São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

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NEGOCIAÇÃO
Malan quer repasse de US$ 9 bilhões para aumentar as reservas internacionais; regra do câmbio sai às 9h
FMI resiste em liberar empréstimo

Rogéri Assis/Folha Imagem
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, em Washington, nos EUA


MARTA SALOMON
enviada especial a Washington

O governo enfrenta dificuldades para obter a liberação do repasse de nova parcela de empréstimos externos, que reforçaria as reservas com as quais o Banco Central vai enfrentar a partir de hoje o teste da nova política cambial.
Até as 20h30, o ministro Pedro Malan (Fazenda) e o novo presidente do BC, Francisco Lopes, não haviam obtido resposta da cúpula do FMI (Fundo Monetário Internacional), com a qual se reuniram nos últimos dois dias.
As conversas prosseguiam e foram "longas e difíceis", segundo o chefe de gabinete de Malan, João Batista Magalhães.
A Folha apurou que a expectativa do governo é de negociações mais difíceis apenas com relação à liberação de recursos. O apoio do Fundo à nova política cambial deve ser conseguido sem problema.
Lopes deixou a sede do FMI no final da tarde de ontem sem uma palavra sobre as negociações.
Além de explicar a nova política cambial, a missão brasileira pretendia antecipar o repasse de mais US$ 9 bilhões do empréstimo de US$ 41,5 bilhões acertado em novembro. Esse dinheiro reforçaria as reservas, que estariam entre US$ 27 bilhões e US$ 30 bilhões.
O piso definido para as reservas no acordo foi de US$ 20 bilhões.
O BC vai divulgar hoje, às 9h, comunicado sobre a nova política cambial. A desvalorização acumulada na semana passada ficou em 17,36%, percentual que pela política anterior levaria mais de dois anos para ser atingido.
No sábado, Malan recebeu, por telefone, o apoio do G-7 (o grupo dos sete países mais ricos do mundo) às mudanças no câmbio. O G-7 representa parte dos governos que promoveram a ajuda ao Brasil e que podem, agora, antecipar a liberação de mais dinheiro ao país.
A palavra mais forte é a dos EUA. O interlocutor do governo brasileiro até o final da tarde havia sido o subsecretário assistente do Tesouro norte-americano para América, Ásia e África, Daniel Zelikow.
No caso do dinheiro do FMI, o acordo prevê a possibilidade de antecipar a segunda parcela do empréstimo inicialmente acertada para fevereiro. Mas isso está condicionado ao cumprimento de metas de ajuste nas contas públicas. Para Malan, as metas acertadas até dezembro teriam sido cumpridas e, portanto, o país estaria apto a reivindicar a antecipação.
Malan chegou a Washington certo de que o acordo com o FMI não precisaria passar por uma revisão global depois da mudança da política cambial, que ocorreu sem consulta prévia ao FMI.
Segundo Malan, o país não tinha alternativa diante da insistente perda de reservas. "Há um momento em que você tem de dizer chega. Fui até aonde podia. É o jogo", afirmou em conversa com jornalistas no vôo para Washington. Ainda na viagem, o ministro disse que "tecnicamente" não tinha dúvidas de que receberia o apoio do FMI. As conversas revelaram-se mais complicadas. Participaram das reuniões o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, o vice-diretor, Stanley Fischer, o diretor do departamento do hemisfério ocidental, Cláudio Loser, sua vice, Teresa Ter-Minassian, e Lawrence Summers, secretário-adjunto do Tesouro dos EUA.



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