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BC troca diretor e fica menos ortodoxo
Aldo Mendes, funcionário de carreira do BB e que já questionou independência do Banco Central, entra no lugar de Torós
Saída de Torós, já prevista, é antecipada após críticas que fez à ação de Mantega na crise e declarações sobre os bastidores do banco
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Reduto do pensamento econômico liberal no governo petista, a diretoria do BC (Banco
Central) passa a ter uma feição
um pouco menos ortodoxa.
O diretor de Política Monetária do órgão, Mario Torós, foi
substituído ontem pelo economista Aldo Luiz Mendes, funcionário de carreira do Banco
do Brasil e ex-presidente do
conselho administrativo da
Previ -o fundo de previdência
dos funcionários do BB.
A troca no Banco Central foi
anunciada no começo da noite
de ontem após conversa telefônica entre o presidente do BC,
Henrique Meirelles, e o presidente Lula, em viagem oficial à
Itália.
No telefonema, Meirelles foi
convocado para reunião com
Lula hoje em Brasília.
Não está claro se a nomeação
de Mendes implica uma reorientação futura da política
monetária do Banco Central
com relação à política ativa de
juros e à tolerância com a crescente valorização do real.
Em um artigo publicado em
1993, Mendes colocou-se contrário à independência do BC,
vista por ele como um empecilho às forças da democracia.
Mas Mendes não é propriamente alinhado com o pensamento petista. Foi nomeado diretor de finanças do Banco do
Brasil ainda no governo FHC,
em 2001, e sua relação civilizada com o PSDB viabilizou, em
2008, o acordo com o tucano
José Serra para a compra da
Nossa Caixa, do governo paulista, pelo BB.
O novo diretor do BC é ligado
a Antonio de Lima Neto, ex-presidente do BB demitido por
Lula em abril por reduzir "lentamente" os juros.
Dois meses após a saída de
Lima Neto, Mendes migrou da
vice-presidência do BB para a
presidência da Companhia
Aliança do Brasil (seguradora
controlada pelo BB), cargo que
ocupava até ontem.
Aos 51 anos, dos quais 30 como funcionário do BB, Mendes
é formado pela Universidade
de Brasília, tem mestrado pela
mesma instituição e doutorado
pela Universidade de São Paulo. Sua tese de doutorado versou sobre a relação entre o aumento de gastos públicos e a redemocratização do país.
Torós era um dos três remanescentes do setor financeiro
privado na diretoria do Banco
Central. Antes de entrar no
banco, em abril de 2007, havia
sido gestor do Thassos Fundo
de Investimento Multimercado e vice-presidente do Santander Banespa.
Os outros dois são o próprio
presidente da instituição, Henrique Meirelles, ex-presidente
mundial do BankBoston, e Mário Mesquita, atual diretor de
Política Econômica da instituição, oriundo do ABN Amro.
Ambos devem ficar no BC pelo menos até março de 2010,
quando Meirelles decide se deixa o BC para candidatar-se a algum cargo eletivo.
Entrevista
A saída de Torós, que estava
prevista para dezembro, foi antecipada após uma entrevista
que deu ao jornal "Valor Econômico", publicada na última
sexta-feira.
Na entrevista, da qual Meirelles não fora previamente informado, Torós revelou detalhes da estratégia do governo
no combate à crise e atribuiu a
si próprio feitos que, segundo a
administração do banco, nem
de longe lhe pertencem.
Além disso, fez críticas ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Entre elas, a de que Mantega teria acelerado a corrida de
saques durante a crise ao declarar publicamente que era contrário ao uso de reservas internacionais para restabelecer a
normalidade dos mercados.
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