|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Análise
"Acordos para reduzir salário são prematuros"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A queda-de-braço entre
sindicatos e empresas para
flexibilizar relações de trabalho será infrutífera se os trabalhadores e os empresários
não discutirem soluções para preservar o crescimento
da economia e a geração de
empregos, diz Cláudio Dedecca, professor de economia da Unicamp especializado em relações de trabalho.
Durante a semana passada, a Força Sindical começou
a negociar com a Fiesp (Federação da Indústria do Estado de São Paulo) modelos
de acordos que previam, por
exemplo, redução de jornada
com diminuição do salário. A
Força, entretanto, suspendeu as reuniões depois que
empresários disseram que
não podiam garantir o nível
de emprego mesmo se os
acordos fossem fechados.
Dedecca afirma que a iniciativa das entidades é prematura. "Pesquisas sobre
mercado de trabalho estão
mostrando um sinal amarelo, mas em termos objetivos
temos desemprego somente
em alguns setores."
O economista defende
que, em vez de costurar acordos de redução de jornada e
de salário, empresários e
centrais debatam com o governo um conjunto de medidas para buscar um crescimento de, pelo menos, 3%
neste ano.
"Caso a Fiesp e a Força
consigam uma generalização
dos acordos trabalhistas, o
resultado será a diminuição
na renda dos trabalhadores,
o que deverá provocar redução do consumo e deve retrair ainda mais a atividade
econômica", diz ele.
Para o professor da Unicamp, com o aumento do salário mínimo marcado para
este ano, haverá impactos
positivos no consumo, principalmente para os setores
de vestuário e alimentação.
"O lado positivo é que o governo não abraçou a ideia de
que nada mais pode ser feito
[para salvar o emprego], mas
os empresários e os sindicalistas têm que ter propostas
convergentes."
Dedecca destaca que a redução dos juros e a flexibilização temporária do superávit primário como medidas
possíveis para estimular a
geração de empregos, caso o
governo se mostre disposto a
incorporá-las na sua política
econômica.
Para o pesquisador, as centrais sindicais devem indicar,
em conjunto com os empresários, políticas públicas que
possam beneficiar diferentes
setores. "A iniciativa costurada pela Fiesp e pela Força
Sindical pode ter alguma
aderência no setor industrial, mas é inviável na agricultura e nos serviços", diz o
professor da Unicamp.
Julio Gomes de Almeida,
ex-secretário de Política
Econômica do Ministério da
Fazenda, concorda que a
principal discussão neste
momento deveria ser a de
encontrar alternativas para o
crescimento econômico.
"Nós temos que ver a hierarquia das medidas e das
ações para não cairmos em
falsas tentações. A medida
principal, que o governo está
devendo, é criar políticas para reativar a economia", diz.
Para Gomes de Almeida, o
governo federal deve retomar o processo de redução
dos juros. "É muito difícil incentivar o consumo e o investimento privado, mas o
governo tem que procurar
minimizar a queda com medidas, principalmente, nas
áreas monetária e fiscal."
Texto Anterior: Bancos: HSBC anuncia demissões; sindicato fala em cem cortes Próximo Texto: Desemprego pressiona decisão do Copom Índice
|