São Paulo, terça-feira, 17 de novembro de 2009

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BC troca diretor e fica menos ortodoxo

Aldo Mendes, funcionário de carreira do BB e que já questionou independência do Banco Central, entra no lugar de Torós

Saída de Torós, já prevista, é antecipada após críticas que fez à ação de Mantega na crise e declarações sobre os bastidores do banco

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Reduto do pensamento econômico liberal no governo petista, a diretoria do BC (Banco Central) passa a ter uma feição um pouco menos ortodoxa.
O diretor de Política Monetária do órgão, Mario Torós, foi substituído ontem pelo economista Aldo Luiz Mendes, funcionário de carreira do Banco do Brasil e ex-presidente do conselho administrativo da Previ -o fundo de previdência dos funcionários do BB.
A troca no Banco Central foi anunciada no começo da noite de ontem após conversa telefônica entre o presidente do BC, Henrique Meirelles, e o presidente Lula, em viagem oficial à Itália.
No telefonema, Meirelles foi convocado para reunião com Lula hoje em Brasília.
Não está claro se a nomeação de Mendes implica uma reorientação futura da política monetária do Banco Central com relação à política ativa de juros e à tolerância com a crescente valorização do real.
Em um artigo publicado em 1993, Mendes colocou-se contrário à independência do BC, vista por ele como um empecilho às forças da democracia.
Mas Mendes não é propriamente alinhado com o pensamento petista. Foi nomeado diretor de finanças do Banco do Brasil ainda no governo FHC, em 2001, e sua relação civilizada com o PSDB viabilizou, em 2008, o acordo com o tucano José Serra para a compra da Nossa Caixa, do governo paulista, pelo BB.
O novo diretor do BC é ligado a Antonio de Lima Neto, ex-presidente do BB demitido por Lula em abril por reduzir "lentamente" os juros.
Dois meses após a saída de Lima Neto, Mendes migrou da vice-presidência do BB para a presidência da Companhia Aliança do Brasil (seguradora controlada pelo BB), cargo que ocupava até ontem.
Aos 51 anos, dos quais 30 como funcionário do BB, Mendes é formado pela Universidade de Brasília, tem mestrado pela mesma instituição e doutorado pela Universidade de São Paulo. Sua tese de doutorado versou sobre a relação entre o aumento de gastos públicos e a redemocratização do país.
Torós era um dos três remanescentes do setor financeiro privado na diretoria do Banco Central. Antes de entrar no banco, em abril de 2007, havia sido gestor do Thassos Fundo de Investimento Multimercado e vice-presidente do Santander Banespa.
Os outros dois são o próprio presidente da instituição, Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do BankBoston, e Mário Mesquita, atual diretor de Política Econômica da instituição, oriundo do ABN Amro.
Ambos devem ficar no BC pelo menos até março de 2010, quando Meirelles decide se deixa o BC para candidatar-se a algum cargo eletivo.

Entrevista
A saída de Torós, que estava prevista para dezembro, foi antecipada após uma entrevista que deu ao jornal "Valor Econômico", publicada na última sexta-feira.
Na entrevista, da qual Meirelles não fora previamente informado, Torós revelou detalhes da estratégia do governo no combate à crise e atribuiu a si próprio feitos que, segundo a administração do banco, nem de longe lhe pertencem.
Além disso, fez críticas ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Entre elas, a de que Mantega teria acelerado a corrida de saques durante a crise ao declarar publicamente que era contrário ao uso de reservas internacionais para restabelecer a normalidade dos mercados.


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