São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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Vou consultar sempre a Dilma, afirma Lobão

Novo ministro de Minas e Energia descarta riscos no abastecimento em 2008

Indicado por Sarney, Lobão defende construção de usina nuclear no Nordeste e diz que seu filho, alvo de investigação, é inocente

ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nomeado ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), 71, preferiu ontem ser genérico ao tocar em assuntos ligados ao setor elétrico e disse que vai consultar sempre a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a manda-chuva da área. Ele foi indicado pela bancada do PMDB e teve como seu principal fiador o senador José Sarney (AP).
Em entrevista à Folha, afirmou que não haverá dificuldades de fornecimento de energia em 2008 e defendeu a construção de uma usina nuclear no Nordeste.
Classificando como "especulações" o suposto veto de Dilma ao seu nome, Lobão disse que já se reuniu duas vezes com ela no Palácio do Planalto.
A primeira ocorreu minutos depois de ser confirmado no cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Vou consultá-la sempre", disse.
Advogado e jornalista, Lobão defendeu-se das críticas de que não estaria preparado para comandar a pasta. Disse que um ministro sempre é político e que Dilma concorda com ele.
"Ela, que é uma técnica, exerce uma função política", afirmou.
Lobão demonstrou irritação quando questionado sobre as denúncias contra o seu filho, Edison Lobão Filho (DEM-MA), que também é seu suplente. A principal delas é que ele teria usado laranjas.

 

FOLHA - Como foram as primeiras conversas com Dilma?
EDISON LOBÃO -
Esclarecedoras. Pedi que ela me fizesse um relato sobre a questão energética no país e, sobretudo, a participação do ministério no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. A ministra foi autora do modelo energético atual, que está em prática. Portanto ela é uma fonte que deve ser considerada e consultada sempre que necessário. Não tenho nenhuma vaidade. Vou consultá-la sempre que precisar.

FOLHA - Num discurso no Senado, em julho do ano passado, o senhor disse que haveria um risco iminente de apagão. O senhor mudou de opinião?
LOBÃO -
Hoje, inteirando-me melhor dos planos estratégicos do governo, estou convencido de que não haverá dificuldade no fornecimento de energia em 2008.

FOLHA - O risco oficial tolerável é de 5%, mas o mercado avalia que o risco está na casa de 20% para este ano. Quais são os números do governo?
LOBÃO -
Os números do governo são exatamente esses 5%, o risco mínimo. Não estamos trabalhando com outros números.

FOLHA - Quanto de energia o país precisa agregar ao parque gerador para sustentar um crescimento de 5% ao ano?
LOBÃO -
Nós teremos até 2030 uma elevação substancial na produção de energia com as novas hidrelétricas que estamos já construindo e outras que serão licitadas. Neste ano e no próximo.

FOLHA - Qual é a capacidade máxima de produção de energia no país?
LOBÃO -
Só no Norte do Brasil, nós temos ainda cerca de 130 mil megawatts por construir. Nossa capacidade é ampla em matéria de hidrelétricas. Nós temos de buscar outras alternativas.

FOLHA - O senhor é a favor da construção de mais usinas nucleares?
LOBÃO -
Inteiramente favorável. Vou defender isso. Estamos com a autorização do presidente para reiniciar Angra 3 e vamos construir outras usinas nucleares em outros Estados do Brasil.

FOLHA - Em que parte do país?
LOBÃO -
Isso haveremos de localizar, mas no Nordeste certamente.

FOLHA - Como o senhor avalia essas notícias de que existe uma guerra entre o PT e o PMDB sobre os postos no setor elétrico?
LOBÃO -
Não há nenhuma guerra. Há o interesse de indicar pessoas qualificadas. Tanto o PT faz indicações como o PMDB e outros partidos poderão fazê-lo.

FOLHA - Em alguma medida, essas informações que saíram a respeito de seu filho [o Ministério Público estadual investiga, no Maranhão, se duas empresas pertencem ao suplente de senador Edison Lobão Filho (DEM) e se, em nome de laranjas, foram usadas em esquema de sonegação] têm a ver com essa disputa?
LOBÃO -
Não encontraram absolutamente nada contra o meu nome e partiram então para ferir a minha família. Meu filho é inocente. Ele disse que pretende se licenciar para não ter imunidade parlamentar e cuidar de sua defesa.

FOLHA - O senhor chegou a falar com ele sobre a distribuidora de bebidas Bemar?
LOBÃO -
Eu não quero falar sobre esse assunto. Isso é uma questão que ele vai explicar definitivamente. Esse assunto não me pertence [ameaça parar a entrevista].

FOLHA - O senhor já fez várias declarações positivas sobre o presidente Ernesto Geisel. Como o vê em relação ao presidente Lula?
LOBÃO -
Cada qual deles têm a sua característica. O presidente Geisel tinha a noção exata de como deveria se proceder o avanço econômico e industrial do Brasil. A energia nuclear, por exemplo, foi uma iniciativa dele. O presidente Lula... eu não preciso falar sobre ele porque o Brasil inteiro conhece os êxitos do governo dele.

FOLHA - Houve confusão na audiência com Lula? O sr. foi chamado, mas depois foi remarcado?
LOBÃO -
Não houve exatamente confusão. O presidente chegou cansado [de Cuba] e aventou a hipótese de adiar para hoje [ontem]. Depois, ele mesmo encontrou uma possibilidade e me chamou.

FOLHA - Para o senhor, um ministro não precisa ter conhecimento profundo do setor?
LOBÃO -
Qualquer cadeira ministerial é exercida politicamente. É da natureza.


Colaborou HUMBERTO MEDINA, da Sucursal de Brasília


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