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Folhainvest
Crise aumenta a concorrência na gestão de fortunas
Cautelosos após perdas pelo mundo, milionários pulverizam suas aplicações entre vários gestores e exigem melhor serviço
Setor foi testado no ano passado pela turbulência no mercado, temor de quebra de instituições e escândalo do gestor Bernard Madoff
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise financeira e, depois, a
rápida recuperação econômica,
acirraram a concorrência no fechado mercado de gestão de
fortunas de novos e velhos ricos
brasileiros, o qual se tornou um
dos mais cobiçados do mundo.
O cliente pessoa física abastado, que tem um "tíquete mínimo" de R$ 2 milhões para investir, tem sido disputado pelas
áreas de "private banking"
(gestão de fortunas) de todas as
instituições financeiras, além
dos tradicionais bancos suíços
que ainda dominam o atendimento a milionários no mundo.
Para o banco, um cliente
"private" costuma render mais
do que agências inteiras do varejo no país.
Os endinheirados são ainda
assediados por dezenas de butiques de investimento, casas tocadas por ex-autoridades do
governo e por estrelas do setor
financeiro, e pelos escritórios
especializados em administração patrimonial, chamados de
"family offices".
No Brasil, o setor atende à
elite da elite dos investidores
pessoa física, que somam recursos internalizados (que estão no país) de pelo menos R$
260 bilhões -estima-se que os
milionários brasileiros tenham
mais R$ 150 bilhões no exterior
que poderiam ser repatriados
se houvesse uma anistia fiscal.
O cliente "private" não é
atendido por um simples gerente de banco, mas por um
banqueiro que tem MBA no exterior, fala idiomas, entende de
arte e é capaz de desenhar sozinho um investimento sob medida para as necessidades particulares de cada aplicador.
Diante da possibilidade de
perder (muito) dinheiro, ilustrada pela crise, o cliente que
até então deixava o dinheiro
rendendo sozinho no banco ficou mais alerta. Mais do que
nunca, passou a cobrar resultados dos gestores, orientação e
até exercício de futurologia sobre o desenrolar das turbulências financeiras.
Os altos e baixos do mercado
resultaram em uma completa
ebulição no negócio de gestão
de fortunas, com os clientes
buscando alternativas para reduzir a exposição ao risco e diversificar ao máximo os investimentos, segundo Elisa Guazzelli, da comissão de gestores
de patrimônio da Anbima (associação das entidades do mercado financeiro).
"Com a crise, ninguém ficou
acima de qualquer suspeita. Teve cliente que levou dinheiro de
um banco menor para outro
que parecia mais sólido. Outros
levaram uma parte de um fundo de um banco para o de uma
butique especializada em um
nicho de investimento. Outro
saiu de uma butique e foi para
outra. Cada caso foi um caso.
Houve uma pulverização de investimentos em várias instituições, bancos e butiques", diz.
Madoff e UBS
No mundo dos "private bankers", um banco trabalha com
fundos e produtos de outra instituição -a chamada "arquitetura aberta", que faz com que a
maioria dos clientes de uma
instituição seja também cliente
de outra concorrente.
Além da natureza que favorece a competição, o setor sofreu
diversos golpes quando ainda
comemorava a ascensão social
resultante das aberturas de capital na Bolsa, que criou vários
milionários.
A quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008,
trouxe o temor sobre a saúde financeira de outras instituições
de menor reputação, levando
os aplicadores a se refugiarem
nas mais sólidas.
O escândalo do gestor Bernard Madoff, o ex-presidente
da Nasdaq que pegava o dinheiro de milionários e não investia
em nada, colocou todo o mercado sob suspeita de negligenciar
os procedimentos de auditoria
e de contabilização dos fundos.
Finalmente, o suíço UBS, líder mundial da gestão de fortunas, rompeu a sociedade com o
Pactual e deixou centenas de
clientes no país. "Foi um ano
difícil, mas que terminou bem",
afirma Paulo Meirelles, diretor
do "private" do Itaú Unibanco.
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