São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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Credor acusa fornecedora da TIM de fraude

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os credores da Tecnosistemi Brasil, que teve sua falência decretada em novembro e suspensa no mês seguinte pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, tentam impedir o desmanche dos ativos da empresa. Ela é subsidiária do grupo italiano Tecnosistemi SpA e fornecedora de equipamentos e serviços de telefonia móvel para a TIM (Telecom Italia Mobile).
A Tecnosistemi chegou ao país em 1998 pelas mãos do então presidente da Parmalat no Brasil, Gianni Grisendi. Ele teria colaborado na constituição da empresa "a pedido do presidente da Parmalat [Calisto Tanzi]", segundo seu depoimento no processo de falência da Tecnosistemi.
A Tecnosistemi é acusada de fraude na Justiça por ter vendido sua participação na Servisite, uma empresa saudável e avaliada em R$ 8 milhões, às vésperas de pedir concordata. Um dos credores, uma empresa de engenharia do interior de São Paulo, quer reverter o negócio para garantir os seus créditos de R$ 3,5 milhões.
Segundo associados do escritório do advogado Sérgio Bermudes, que representam esse credor, "a Tecnosistemi alienou suas cotas para fantoches concebidos especificamente para drenar e absorver sua parte lucrativa, deixando aos credores apenas o esqueleto". O negócio ocorreu em fevereiro de 2003 e, em abril, a Tecnosistemi pediu concordata.
No dia 27 de novembro, o juiz da 42ª Vara Cível de São Paulo decretou a falência da Tecnosistemi e de mais 14 empresas coligadas. Em dezembro, a falência foi suspensa pelos desembargadores da 5ª e 6ª Câmaras do Tribunal de Justiça de São Paulo. Na última sexta-feira, a Incotep Indústria e Comércio de Tubos Especiais de Precisão, pediu a falência da Tecnosistemi.
Segundo um dos advogados da Tecnosistemi, João Boyadjian, a crise da Tecnosistemi Brasil é conseqüência dos problemas enfrentados pela matriz, na Itália. A Tecnosistemi SpA está em liquidação judicial e poderá ser vendida. "Se isso correr, a empresa no Brasil receberá recursos para saldar seus compromissos", diz.
Boyadjian esclareceu que não representa a Tecnosistemi na ação movida pelo escritório Sérgio Bermudes. Os representantes da empresa não falam sobre a crise da companhia, segundo ele.

Teia societária
Os advogados do escritório Sérgio Bermudes descobriram que a venda das cotas da Tecnosistemi cursou uma intrincada rede de empresas sem jamais sair do controle do grupo. Elas foram vendidas à Netsinergy, "uma empresa cujo representante legal é o presidente da Tecnosistemi Brasil, Cláudio Rafaelli".
Em seguida, as cotas foram repassadas à Telldor Investment, uma off-shore constituída no Uruguai" e cujo procurador é, também Rafaelli. A teia por onde se tentou "esterilizar" as cotas da Servisite termina na CRAL -Carvalho Consultoria e Participações, "uma modesta empresa situada em Juquitiba [Grande São Paulo]". Ela adquiriu cotas da uruguaia Telldor "de modo que ambas ficassem com 50% do capital social", dizem os advogados. Quem controla a CRAL é Draja Mihajlovic, ex-presidente da TIM.
Os advogados do escritório Sérgio Bermudes obtiveram, em agosto, uma liminar que brecou a trajetória das cotas da Servisite. "O objetivo foi impedir que as cotas continuassem sendo repassadas e perdêssemos seu rastro", afirma o advogado Alfredo Barbosa Migliore.
Segundo Boyadjian, advogado da Tecnosistemi, Cláudio Rafaelli não representa mais a empresa no Brasil, por isso não pode dar declarações em nome da empresa.

Pátio vazio
Além desse caso que corre na Justiça, um grupo de 11 credores, representados pela Abeprest (Associação Brasileira das Empresas Prestadores de Serviços em Telecomunicações) vem se mobilizando para garantir seus créditos.
Trata-se de empresas de pequeno e médio porte, que têm a receber R$ 5,5 milhões. A Abeprest chegou a recorrer à embaixada italiana no Brasil, no ano passado, em busca de ajuda, sem resultado. Também procurou ajuda da TIM, mas ela disse ter um saldo pequeno a pagar à Tecnosistemi.
Em nota oficial, a TIM informou na última semana, que não tem qualquer vínculo acionário com a Tecnosistemi e suas coligadas e que honrou todos os pagamentos com a empresa.
Segundo Herald Weiss, presidente da Abeprest, "ao longo do ano passado os pátios da empresa foram esvaziados sistematicamente". Foram vendidos material de montagem de torres de transmissão de telecomunicações, antenas, equipamentos de testes e de medição, a maioria importados.
Segundo a Folha apurou, desde julho a empresa vem liquidando estoques. Em 15 de agosto, a Eudósia, o braço operacional da Tecnosistemi, tentou retirar do seu pátio bens que estavam arrestados por ordem judicial.
O material (torres de telefonia celular) estava destinado a garantir o pagamento de uma dívida de R$ 2,5 milhões à CPML, que prestava serviços à Tecnosistemi. O material foi retido a pedido de advogados da CPML.


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