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Sadia reconhece que pode ter 1º prejuízo em 64 anos
Após perda com câmbio, empresa deve adiar projetos
CRISTIANE BARBIERI
ENVIADA ESPECIAL A TOLEDO (PR)
Pela primeira vez, em seus 64
anos de história, a Sadia deverá
fechar o ano com prejuízo. "Há
uma possibilidade [de prejuízo], mas sou corintiano e, até os
48 minutos do segundo tempo,
ainda há jogo", disse Luiz Fernando Furlan, presidente do
conselho da Sadia. "De repente,
se não der para ganhar porque
afundamos R$ 760 milhões
[valor que se refere a perdas
anunciadas no fim do mês passado em razão de operações financeiras com câmbio], pelo
menos poderemos empatar."
Isso porque, além de as vendas do último trimestre serem
geralmente mais fortes, a Sadia
está tentando reverter pelo menos parte do prejuízo. Segundo
Furlan, a auditoria em andamento irá responder se houve
"conivência ou indução a essa
falha por parte dos bancos internacionais".
"Estamos tomando todas as
providências no sentido de preservar o interesse dos acionistas e dos funcionários, que foram prejudicados", diz ele. Incluem-se nas iniciativas negociações com os bancos estrangeiros -além de medidas judiciais cabíveis, que poderão ser
impetradas caso não se chegue
a um acordo, tão logo o levantamento da consultoria KPMG
seja concluído.
A Sadia pretende apresentar
o relatório na próxima assembléia de acionistas, prevista para o dia 3. O fundo de previdência Previ, um dos maiores investidores da Sadia, pediu esclarecimentos à empresa depois do prejuízo.
Furlan, que esteve com o presidente Lula na sexta-feira passada, afirmou ter lembrado a
ele que a afirmação de que empresas exportadoras, como a
Sadia, estariam especulando
contra o real "foi infeliz". "Os
bancos internacionais que colocaram 200 empresas brasileiras numa situação de aperto especularam contra o real", disse
Furlan. "Quem especulava a favor acreditava na estabilidade
da economia, na taxa de câmbio
histórica e no que o próprio
presidente falou, que a crise
não chegaria ao país. Essas empresas é que levaram ferro."
Para depois
A Sadia deverá postergar os
investimentos em novas fábricas, previstos para o próximo
ano. "Vamos ter de reestudar
investimentos, e não somos só
nós", afirmou Furlan, durante a
inauguração de fábrica de alimentos industrializados em
Toledo (PR). "Falei com uma
dúzia de presidentes [de empresas] e todos estão olhando
para a frente de uma forma
mais cautelosa."
Nos novos projetos há duas
fábricas no Brasil e a segunda
unidade da empresa no exterior. No país, as fábricas cujos
investimentos poderão ser postergados são um abatedouro de
frangos em Campo Verde (MT)
e um de suínos em Mafra (SC).
Os investimentos previstos são
da ordem de R$ 630 milhões e
R$ 650 milhões, respectivamente. Já a fábrica de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, um
dos principais mercados da Sadia, exigiria gastos de R$ 150
milhões. No Brasil, seriam geradas 8.000 vagas e, nos Emirados, 700.
"É possível que [o investimento em Abu Dhabi] seja
adiado", disse Furlan. "A prioridade é colocar em funcionamento os investimentos que já
estão em andamento. Não faz
sentido começar um projeto
que vai desabrochar daqui a
dois anos e faltar recursos para
uma fábrica que daqui a dois ou
três meses estará operando."
Retração
Além da fábrica de Toledo,
cuja produção passará de 17 mil
toneladas para 81 mil toneladas
por ano, a Sadia irá inaugurar
outras cinco unidades até março de 2009. Juntas, elas representarão receita adicional de
R$ 4 bilhões por ano para a empresa, que deverá faturar R$ 12
bilhões em 2008.
A Sadia deixou de exportar
US$ 300 milhões, em 2008, por
falta de capacidade produtiva.
Os novos investimentos atenderiam a essa demanda, mas a
possível retração e a turbulência na economia obrigaram a
empresa a rever os planos.
A jornalista CRISTIANE BARBIERI viajou a convite da Sadia.
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