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análise
Avanços da cúpula têm os seus limites
DO "FINANCIAL TIMES"
Um dos temores expressos
sobre a cúpula do G20 realizada em Washington no final
de semana foi o de que pudesse gerar expectativas
grandes demais. Toda essa
conversa sobre um novo
Bretton Woods era preocupante, acharam muitos observadores. O mais provável
é que não daria em nada e
que, quando isso acontecesse, acabaria sendo mais um
golpe para a confiança.
Os temores foram um pouco exagerados -não porque
a cúpula tenha realizado
grande coisa, mas porque,
pelo menos nos EUA, esse
momento de clímax chegou e
passou sem que a maioria
das pessoas notasse.
Para a maioria dos americanos e para muitos participantes da cúpula, a reunião
teve pouca importância por
uma razão simples: a ausência do presidente eleito, Barack Obama. Se ela tivesse sido realizada no final de janeiro, com o novo presidente,
teria sido vista como momento histórico para o mundo. "Timing" é tudo.
As expectativas terão uma
segunda oportunidade para
sair de controle em abril, para quando foi marcada nova
reunião. Obama estará no
comando, e até lá muito do
trabalho preparatório de regulamentação financeira já
terá sido completado. Algo
de concreto pode acontecer
-mas entre agora e abril os
limites a esse tipo de cooperação internacional não terão deixado de existir.
A ausência do presidente
eleito ocultou o mais importante desses limites. Mesmo
um presidente ainda com
quatro ou oito anos pela
frente tem limites quanto
aos compromissos que tem
condições de assumir.
É só lembrar o enorme esforço que o governo precisou
fazer para promulgar o primeiro programa de resgate.
É o Congresso quem aprova
verbas. O presidente pode
pedir e implorar, mas, em última análise, não são decisões suas. Que o homem certo compareça na próxima cúpula fará menos diferença do
que se supõe.
Ademais, nem o novo presidente nem o Congresso vão
cogitar seriamente qualquer
coisa que possa ser vista como cessão de sua soberania a
organismos internacionais.
Por mais desejável que possa
ser, em princípio, a criação
de alguma espécie de instância reguladora financeira supranacional, isso não vai
acontecer. Na esfera reguladora, assim como na da política fiscal e monetária, o processo de determinação de
políticas nos EUA vai continuar a ser nacional no futuro
previsível.
Podemos esperar um novo
consenso sobre princípios
básicos, incluindo a ampliação da regulação e o aumento
da ênfase sobre a transparência. Uma coordenação caso a caso da política macroeconômica seria uma coisa
boa. Uma monitoração internacional melhor dos padrões
regulatórios para se adequar
ao nível mínimo acordado
seria desejável. Os governos
prometeram estudar tudo isso.
Foi mais ou menos isso o
realizado pela cúpula; o resto
é acertar políticas nacionais.
O mais importante da cúpula foi algo mais amplamente geopolítico: o fato de
ter sido uma cúpula do G20,
em oposição a uma do G7 ou
G8, como destacou o presidente George W. Bush.
A declaração dos governos no encerramento também enfatizou a importância de terem
sido trazidos para a mesa a
China, a Índia, o Brasil e outras grandes economias
emergentes. Será bom se a
declaração do sábado tornar-se o atestado de óbito do velho G7, e melhor ainda se for
possível fazer do G20 um
substituto mais compacto e
eficiente, dando à União Européia apenas uma vaga em
vez das quatro de hoje.
Gordon Brown está ansioso por
demonstrar liderança; isso é
algo que ele pode fazer melhor se abrir mão do lugar do
Reino Unido.
A expectativa era que a cúpula afirmasse a importância
do comércio liberal, e ela o
fez, de certa forma.
"Ressaltamos a importância crítica
de rejeitar o protecionismo e
não nos voltarmos para dentro em tempos de incerteza
financeira. Nos próximos 12
meses, vamos nos abster de
erguer novas barreiras aos
investimentos ou ao comércio e impor novas restrições
às exportações ou implementar medidas [ilegais] de
estímulo às exportações."
Um ano inteiro sem novas
barreiras comerciais! É claro
que a próximo administração e o próximo Congresso
não serão obrigados a cumprir essa promessa, e uma
medida que viola seu espírito, se não seu texto -o proposto pacote de socorro às
três maiores montadoras automotivas americanas- é
uma das prioridades.
O crash financeiro e a crise
econômica que ele provocou
atestam a importância dos
vínculos globais: a resposta
precisa ser internacionalmente coordenada. Porém,
ao longo dos anos, as cúpulas
econômicas têm se mostrado
uma perda de tempo por
uma razão, e algumas coisas
nem mesmo Barack Obama
poderá mudar.
Tradução de CLARA ALLAIN
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