São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

Texto Anterior | Índice

Itens de tamanhos diferentes têm preços desproporcionais; indústria diz que supermercados elevam margem

Varejo ganha mais com produto menor

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é só a alta da inflação que "come" o salário do brasileiro. Distorções de preço nas gôndolas têm feito o consumidor levar menos produto pagando mais reais.
Mercadorias iguais, do mesmo fabricante -porém com tamanhos diferentes-, registram preços desproporcionais ao seu peso. É possível encontrar numa mesma loja, por exemplo, uma garrafa d'água (500 ml) a R$ 0,66. O modelo menor (300 ml), de igual marca e que deveria custar aproximadamente R$ 0,40 -segundo a razão da proporcionalidade entre peso e preço-, é vendido por R$ 0,62. Uma diferença de 62,9% nos valores -a maior verificada em pesquisa realizada pela Folha, com vários produtos, em três redes (Pão de Açúcar, Carrefour e Master).
Isso quer dizer que o consumidor tem pago mais caro pela quantidade de produto (seja em gramas ou mililitros) nos itens menores. Um caso: ao comprar o Omo Multi Cores em pó, a R$ 5,60, em média, o cliente paga R$ 0,56 por 100 gramas. No produto de 500 gramas, gasta R$ 0,63 -ou 12,5% a mais.
Há discrepâncias em itens que vão de latas de sardinha, de consumo menos frequente, a pasta de dente, com alto giro nos estoques. As variações, entretanto, na maioria das vezes passam de forma despercebida para o consumidor.
A prática da indústria não é condenável, afirma o Procon. Fabricantes esclarecem que a existência de diversos pesos e preços nas gôndolas, sem a relação de proporção entre eles, é legal e não fere os direitos do consumidor.
Isso ocorre porque há custos fixos na fabricação de alguns produtos. E eles pesam no preço da mercadoria, independentemente do tamanho.

Sardinha e pasta
As diferenças poderiam ser explicadas, segundo a posição defendida pelas indústrias, na margem do varejo. A sardinha da Quaker, por exemplo, pode ser encontrada na rede Pão de Açúcar a R$ 2,45 (250 gramas). Mas o item com 130 gramas não sai por menos de R$ 1,40.
A companhia informa que o ganho de custo obtido com a embalagem menor "é totalmente repassado para o preço de tabela ao varejo: 3% inferior". Ou seja, as empresas até tentariam repassar ao consumidor as diferenças nos preços de itens com peso diferente. O varejo, entretanto, estaria aplicando uma margem que cria a desproporção. As redes Pão de Açúcar e Carrefour negam.
A margem é a mesma nas mercadorias de porções variadas, afirmam.

A conta da indústria
A indústria tenta explicar a conta que precisa fazer para produzir itens com porções e preços diferentes. "Temos de pagar ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços" e IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados" e a taxa se mantém, não importa o peso da mercadoria. Além disso, ainda há o custo com a fabricação da tampa da embalagem, do rótulo, que é igual em todos os casos", afirma Cristiano Martelli, gerente de produtos não-alcoólicos da Schincariol.
De acordo com a Unilever, a resina usada para fabricar tampas ou o rótulo do produto são custos fixos. Portanto encarecem nos mesmos reais tanto o item de maior quanto o de menor tamanho. O fato de o produto de menor peso ter quantidade inferior de alimento embalado também não faz diferença, afirmam os fabricantes.
Por serem, na sua maioria, empresas de capital fechado, elas não são obrigadas a tornar suas contas públicas. A Folha entrou em contato com as companhias citadas. As que se manifestaram tiveram a posição publicada.
O Procon sugere que os consumidores fiquem atentos às diferenças de tamanho e preço. "Pode ser mais interessante levar uma unidade do maior produto do que duas unidades do item com menor peso. O negócio é pesquisar", afirma Sonia Amaro, assistente de direção do Procon.



Texto Anterior: Ano do Dragão: Governo tem poucas armas antiinflação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.