São Paulo, segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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Folhainvest

Crise aumenta a concorrência na gestão de fortunas

Cautelosos após perdas pelo mundo, milionários pulverizam suas aplicações entre vários gestores e exigem melhor serviço

Setor foi testado no ano passado pela turbulência no mercado, temor de quebra de instituições e escândalo do gestor Bernard Madoff


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise financeira e, depois, a rápida recuperação econômica, acirraram a concorrência no fechado mercado de gestão de fortunas de novos e velhos ricos brasileiros, o qual se tornou um dos mais cobiçados do mundo.
O cliente pessoa física abastado, que tem um "tíquete mínimo" de R$ 2 milhões para investir, tem sido disputado pelas áreas de "private banking" (gestão de fortunas) de todas as instituições financeiras, além dos tradicionais bancos suíços que ainda dominam o atendimento a milionários no mundo.
Para o banco, um cliente "private" costuma render mais do que agências inteiras do varejo no país.
Os endinheirados são ainda assediados por dezenas de butiques de investimento, casas tocadas por ex-autoridades do governo e por estrelas do setor financeiro, e pelos escritórios especializados em administração patrimonial, chamados de "family offices".
No Brasil, o setor atende à elite da elite dos investidores pessoa física, que somam recursos internalizados (que estão no país) de pelo menos R$ 260 bilhões -estima-se que os milionários brasileiros tenham mais R$ 150 bilhões no exterior que poderiam ser repatriados se houvesse uma anistia fiscal.
O cliente "private" não é atendido por um simples gerente de banco, mas por um banqueiro que tem MBA no exterior, fala idiomas, entende de arte e é capaz de desenhar sozinho um investimento sob medida para as necessidades particulares de cada aplicador.
Diante da possibilidade de perder (muito) dinheiro, ilustrada pela crise, o cliente que até então deixava o dinheiro rendendo sozinho no banco ficou mais alerta. Mais do que nunca, passou a cobrar resultados dos gestores, orientação e até exercício de futurologia sobre o desenrolar das turbulências financeiras.
Os altos e baixos do mercado resultaram em uma completa ebulição no negócio de gestão de fortunas, com os clientes buscando alternativas para reduzir a exposição ao risco e diversificar ao máximo os investimentos, segundo Elisa Guazzelli, da comissão de gestores de patrimônio da Anbima (associação das entidades do mercado financeiro).
"Com a crise, ninguém ficou acima de qualquer suspeita. Teve cliente que levou dinheiro de um banco menor para outro que parecia mais sólido. Outros levaram uma parte de um fundo de um banco para o de uma butique especializada em um nicho de investimento. Outro saiu de uma butique e foi para outra. Cada caso foi um caso. Houve uma pulverização de investimentos em várias instituições, bancos e butiques", diz.

Madoff e UBS
No mundo dos "private bankers", um banco trabalha com fundos e produtos de outra instituição -a chamada "arquitetura aberta", que faz com que a maioria dos clientes de uma instituição seja também cliente de outra concorrente.
Além da natureza que favorece a competição, o setor sofreu diversos golpes quando ainda comemorava a ascensão social resultante das aberturas de capital na Bolsa, que criou vários milionários.
A quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, trouxe o temor sobre a saúde financeira de outras instituições de menor reputação, levando os aplicadores a se refugiarem nas mais sólidas.
O escândalo do gestor Bernard Madoff, o ex-presidente da Nasdaq que pegava o dinheiro de milionários e não investia em nada, colocou todo o mercado sob suspeita de negligenciar os procedimentos de auditoria e de contabilização dos fundos.
Finalmente, o suíço UBS, líder mundial da gestão de fortunas, rompeu a sociedade com o Pactual e deixou centenas de clientes no país. "Foi um ano difícil, mas que terminou bem", afirma Paulo Meirelles, diretor do "private" do Itaú Unibanco.


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