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LEITE DERRAMADO
Credores oferecem proposta de renegociação de débitos; empresa nega e diz que isso a estrangularia
Bancos cobram, sem êxito, "risco Parmalat"
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os bancos credores da Parmalat
Alimentos ofereceram propostas
de renegociação de débitos à empresa que foram rejeitadas pela
diretoria financeira da multinacional. As instituições embutiram
no preço o que elas chamam de
"risco Parmalat".
A companhia se negou a aceitar
o oferecido -ela necessita de recursos com urgência neste momento, para permanecer operando- porque acreditou que as
propostas iriam "estrangular"
ainda mais o grupo.
A Folha teve acesso a dados das
negociações entre as partes. Um
banco credor de pequeno porte
ofereceu o seguinte: aceitava colocar nas mãos da companhia R$ 3
milhões em janeiro, se recebesse
da empresa R$ 8 milhões em duplicatas. A proposta chegou a ser
apresentada a Andrea Ventura,
diretor financeiro do grupo até a
semana passada.
Duplicata é um título privado de
crédito em que consta que uma
empresa tem recursos a receber
por vendas feitas ao mercado.
Nesse caso, por vendas da Parmalat ao varejo. O banco pega esse
papel e, depois de um período, cobra o valor do comércio. Pela operação, o fabricante paga uma taxa.
Em operações semelhantes,
com o mesmo valor, feitas no
mercado entre bancos e companhias, as instituições financeiras
cobram taxas de juros de acordo
com o risco da companhia de pagar ou não o empréstimo. Companhias multinacionais de grande
porte, como Parmalat, em situações normais, pagariam pelo valor taxas de 1,3% a 1,8% ao mês,
segundo analistas de mercado.
Com base nessa taxa máxima
(1,8%), o banco deveria cobrar de
juros da empresa pouco mais de
R$ 80 mil, segundo contas realizada a pedido da Folha pela Anefac
(Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração
e Contabilidade). Essa simulação
leva em conta um prazo de desconto da duplicata de 45 dias
-prazo mínimo do mercado- e
se ele for estendido, o custo da
operação sobe para a empresa.
Esse não foi o único caso em que
o "risco Parmalat" foi embutido
nas negociações.
Outra sondagem feita por outro
banco credor vinculava a liberação de novos recursos à empresa
ao pagamento de dívidas antigas.
Exemplo: para emprestar R$ 10
milhões, a Parmalat ficaria com
R$ 9 milhões e o restante (R$ 1 milhão) seria utilizado para pagar
débitos antigos com o banco.
Com isso, as dívidas da empresa
iriam aumentando.
Os bancos não se manifestaram
sobre o assunto. Na lista de credores estão o Bank of America, Banco do Brasil -o maior credor,
com débitos a receber de R$ 120
milhões-, banco Fibra, Sumitomo, entre outros.
Segundo a Folha apurou, o Sumitomo foi um dos poucos que
não aceitou trocar duplicatas ou
vincular a liberação de novos empréstimos ao pagamento de antigas dívidas.
A Parmalat Alimentos e a holding (Parmalat Participações)
têm dívidas de US$ 1,7 bilhão. A
primeira precisa de R$ 75 milhões
para voltar a operar e já atrasou o
pagamento de fornecedores.
A Folha apurou que empresas
de "venture capital" tiveram interesse na compra de ativos da Parmalat, mas acabaram desistindo
da idéia por não saber a quem fazer a proposta. Os gestores foram
destituídos pela Justiça. E havia o
risco de os atuais interventores serem afastados por liminar solicitada pelos advogados da empresa.
Colaborou Fátima Fernandes,
da Reportagem Local
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