Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vou consultar sempre a Dilma, afirma Lobão
Novo ministro de Minas e Energia descarta riscos no abastecimento em 2008
Indicado por Sarney, Lobão defende construção de
usina nuclear no Nordeste e diz que seu filho, alvo de investigação, é inocente
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nomeado ministro de Minas
e Energia, Edison Lobão
(PMDB-MA), 71, preferiu ontem ser genérico ao tocar em
assuntos ligados ao setor elétrico e disse que vai consultar
sempre a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a manda-chuva da área. Ele foi indicado pela bancada do PMDB e
teve como seu principal fiador
o senador José Sarney (AP).
Em entrevista à Folha, afirmou que não haverá dificuldades de fornecimento de energia
em 2008 e defendeu a construção de uma usina nuclear no
Nordeste.
Classificando como "especulações" o suposto veto de Dilma ao seu nome, Lobão disse
que já se reuniu duas vezes
com ela no Palácio do Planalto.
A primeira ocorreu minutos
depois de ser confirmado no
cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Vou consultá-la sempre", disse.
Advogado e jornalista, Lobão
defendeu-se das críticas de que
não estaria preparado para comandar a pasta. Disse que um
ministro sempre é político e
que Dilma concorda com ele.
"Ela, que é uma técnica, exerce
uma função política", afirmou.
Lobão demonstrou irritação
quando questionado sobre as
denúncias contra o seu filho,
Edison Lobão Filho (DEM-MA), que também é seu suplente. A principal delas é que
ele teria usado laranjas.
FOLHA - Como foram as primeiras
conversas com Dilma?
EDISON LOBÃO - Esclarecedoras.
Pedi que ela me fizesse um relato sobre a questão energética
no país e, sobretudo, a participação do ministério no PAC
[Programa de Aceleração do
Crescimento]. A ministra foi
autora do modelo energético
atual, que está em prática.
Portanto ela é uma fonte que
deve ser considerada e consultada sempre que necessário.
Não tenho nenhuma vaidade.
Vou consultá-la sempre que
precisar.
FOLHA - Num discurso no Senado,
em julho do ano passado, o senhor
disse que haveria um risco iminente
de apagão. O senhor mudou de opinião?
LOBÃO - Hoje, inteirando-me
melhor dos planos estratégicos
do governo, estou convencido
de que não haverá dificuldade
no fornecimento de energia em
2008.
FOLHA - O risco oficial tolerável é
de 5%, mas o mercado avalia que o
risco está na casa de 20% para este
ano. Quais são os números do governo?
LOBÃO - Os números do governo são exatamente esses 5%, o
risco mínimo. Não estamos trabalhando com outros números.
FOLHA - Quanto de energia o país
precisa agregar ao parque gerador
para sustentar um crescimento de
5% ao ano?
LOBÃO - Nós teremos até 2030
uma elevação substancial na
produção de energia com as novas hidrelétricas que estamos
já construindo e outras que serão licitadas. Neste ano e no
próximo.
FOLHA - Qual é a capacidade máxima de produção de energia no país?
LOBÃO - Só no Norte do Brasil,
nós temos ainda cerca de 130
mil megawatts por construir.
Nossa capacidade é ampla em
matéria de hidrelétricas. Nós
temos de buscar outras alternativas.
FOLHA - O senhor é a favor da construção de mais usinas nucleares?
LOBÃO - Inteiramente favorável. Vou defender isso. Estamos
com a autorização do presidente para reiniciar Angra 3 e vamos construir outras usinas
nucleares em outros Estados
do Brasil.
FOLHA - Em que parte do país?
LOBÃO - Isso haveremos de localizar, mas no Nordeste certamente.
FOLHA - Como o senhor avalia essas notícias de que existe uma guerra entre o PT e o PMDB sobre os postos no setor elétrico?
LOBÃO - Não há nenhuma
guerra. Há o interesse de indicar pessoas qualificadas. Tanto
o PT faz indicações como o
PMDB e outros partidos poderão fazê-lo.
FOLHA - Em alguma medida, essas
informações que saíram a respeito
de seu filho [o Ministério Público estadual investiga, no Maranhão, se
duas empresas pertencem ao suplente de senador Edison Lobão Filho (DEM) e se, em nome de laranjas,
foram usadas em esquema de sonegação] têm a ver com essa disputa?
LOBÃO - Não encontraram absolutamente nada contra o
meu nome e partiram então para ferir a minha família. Meu filho é inocente. Ele disse que
pretende se licenciar para não
ter imunidade parlamentar e
cuidar de sua defesa.
FOLHA - O senhor chegou a falar
com ele sobre a distribuidora de bebidas Bemar?
LOBÃO - Eu não quero falar sobre esse assunto. Isso é uma
questão que ele vai explicar definitivamente. Esse assunto
não me pertence [ameaça parar
a entrevista].
FOLHA - O senhor já fez várias declarações positivas sobre o presidente Ernesto Geisel. Como o vê em relação ao presidente Lula?
LOBÃO - Cada qual deles têm a
sua característica. O presidente
Geisel tinha a noção exata de
como deveria se proceder o
avanço econômico e industrial
do Brasil. A energia nuclear,
por exemplo, foi uma iniciativa
dele. O presidente Lula... eu
não preciso falar sobre ele porque o Brasil inteiro conhece os
êxitos do governo dele.
FOLHA - Houve confusão na audiência com Lula? O sr. foi chamado,
mas depois foi remarcado?
LOBÃO - Não houve exatamente confusão. O presidente chegou cansado [de Cuba] e aventou a hipótese de adiar para hoje [ontem]. Depois, ele mesmo
encontrou uma possibilidade e
me chamou.
FOLHA - Para o senhor, um ministro não precisa ter conhecimento
profundo do setor?
LOBÃO - Qualquer cadeira ministerial é exercida politicamente. É da natureza.
Colaborou HUMBERTO MEDINA, da Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Ministro já tem nomes para nova equipe Índice
|