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"A pressão era tão grande que perdi os cabelos", diz demitida
Bancária afirma que recebia telefonemas exigindo vendas de determinado patamar e que chegou a sentir falta de ar
Outra bancária, afastada
por causa de LER, ficou sem
função quando retornou de
licença e, com depressão,
perdeu bebê e se separou
Julia Moraes/Folha Imagem
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R.C., que move processo contra banco em que trabalhava por assédio moral devido à pressão |
DA REPORTAGEM LOCAL
"Caga sangue, mas faz." Essa
é a frase que R.C., 43, ex-funcionária do HSBC, onde trabalhou
quase 17 anos, afirma que ouvia
de um diretor do banco, que
exigia dela cumprimento de
metas de vendas de produtos
da instituição.
"Também costumava amassar um copo de plástico na minha frente e dizia: "Olha o que
acontece com quem não cumprir metas neste mês'", diz R.C.,
demitida pelo banco em junho
deste ano, após enfrentar, segundo diz, sérios problemas de
saúde em razão de ser vítima de
assédio moral.
R.C. era funcionária de uma
agência do HSBC em Osasco,
onde trabalhou como gerente
por um período de dez anos.
Sua última função no banco foi
cuidar da carteira de investimentos de pessoas físicas.
Para esses clientes especiais,
tinha de vender títulos de capitalização, planos de previdência privada, seguro de carro.
"Telefonavam para mim logo
pela manhã para cobrar vendas
de "X" produtos e de "X" milhões
de reais. A pressão era tão grande que comecei a perder os cabelos. Cheguei ao ponto de sentir falta de ar dentro da agência.
Mesmo sabendo que eu estava
em tratamento médico, me
mandaram embora."
A ex-gerente do HSBC quer
uma indenização "não inferior"
a R$ 600 mil por ter sido vítima
de assédio moral. A primeira
audiência com o banco já está
marcada para o dia 27 de fevereiro de 2007, segundo informa. "Quando vi que o banco estava exagerando nas pressões,
cheguei a abrir a boca em uma
reunião, comecei a questionar
as tais metas. Disseram-me o
seguinte: "Você tem duas alternativas, fazer e fazer"."
R.C. decidiu procurar a Justiça porque acredita que seu depoimento ajudará outros funcionários que sofrem o mesmo
tipo de pressão no banco. "Tem
uma pessoa lá que está até com
a mão atrofiada. O fato é que a
pressão vem de cima. O gerente
é pressionado pelo diretor-regional, que é pressionado pelo
diretor-geral, e por aí vai."
O HSBC informa, por meio
de sua assessoria de imprensa,
"que não exerce pressão sobre
seus colaboradores". A ex-funcionária "foi desligada porque
transigiu normas de conduta
ética da empresa", diz o banco
em nota oficial.
R.C. nega. Afirma que saiu da
empresa com carta de recomendação do HSBC, assinada
por dois executivos da instituição. A carta informa que, até a
data da saída de R.C. do banco,
"nada constava que pudesse
desabonar a sua conduta".
Após seis licenças médicas
concedidas nos últimos 14 anos
por ser portadora de LER (lesão de esforço repetitivo), A.F.,
42, decidiu ir à Justiça do Trabalho neste ano para denunciar
as discriminações sofridas como funcionária do Santander
Banespa.
"Os colegas foram instruídos
a não conversar comigo. Quando retornei da última licença
no ano passado, fiquei sentada
em uma cadeira sem fazer nada. Não me davam serviço, diziam que eu era doente", afirma
a bancária. Afastada pelo INSS
por doença profissional, A.F.
acredita que será demitida assim que retornar ao serviço. "A
política do banco é demitir assim que acaba o período de
afastamento do lesionado."
Em tratamento contra depressão e síndrome do pânico, a
bancária diz que a pressão no
trabalho fez sua vida "desmoronar". "Perdi um bebê, meu
marido não agüentou meu processo de depressão e pediu a separação e eu me sinto mal, por
ser vista no local de trabalho
como uma pessoa inútil."
Em sua ação, A.F. pedia indenização de R$ 100 mil. O juiz
que cuida do processo reconheceu o assédio, mas determinou
o pagamento de R$ 30 mil, e o
Santander Banespa recorreu.
Em nota, o banco informa
que não comenta o caso porque
está sub judice. Também disse
que o código de ética dos funcionários do Santander Banespa estabelece que "o funcionário, independentemente do nível hierárquico, deve comunicar à área de recursos humanos
situações que caracterizem
ações de discriminação, assédio
sexual, assédio moral ou intimidação de qualquer ordem,
em relação ao público externo
ou aos colegas de trabalho".
A instituição afirma também
que "as denúncias recebidas
são apuradas e, se confirmadas,
o banco aplica as medidas disciplinares cabíveis".
Indenizado
Há cerca de duas semanas, o
TST (Tribunal Superior do Trabalho) confirmou indenização
a um ferroviário do Paraná, humilhado no local de trabalho.
Ele terá direito à indenização
de R$ 50 mil por dano moral.
Segundo consta no processo,
após 20 anos trabalhando como controlador de tráfego, o
ferroviário foi dispensado sem
justa causa, em janeiro de 1991.
Depois de conseguir sua
reintegração, ele não foi designado para as funções que sempre cumpriu (controlador de
tráfego). Foi colocado, na primeira semana de retorno ao
trabalho, em uma sala fria e
úmida. "Permaneceu isolado e
sem tarefas e, em seguida, passou a receber comunicados semanais que o dispensavam do
comparecimento ao serviço.
Passou a ser alvo de chacotas
dos colegas e, diante da falta de
atividades, foi por eles apelidado de "menino da Febem" [alcunha que lhe causou humilhação]", diz o TST.
(FF e CR)
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