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MARCOS CINTRA
Fim da CPMF e inflação
A hipótese mais provável
é que o fim da CPMF serviu
para aumentar as margens
de lucro das empresas
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OS CRÍTICOS da CPMF diziam
que ela era altamente inflacionária. Segundo eles, o tributo tinha um peso de 2% nos preços. Portanto, dada a magnitude do choque ocorrido com sua extinção,
era de esperar que poderia ocorrer
deflação. Mas nada disso aconteceu.
Com base na matriz interindustrial do IBGE, calculei o impacto da
CPMF sobre os preços em 42 setores da economia brasileira. Em seguida, comparei essa carga com os
dados do IPCA de janeiro, divulgados na semana passada, para aferir
se a extinção do "tributo do cheque"
teve efeito sobre a inflação. A precisão dessa análise requer avaliações
mais pormenorizadas, mas a comparação entre o que ocorreu com os
preços no primeiro mês sem a contribuição e o peso que ela tinha nos
setores produtivos é um sinalizador
imediato para que se apure se, do
ponto de vista da inflação, a extinção
da CPMF foi um avanço.
A CPMF representava, em média,
1,61% no preço dos bens e serviços.
Portanto, sua extinção deveria reduzir os preços em torno disso, supondo repasse total desse impacto nos
preços ao consumidor. Porém o IBGE apontou que em janeiro o IPCA
subiu 0,54%. Obviamente, fatores
como sazonalidade, a estrutura de
cada setor produtivo e o ritmo da
atividade econômica devem ser considerados para fazer uma análise
mais precisa. Mas, neste primeiro
momento, a expectativa que se criou
é que os preços cairiam sem o tributo, dada a magnitude do esperado
choque de preços causado pela extinção da CPMF.
É oportuno primeiramente fazer
algumas considerações a respeito de
índice global. Quando se compara
janeiro de 2007 com o mesmo mês
de 2008, vê-se que o IPCA atual se
posicionou 0,10 ponto percentual
acima do registrado no ano passado.
Já o acumulado de 12 meses no primeiro mês deste ano (4,56%) manteve a trajetória de crescimento observada em dezembro de 2007
(4,46%).
Quanto ao núcleo do IPCA, observa-se que o índice saiu de 0,35% em
janeiro de 2007 para 0,41% no mesmo mês de 2008. O acumulado de 12
meses passou de 3,62% em dezembro de 2007 para 3,68% no mês seguinte. Portanto, observa-se que em
todas essas comparações a inflação
global subiu em vez de cair.
Em termos de comparação setorial, o peso da CPMF é de no máximo 2,25% na indústria do café. Segundo alguns críticos do tributo, esse setor deveria reduzir seus preços
em torno disso, mas o IPCA mostrou que no caso do café moído houve inflação de 0,16% e, no solúvel, a
redução de preços foi de apenas
0,73%.
No setor de eletroeletrônicos, a
CPMF tinha custo tributário de
1,74% sobre o faturamento, mas
seus preços aumentaram 0,11%; na
indústria automobilística, o tributo
pesava 1,69% e houve inflação de
0,26%; na indústria farmacêutica, o
tributo representava 1,49%, mas o
IPCA registrou 0,15%. Na área de
transportes, que tem peso elevado
para os consumidores, a CPMF representava 1,33%, mas os preços aumentaram 0,4%; e, nos serviços pessoais, em que o ônus do tributo era
de 1,31%, os preços cresceram
0,64%.
A inflação mensal de janeiro perdeu fôlego em relação a dezembro,
mas isso está longe de ser explicado
pelo fim da CPMF. Muito pelo contrário, a comparação setorial mostra
que a hipótese mais provável é que a
redução do custo tributário serviu
para aumentar as margens de lucro
das empresas.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE , 62,
doutor pela Universidade Harvard (EUA), professor titular
e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, foi deputado federal (1999-2003). É autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a
cada 15 dias, nesta coluna.
Internet: www.marcoscintra.org
mcintra@marcoscintra.org
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