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Credor acusa fornecedora da TIM de fraude
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os credores da Tecnosistemi
Brasil, que teve sua falência decretada em novembro e suspensa no
mês seguinte pelo Tribunal de
Justiça de São Paulo, tentam impedir o desmanche dos ativos da
empresa. Ela é subsidiária do grupo italiano Tecnosistemi SpA e
fornecedora de equipamentos e
serviços de telefonia móvel para a
TIM (Telecom Italia Mobile).
A Tecnosistemi chegou ao país
em 1998 pelas mãos do então presidente da Parmalat no Brasil,
Gianni Grisendi. Ele teria colaborado na constituição da empresa
"a pedido do presidente da Parmalat [Calisto Tanzi]", segundo
seu depoimento no processo de
falência da Tecnosistemi.
A Tecnosistemi é acusada de
fraude na Justiça por ter vendido
sua participação na Servisite, uma
empresa saudável e avaliada em
R$ 8 milhões, às vésperas de pedir
concordata. Um dos credores,
uma empresa de engenharia do
interior de São Paulo, quer reverter o negócio para garantir os seus
créditos de R$ 3,5 milhões.
Segundo associados do escritório do advogado Sérgio Bermudes, que representam esse credor,
"a Tecnosistemi alienou suas cotas para fantoches concebidos especificamente para drenar e absorver sua parte lucrativa, deixando aos credores apenas o esqueleto". O negócio ocorreu em fevereiro de 2003 e, em abril, a Tecnosistemi pediu concordata.
No dia 27 de novembro, o juiz
da 42ª Vara Cível de São Paulo decretou a falência da Tecnosistemi
e de mais 14 empresas coligadas.
Em dezembro, a falência foi suspensa pelos desembargadores da
5ª e 6ª Câmaras do Tribunal de
Justiça de São Paulo. Na última
sexta-feira, a Incotep Indústria e
Comércio de Tubos Especiais de
Precisão, pediu a falência da Tecnosistemi.
Segundo um dos advogados da
Tecnosistemi, João Boyadjian, a
crise da Tecnosistemi Brasil é
conseqüência dos problemas enfrentados pela matriz, na Itália. A
Tecnosistemi SpA está em liquidação judicial e poderá ser vendida. "Se isso correr, a empresa no
Brasil receberá recursos para saldar seus compromissos", diz.
Boyadjian esclareceu que não
representa a Tecnosistemi na
ação movida pelo escritório Sérgio Bermudes. Os representantes
da empresa não falam sobre a crise da companhia, segundo ele.
Teia societária
Os advogados do escritório Sérgio Bermudes descobriram que a
venda das cotas da Tecnosistemi
cursou uma intrincada rede de
empresas sem jamais sair do controle do grupo. Elas foram vendidas à Netsinergy, "uma empresa
cujo representante legal é o presidente da Tecnosistemi Brasil,
Cláudio Rafaelli".
Em seguida, as cotas foram repassadas à Telldor Investment,
uma off-shore constituída no
Uruguai" e cujo procurador é,
também Rafaelli. A teia por onde
se tentou "esterilizar" as cotas da
Servisite termina na CRAL
-Carvalho Consultoria e Participações, "uma modesta empresa
situada em Juquitiba [Grande São
Paulo]". Ela adquiriu cotas da
uruguaia Telldor "de modo que
ambas ficassem com 50% do capital social", dizem os advogados.
Quem controla a CRAL é Draja
Mihajlovic, ex-presidente da TIM.
Os advogados do escritório Sérgio Bermudes obtiveram, em
agosto, uma liminar que brecou a
trajetória das cotas da Servisite.
"O objetivo foi impedir que as cotas continuassem sendo repassadas e perdêssemos seu rastro",
afirma o advogado Alfredo Barbosa Migliore.
Segundo Boyadjian, advogado
da Tecnosistemi, Cláudio Rafaelli
não representa mais a empresa no
Brasil, por isso não pode dar declarações em nome da empresa.
Pátio vazio
Além desse caso que corre na
Justiça, um grupo de 11 credores,
representados pela Abeprest (Associação Brasileira das Empresas
Prestadores de Serviços em Telecomunicações) vem se mobilizando para garantir seus créditos.
Trata-se de empresas de pequeno e médio porte, que têm a receber R$ 5,5 milhões. A Abeprest
chegou a recorrer à embaixada
italiana no Brasil, no ano passado,
em busca de ajuda, sem resultado.
Também procurou ajuda da TIM,
mas ela disse ter um saldo pequeno a pagar à Tecnosistemi.
Em nota oficial, a TIM informou na última semana, que não
tem qualquer vínculo acionário
com a Tecnosistemi e suas coligadas e que honrou todos os pagamentos com a empresa.
Segundo Herald Weiss, presidente da Abeprest, "ao longo do
ano passado os pátios da empresa
foram esvaziados sistematicamente". Foram vendidos material
de montagem de torres de transmissão de telecomunicações, antenas, equipamentos de testes e de
medição, a maioria importados.
Segundo a Folha apurou, desde
julho a empresa vem liquidando
estoques. Em 15 de agosto, a Eudósia, o braço operacional da Tecnosistemi, tentou retirar do seu
pátio bens que estavam arrestados por ordem judicial.
O material (torres de telefonia
celular) estava destinado a garantir o pagamento de uma dívida de
R$ 2,5 milhões à CPML, que prestava serviços à Tecnosistemi. O
material foi retido a pedido de advogados da CPML.
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