São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Credores oferecem proposta de renegociação de débitos; empresa nega e diz que isso a estrangularia

Bancos cobram, sem êxito, "risco Parmalat"

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos credores da Parmalat Alimentos ofereceram propostas de renegociação de débitos à empresa que foram rejeitadas pela diretoria financeira da multinacional. As instituições embutiram no preço o que elas chamam de "risco Parmalat".
A companhia se negou a aceitar o oferecido -ela necessita de recursos com urgência neste momento, para permanecer operando- porque acreditou que as propostas iriam "estrangular" ainda mais o grupo.
A Folha teve acesso a dados das negociações entre as partes. Um banco credor de pequeno porte ofereceu o seguinte: aceitava colocar nas mãos da companhia R$ 3 milhões em janeiro, se recebesse da empresa R$ 8 milhões em duplicatas. A proposta chegou a ser apresentada a Andrea Ventura, diretor financeiro do grupo até a semana passada.
Duplicata é um título privado de crédito em que consta que uma empresa tem recursos a receber por vendas feitas ao mercado. Nesse caso, por vendas da Parmalat ao varejo. O banco pega esse papel e, depois de um período, cobra o valor do comércio. Pela operação, o fabricante paga uma taxa.
Em operações semelhantes, com o mesmo valor, feitas no mercado entre bancos e companhias, as instituições financeiras cobram taxas de juros de acordo com o risco da companhia de pagar ou não o empréstimo. Companhias multinacionais de grande porte, como Parmalat, em situações normais, pagariam pelo valor taxas de 1,3% a 1,8% ao mês, segundo analistas de mercado.
Com base nessa taxa máxima (1,8%), o banco deveria cobrar de juros da empresa pouco mais de R$ 80 mil, segundo contas realizada a pedido da Folha pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Essa simulação leva em conta um prazo de desconto da duplicata de 45 dias -prazo mínimo do mercado- e se ele for estendido, o custo da operação sobe para a empresa.
Esse não foi o único caso em que o "risco Parmalat" foi embutido nas negociações.
Outra sondagem feita por outro banco credor vinculava a liberação de novos recursos à empresa ao pagamento de dívidas antigas. Exemplo: para emprestar R$ 10 milhões, a Parmalat ficaria com R$ 9 milhões e o restante (R$ 1 milhão) seria utilizado para pagar débitos antigos com o banco. Com isso, as dívidas da empresa iriam aumentando.
Os bancos não se manifestaram sobre o assunto. Na lista de credores estão o Bank of America, Banco do Brasil -o maior credor, com débitos a receber de R$ 120 milhões-, banco Fibra, Sumitomo, entre outros.
Segundo a Folha apurou, o Sumitomo foi um dos poucos que não aceitou trocar duplicatas ou vincular a liberação de novos empréstimos ao pagamento de antigas dívidas.
A Parmalat Alimentos e a holding (Parmalat Participações) têm dívidas de US$ 1,7 bilhão. A primeira precisa de R$ 75 milhões para voltar a operar e já atrasou o pagamento de fornecedores.
A Folha apurou que empresas de "venture capital" tiveram interesse na compra de ativos da Parmalat, mas acabaram desistindo da idéia por não saber a quem fazer a proposta. Os gestores foram destituídos pela Justiça. E havia o risco de os atuais interventores serem afastados por liminar solicitada pelos advogados da empresa.


Colaborou Fátima Fernandes, da Reportagem Local

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