerca de cem empresários, na presença do presidente moçambicano, Armando Guebuza. A maioria das referências foi para jogar a culpa nos ricos e pedir a união dos pobres para salvar a economia.
Dizendo-se um socialista como Guebuza (cujo partido, a Frente de Libertação de Moçambique, é um ex-satélite soviético que se converteu ao livre mercado), Lula foi ácido.
"Nós, Guebuza, que fomos castigados por dizermos que éramos socialistas, estamos vendo os privatistas dos lucros quererem socializar os prejuízos do sistema financeiro com os países pobres." O Estado, disse Lula, voltou a ter relevância, "o Estado que foi negligenciado por décadas e décadas".
"Fico feliz quando vejo um homem sério como o primeiro-ministro [britânico] Gordon Brown dizendo que não vai dar dinheiro para banco, que vai comprar banco. Já estou vendo até o [presidente americano George W.] Bush dizer isso também." Lula finalizou com um chamado a que os países na periferia do capitalismo ajudem a resgatar as economias dos países ricos. "É preciso que o mundo emergente seja a resposta positiva que os ricos não estão conseguindo ser", afirmou.


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