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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Mercado futuro projeta 16,32% para fim do ano; BC decide hoje o que ocorrerá com taxa básica, de 17,5%

Selic de 16% levaria juro real a um dígito

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o Copom decidir reduzir a taxa básica da economia (Selic) em 1,5 ponto percentual na reunião que acaba hoje, os juros reais ficarão em um dígito, o que não ocorre desde novembro de 2002.
Com a Selic recuando de 17,5% para 16%, a taxa de juro real da economia brasileira cairia para 9,56%, segundo cálculo da consultoria Global Invest. O juro real é calculado com base na Selic descontando-se a expectativa de inflação para 12 meses à frente.
Mesmo que essa taxa menor se confirme, o Brasil seguirá como campeão mundial de juros reais. Atrás do Brasil vem Israel, com juro real de 7,1%. Dentre os latino-americanos, o primeiro a aparecer atrás do Brasil é o México, com taxa de 1,8%.
A taxa de juro real (descontada a inflação) é importante porque serve de parâmetro para os agentes econômicos tomarem decisões futuras de investimento. Juros menores propiciam um cenário mais favorável ao esperado crescimento econômico do país.
Já se o Copom (Comitê de Política Monetária) decidir cortar a Selic em apenas 1 ponto percentual, os juros reais ficariam em 10%. O Copom anuncia no início da noite de hoje em quanto fica a taxa básica de juros.
Economistas também utilizam as taxas praticadas no mercado para calcular o juro real. Para isso, levam em consideração a taxa do contrato DI (que acompanha as operações interbancárias) com prazo de um ano e descontam a inflação prevista para o período. Por esse método, considerando o fechamento de ontem, os juros reais já estariam em 9,26%.
Mesmo em níveis menores, as taxas reais no Brasil ainda estão muito acima da média praticada em 23 países emergentes, que fica em 2,2%. Comparado a 17 países desenvolvidos, a distância em relação aos juros reais brasileiros é ainda mais gritante. Os juros reais médios desses países está em apenas 0,3%.
"O BC deve decidir por um corte de 1,5 ponto percentual amanhã [hoje]. Em janeiro, a expectativa é que o Copom mantenha os juros inalterados, para fazer um balanço do desempenho dos indicadores da economia neste ano", diz Alexsandro Agostini, economista da Global Invest.

Projeções
No mercado, a movimentação com contratos DI cresceu, com os investidores à espera da decisão do Copom. A taxa do contrato DI (que segue os juros das operações entre bancos) de prazo mais curto recuou de 16,39% para 16,32%.
Esse contrato está em trajetória de queda há semanas. O movimento foi intensificado de acordo com que foram saindo, nos últimos dias, dados que mostravam que a inflação segue sob controle e a economia ainda não está aquecida como esperavam analistas financeiros.
Com a recuperação econômica dando sinais de que está apenas em seu início, o mercado projeta que os juros podem ser cortados em até 1,5 ponto percentual, como foi no mês passado, quando a Selic recuou de 19% para 17,5%.
O economista Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda, prevê corte de 1,5 ponto, "embora devesse ser maior". "Isso significa a manutenção da política econômica que vem sendo realizada no Brasil nos últimos 14 anos, de altas taxas de juros reais e que está atrás da semi-estagnação da economia brasileira em todo esse período", disse.
Antonio Carlos Pôrto Gonçalves, diretor do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV, disse que há espaço para corte substancial nos juros, mas que o BC agirá como todo banco central, com cautela e prudência, pelo temor de que um corte maior tenha algum efeito inflacionário. Mas sustentou que o país pode chegar a meados de 2004 com taxa de juros nominal de 12%. Para ele, o PIB crescerá 4%, puxado pela demanda interna.


Colaborou José Alan Dias, da Reportagem Local


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