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OPINIÃO ECONÔMICA
Fica, Palocci, fica!
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Elogiam, volta e meia, a minha coerência. É uma virtude duvidosa. A coerência pode
não ser mais do que a insistência
nos mesmos e surrados erros.
Mas, enfim, quem sou eu para recusar elogios! Aceito todos, com
vibração sempre renovada.
Fiz esse pequeno "detour" para
explicar a aparente incoerência
do título da coluna de hoje. Sou
um dos críticos contumazes do
dr. Palocci e sua equipe desde
2003. Por que então pedir a sua
continuação?
O primeiro motivo é totalmente
fútil. Escrevo de véspera. Se Palocci for demitido ou entregar os
pontos de hoje (quarta) para
amanhã (quinta), o meu artigo
ficará comprometido.
O pior é que alguns dos nomes
aventados para substituí-lo não
são muito animadores. Em alguns casos, troca-se seis por meia
dúzia. Em outros, pior a emenda...
Dos ministeriáveis que vêm
sendo mencionados na imprensa,
o de mais peso (sem duplo sentido) é o deputado Delfim Netto.
Paradoxalmente, entretanto, talvez seja o que mais assuste o mercado. Do ponto de vista desse último, uma solução melhor seria
um petista inofensivo e, de preferência, ignorante e estritamente
incapaz de ter qualquer idéia diferente do que está aí.
Uma coisa parece clara: não há
motivo para nervosismo. O presidente Lula já está definitivamente enquadrado. Não haverá mudança de rumo da política econômica. O governo não tem tempo,
nem equipe, nem coragem para
tentar nada de muito diferente.
O máximo que se pode esperar
seria a correção de alguns dos excessos da atual equipe econômica. Desde 2004, ela resolveu radicalizar e instaurar o que se poderia chamar de "ortodoxia troglodita".
O que é essa variante troglodita? Ela tem quatro aspectos:
a) A política de juros do Banco
Central tornou-se completamente alucinada -a ponto de ser criticada, duramente, por economistas ortodoxos e até mesmo
por banqueiros.
b) O governo e o Banco Central
permitiram (na verdade, estimularam) uma apreciação cambial
perigosa e agora correm tardiamente atrás do prejuízo.
c) A Fazenda adotou uma política fiscal pesadamente restritiva,
gerando superávits primários superiores às metas oficiais. Como
se sabe, os itens b e c decorrem,
em grande medida, do item a.
d) Para completar o quadro, o
Planejamento e a Fazenda vêm
se dedicando a costurar, sem
grande sucesso, "planos de ajuste
fiscal de longo prazo", para os
próximos cinco ou dez anos. A
sua implementação dependeria
de um grande acordo político e de
emendas constitucionais que permitissem ampliar e prolongar a
Desvinculação de Receitas da
União (DRU) e dar vida ainda
mais longa à Contribuição Provisória (sic) sobre Movimentação
Financeira. Mas não há condições políticas para tomar decisões
legislativas importantes para
além de 2006.
O que poderia fazer o sucessor
de Palocci? Alguma correção de
rumos, que eliminasse o componente "troglodita" e ficasse só
com a ortodoxia. Primeiro: baixar mais rapidamente a taxa básica de juro para aproximá-la aos
poucos dos padrões mundiais. Os
famosos "fundamentos" permitem diminuição apreciável da taxa.
Segundo, induzir uma certa revalorização do dólar no Brasil. A
queda mais rápida dos juros já
ajudaria, mas outros instrumentos podem ser acionados (por
exemplo: restrições à entrada de
capitais especulativos e intervenções nos mercados "spot" e futuros de câmbio).
Terceiro, com os juros menores,
a política fiscal poderia se limitar
a cumprir a meta de superávit
primário fixada (4,25% do PIB)
em 2006 sem que isso acarretasse
grande aumento da razão dívida/PIB.
Nada de espetacular, como se
vê. Nada que possa alarmar o famigerado mercado. Por outro lado, nada que o próprio Palocci
não possa realizar (se a República de Ribeirão Preto e suas conexões petistas não acabarem com
ele de vez).
Por isso, lanço o apelo: Fica, Palocci, fica!
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV- EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier,
2005).
E-mail: pnbjr@attglobal.net
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