São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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EUA têm menor taxa de juros de sua história

Fed reduz taxa de 1% para faixa entre 0% e 0,25% para tentar reanimar economia; inflação fica negativa pelo 2º mês seguido

Para Roubini, BC dos EUA entra em "território desconhecido'; Krugman vê problema profundo que exige criatividade e sorte


Jonathan Emst - 4.dez.08/Reuters
Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, o BC dos EUA


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Disparando uma das últimas armas de seu arsenal convencional para reaquecer a economia dos EUA, o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), baixou ontem a taxa básica de juros do país de 1% para uma banda entre 0% e 0,25%, a menor desde que a instituição passou a compilar os índices, em 1954.
A decisão histórica de cortar os chamados Fed Funds, os fundos federais que lastreiam empréstimos interbancários, foi tomada na última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Fomc, na sigla em inglês) e surpreendeu analistas, que esperavam corte de meio ponto. O Fed decidiu ainda cortar a taxa de redesconto em 0,75 percentual, para 0,5%.
O Fed sinalizou ainda que as taxas devem permanecer baixas "por algum tempo". Os mercados gostaram, e as Bolsas subiram com força.
Baixar os juros e injetar dinheiro na economia são as duas principais ferramentas de que o BC dos EUA dispõe para estimular a economia de um país oficialmente em recessão há um ano. Ambas estão no limite. A primeira chega agora ao chão -o Fed não pode definir juros oficiais abaixo de zero. No uso da segunda ferramenta, e apenas desde setembro, o Fed já imprimiu US$ 1,1 trilhão, ou quase o PIB brasileiro.
"O Federal Reserve vai empregar todas as ferramentas disponíveis para promover a retomada de crescimento econômico sustentável e preservar a estabilidade dos preços", diz declaração do fim da reunião de dois dias, na tarde de ontem. "Em particular, o comitê antecipa que o enfraquecimento da economia provavelmente assegurará taxas de fundos federais excepcionalmente baixas por algum tempo."
Entre outras medidas de exceção implantadas nos últimos meses, estão a compra de "Treasuries", os títulos do Tesouro dos EUA, e o empréstimo direto a instituições financeiras e empresas. "O Fed recebe nota A ou A- pelo esforço e notas não muito boas pelos resultados", disse Alan Blinder, economista de Princeton e ex-vice-presidente do banco central.
A decisão de ontem foi considerada a entrada em nova era de política monetária por economistas. "O Fed entrou em território desconhecido no momento em que uma grave estagdeflação toma lugar", disse Nouriel Roubini, economista pessimista da Universidade de Nova York, referindo-se à combinação de estagnação econômica e deflação.
"Era isso o que eu temia desde que percebi que o Japão realmente estava naquela terrível e possivelmente mítica armadilha de liquidez", disse o colunista progressista Paul Krugman, Nobel de Economia deste ano. "Estamos com um problema profundo. Sair dele exigirá muita criatividade e talvez um pouco de sorte."
O temor da deflação foi confirmado pelo Índice de Preços ao Consumidor, o principal do país, que recuou 1,7% em novembro, a maior queda desde que o indicador começou a ser divulgado, em 1947. A baixa sucede a de 1% no mês anterior e foi puxada principalmente pelo setor de energia. A taxa anualizada de inflação nos EUA ficou em 1,1% em novembro, ou 2,6 pontos percentuais menor que a de outubro.
Já a recessão deu novos sinais de força com a divulgação de que a construção de novas casas caiu 19% em novembro.
Enquanto o presidente eleito, Barack Obama, sinalizava que novas medidas devem ser necessárias, a Casa Branca tentou ser otimista. Indagada sobre o perigo de uma espiral deflacionária, a porta-voz Dana Perino disse ser essa uma maneira de olhar o problema: "A outra é ver que preços mais baixos são bons para os consumidores americanos, porque isso quer dizer que você tem mais dinheiro no bolso para gastar em outras coisas", disse. Bush deixa o poder em 34 dias.


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