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POLÍTICA ECONÔMICA
Economistas defendem em livro medidas alternativas, como câmbio administrado e controle de capitais
Inflação não se domina com juro, diz estudo
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Retornar ao regime de câmbio
administrado, não usar mais a taxa de juros para manter a inflação
baixa e adotar mecanismos de
controle de fluxo de capitais internacionais são algumas das propostas que estão no livro "Agenda
Brasil", escrito por um grupo de
13 economistas tidos como desenvolvimentistas.
O trabalho se propõe a apresentar um conjunto de medidas que,
se aplicadas em conjunto, são
uma "alternativa responsável, boa
e não radical" à atual política econômica, segundo o economista da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro) Fernando Cardim, um dos autores do livro.
"Não tem nada de socialista. É
economia de mercado. Talvez seja
mais parecido com propostas da
social-democracia européia", diz.
Ao defender o final do controle
da inflação por meio da alta dos
juros, o economista da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Luiz Fernando de Paula,
um dos organizadores do livro,
diz que é necessário proibir todas
as formas de indexação de preços.
No caso das tarifas, seria abandonada a correção por índice de
preços. Os aumentos acompanhariam uma planilha de custos.
Reajustes salariais e margens de
lucros seriam discutidos em fóruns, com a participação de governo e sociedade.
Para Cardim, mudar a forma de
correção das tarifas não caracteriza rompimento de contrato: "Foi
um erro do processo de privatização [a correção por índices de
preço]. É uma pressão inflacionária imediata. Tem de renegociar.
Não faz sentido que empresas não
corram risco".
José Luís Oreiro, economista da
UFPR (Universidade Federal do
Paraná) e também coordenador
do trabalho, diz que a mudança
de regime cambial é outra forma
de segurar a inflação. Nos anos recentes, diz, dois foram os motivos
para a alta dos índices: disparada
do dólar e aumento da tarifas.
Os autores do livro defendem
um regime de minidesvalorizações programadas do câmbio. A
livre flutuação, dizem, gera grande volatilidade. Tal mudança só
poderia ocorrer acompanhada de
mecanismos de controle do fluxo
de capitais, diz Oreiro.
Duas são as maneiras propostas
para regular os capitais internacionais: alíquotas diferenciadas e
progressivas (quanto mais tempo
o capital ficar no país, menor o
imposto) do IOF (Imposto sobre
Operações Financeiras) e um depósito compulsório no Banco
Central pelo prazo de um ano para os recursos que ingressarem no
Brasil.
Só assim o país conseguiria uma
blindagem contra choques externos, impedindo fugas abruptas
em períodos de crise, avalia João
Sicsú, economista da UFRJ e
coordenador do "Agenda Brasil".
É, segundo ele, algo adotado pelos países que têm liderado o crescimento no mundo. "Todos os
países que têm crescido muito,
como China e Índia, controlam
capitais. Não há experiência negativa. O que há é preconceito."
Defendendo o controle de capitais, ele afirmou que os países hoje
desenvolvidos, como França e Inglaterra, usaram o expediente até
a década de 80.
Sicsú diz que a decisão do BC de
comprar dólares para recompor
reservas é um modo, ainda que
sutil, de administrar o nível do
câmbio. Pelas propostas da
"Agenda Brasil", a taxa de juro
real de "equilíbrio" (quando há
ausência de pressões de demanda) teria de ser hoje de 6%. Está
em 12%. Segundo Cardim, com o
controle de capitais, a desindexação dos preços e a volta do câmbio
administrado, esse patamar poderia ser atingido rapidamente, e
o país cresceria de 4% a 5% ao
ano. Os economistas que escreveram o trabalho defendem ainda
uma ruptura com o FMI. Para implementar as medidas, dizem,
não é possível manter o acordo.
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