São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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Governo toma medidas para evitar apagão

Petrobras irá reduzir consumo próprio de gás, e será contratada energia de reserva para garantir o abastecimento

Bagaço de cana pode ser mais usado como fonte energética; Lobão, novo ministro, diz que não haverá escassez neste ano

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Embora negue o risco de racionamento, o governo anunciou ontem duas medidas para aumentar a segurança no abastecimento de energia e evitar um apagão.
São elas: 1) regulamentou a contratação de energia de reserva -espécie de "seguro-apagão", adotado em 2002 no fim do racionamento e extinto em 2005-, cuja conta será paga por todos os consumidores, e 2) confirmou a redução do consumo de gás da Petrobras para elevar a oferta do produto para as termelétricas, em estudo desde o começo do mês.
O governo não trata a situação dessa forma, mas as duas medidas compõem um pacote que vem sendo anunciado desde dezembro, quando o governo percebeu que as chuvas não estavam caindo na quantidade esperada.
Desde então, já foram acionadas termelétricas a óleo, e foi elevada a oferta de energia enviada do Sul para o Sudeste e do Sudeste para o Nordeste.
A energia de reserva deverá ser contratada pelas distribuidoras por meio de leilão a partir de volumes definidos pelo governo. O custo será pago pelos consumidores, como ocorreu no passado. A expectativa do governo é que seja contratada energia de termelétrica produzida a partir de bagaço de cana. Na época do racionamento a fonte foi óleo, e o "seguro" teve um custo muito mais alto do que se espera agora.
A energia que for contratada como reserva só será gerada caso haja escassez de chuvas, problemas nas outras usinas ou um crescimento maior da demanda. O custo da "disponibilidade", ou aluguel da sua capacidade de geração, é pago por todos os consumidores, mesmo que a energia não seja gerada.
O Ministério de Minas e Energia negou que a regulamentação da medida esteja vinculada ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Segundo o governo, a energia de reserva já estava prevista no novo modelo do setor. O primeiro leilão para comprar energia de reserva deve acontecer no fim de abril.
O governo, no entanto, se diz tranqüilo e nega risco de racionamento. "Em março os reservatórios das hidrelétricas estarão vertendo", afirmou o novo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. "Para este ano não há problemas, para o próximo, estamos tomando as providências para que não haja", disse. Lobão, que ainda não tomou posse, falou após reunião com o ex-ministro, Nelson Hubner, e técnicos do setor.

Gás da Petrobras
O governo espera que a redução do consumo de gás pela Petrobras permita às usinas termelétricas aumentarem a geração de energia em 750 MW (megawatts). A estatal, que usa gás nas refinarias como parte do processo de produção de derivados, irá substituir o combustível por óleo. A medida pode amenizar um pouco o gargalo do gás -as termelétricas que usam esse combustível poderiam, em tese, gerar aproximadamente 8.000 MW, mas não há gás para tudo isso.
Em maio do ano passado, a Petrobras, fornecedora do gás, assinou um termo de compromisso com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). De acordo com o documento, para o primeiro semestre deste ano só há garantia para a geração de 3.900 MW em termelétricas a gás. Até o final de 2011, a estatal se comprometeu a aumentar essa quantidade para 6.737 MW.
Para dar segurança ao abastecimento em 2009, o Ministério de Minas e Energia já informou que as termelétricas a gás deverão continuar gerando energia ao longo de todo o ano. Já as termelétricas a óleo, mais caras e mais poluentes, deverão ser desligadas tão logo a quantidade de chuvas aumente e os reservatórios encham.
Além do gás, o governo está tentando resolver problemas de logística de entrega de óleo para usinas. A termelétrica de Cuiabá (MT) vai gerar 195 MW com óleo. Essa usina tem capacidade para gerar até 390 MW a gás, mas teve o suprimento de combustível cortado pela Bolívia.


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