São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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"A pressão era tão grande que perdi os cabelos", diz demitida

Bancária afirma que recebia telefonemas exigindo vendas de determinado patamar e que chegou a sentir falta de ar

Outra bancária, afastada por causa de LER, ficou sem função quando retornou de licença e, com depressão, perdeu bebê e se separou

Julia Moraes/Folha Imagem
R.C., que move processo contra banco em que trabalhava por assédio moral devido à pressão


DA REPORTAGEM LOCAL

"Caga sangue, mas faz." Essa é a frase que R.C., 43, ex-funcionária do HSBC, onde trabalhou quase 17 anos, afirma que ouvia de um diretor do banco, que exigia dela cumprimento de metas de vendas de produtos da instituição.
"Também costumava amassar um copo de plástico na minha frente e dizia: "Olha o que acontece com quem não cumprir metas neste mês'", diz R.C., demitida pelo banco em junho deste ano, após enfrentar, segundo diz, sérios problemas de saúde em razão de ser vítima de assédio moral.
R.C. era funcionária de uma agência do HSBC em Osasco, onde trabalhou como gerente por um período de dez anos. Sua última função no banco foi cuidar da carteira de investimentos de pessoas físicas.
Para esses clientes especiais, tinha de vender títulos de capitalização, planos de previdência privada, seguro de carro. "Telefonavam para mim logo pela manhã para cobrar vendas de "X" produtos e de "X" milhões de reais. A pressão era tão grande que comecei a perder os cabelos. Cheguei ao ponto de sentir falta de ar dentro da agência. Mesmo sabendo que eu estava em tratamento médico, me mandaram embora."
A ex-gerente do HSBC quer uma indenização "não inferior" a R$ 600 mil por ter sido vítima de assédio moral. A primeira audiência com o banco já está marcada para o dia 27 de fevereiro de 2007, segundo informa. "Quando vi que o banco estava exagerando nas pressões, cheguei a abrir a boca em uma reunião, comecei a questionar as tais metas. Disseram-me o seguinte: "Você tem duas alternativas, fazer e fazer"."
R.C. decidiu procurar a Justiça porque acredita que seu depoimento ajudará outros funcionários que sofrem o mesmo tipo de pressão no banco. "Tem uma pessoa lá que está até com a mão atrofiada. O fato é que a pressão vem de cima. O gerente é pressionado pelo diretor-regional, que é pressionado pelo diretor-geral, e por aí vai."
O HSBC informa, por meio de sua assessoria de imprensa, "que não exerce pressão sobre seus colaboradores". A ex-funcionária "foi desligada porque transigiu normas de conduta ética da empresa", diz o banco em nota oficial.
R.C. nega. Afirma que saiu da empresa com carta de recomendação do HSBC, assinada por dois executivos da instituição. A carta informa que, até a data da saída de R.C. do banco, "nada constava que pudesse desabonar a sua conduta".
Após seis licenças médicas concedidas nos últimos 14 anos por ser portadora de LER (lesão de esforço repetitivo), A.F., 42, decidiu ir à Justiça do Trabalho neste ano para denunciar as discriminações sofridas como funcionária do Santander Banespa.
"Os colegas foram instruídos a não conversar comigo. Quando retornei da última licença no ano passado, fiquei sentada em uma cadeira sem fazer nada. Não me davam serviço, diziam que eu era doente", afirma a bancária. Afastada pelo INSS por doença profissional, A.F. acredita que será demitida assim que retornar ao serviço. "A política do banco é demitir assim que acaba o período de afastamento do lesionado."
Em tratamento contra depressão e síndrome do pânico, a bancária diz que a pressão no trabalho fez sua vida "desmoronar". "Perdi um bebê, meu marido não agüentou meu processo de depressão e pediu a separação e eu me sinto mal, por ser vista no local de trabalho como uma pessoa inútil."
Em sua ação, A.F. pedia indenização de R$ 100 mil. O juiz que cuida do processo reconheceu o assédio, mas determinou o pagamento de R$ 30 mil, e o Santander Banespa recorreu.
Em nota, o banco informa que não comenta o caso porque está sub judice. Também disse que o código de ética dos funcionários do Santander Banespa estabelece que "o funcionário, independentemente do nível hierárquico, deve comunicar à área de recursos humanos situações que caracterizem ações de discriminação, assédio sexual, assédio moral ou intimidação de qualquer ordem, em relação ao público externo ou aos colegas de trabalho".
A instituição afirma também que "as denúncias recebidas são apuradas e, se confirmadas, o banco aplica as medidas disciplinares cabíveis".

Indenizado
Há cerca de duas semanas, o TST (Tribunal Superior do Trabalho) confirmou indenização a um ferroviário do Paraná, humilhado no local de trabalho. Ele terá direito à indenização de R$ 50 mil por dano moral.
Segundo consta no processo, após 20 anos trabalhando como controlador de tráfego, o ferroviário foi dispensado sem justa causa, em janeiro de 1991.
Depois de conseguir sua reintegração, ele não foi designado para as funções que sempre cumpriu (controlador de tráfego). Foi colocado, na primeira semana de retorno ao trabalho, em uma sala fria e úmida. "Permaneceu isolado e sem tarefas e, em seguida, passou a receber comunicados semanais que o dispensavam do comparecimento ao serviço. Passou a ser alvo de chacotas dos colegas e, diante da falta de atividades, foi por eles apelidado de "menino da Febem" [alcunha que lhe causou humilhação]", diz o TST. (FF e CR)


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