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Mulheres trabalham menos tempo em casa
Com mercado de trabalho feminino aquecido e renda em alta, tempo semanal gasto em tarefas domésticas cai 5 horas desde 2001
Vagas em setores como comércio e serviços ganham participação no mercado, e acesso a bens de consumo agiliza trabalho no domicílio
VERENA FORNETTI
DA REDAÇÃO
O número de horas que as
mulheres dedicam aos afazeres
domésticos está diminuindo. A
carga horária média empregada em tarefas como a limpeza
da casa e o cuidado das crianças
e dos idosos passou de 28,9 horas por semana em 2001 para
23,9 horas em 2008, segundo o
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
A mudança se relaciona com
o crescimento da participação
das mulheres no mercado de
trabalho, com o avanço da renda, que permite a compra de
bens que agilizam o cuidado
com a casa -como o micro-ondas, o liquidificador e a máquina de lavar- e com a melhora,
ainda que modesta, da divisão
de tarefas domésticas entre os
homens e as mulheres.
Ana Lúcia Sabóia, gerente do
IBGE, destaca que, com a melhora na renda nos últimos
anos, mais famílias têm acesso
a eletrodomésticos. "A cada
ano, cresce o acesso a bens de
consumo. A máquina de lavar,
por exemplo, é um dos itens
mais libertadores da mulher e
ainda não é um bem universal
no país, como a geladeira já é."
O acesso a serviços públicos
também contribui para a queda
no tempo gasto nas tarefas relacionadas à casa, uma vez que
a matrícula dos filhos em creches e escolas permite que a
mulher exerça outras atividades. E o aumento da renda possibilita a contratação de empregadas ou diaristas para exercer
essas atividades dentro da casa.
"As mulheres foram para a
rua", afirma Hildete de Araújo,
especialista da Universidade
Federal Fluminense, que destaca o aumento da participação
das mulheres na População
Economicamente Ativa. Segundo o IBGE, em 2008, 47,2%
das mulheres com dez anos ou
mais no país estavam ocupadas.
Em 1992, eram 43,4%.
Ela diz que o IBGE fez antes
da piora da crise as entrevistas
para a Pnad 2008, que apontou
a diminuição do tempo gasto na
realização das tarefas domésticas. Na ocasião, cresciam os setores que empregam boa parte
da mão de obra feminina, como
comércio e serviços.
Em 2009, apesar do impacto
da recessão econômica, esses
segmentos também estiveram
aquecidos, o que indica que
continua crescendo a participação das mulheres no mercado de trabalho. A Pnad 2009 será divulgada no fim deste ano.
Número subestimado
A pesquisadora afirma que o
número de horas dedicadas à
casa apontado pela pesquisa está subestimado. Segundo Araújo, os dados referentes ao trabalho realizado pelo homem dentro do domicílio também podem estar distorcidos. "Existe o
preconceito de que trabalho
doméstico é coisa de mulher e,
portanto, não é valorizado."
O professor da Unicamp
Claudio Dedecca reforça essa
percepção: "Os homens podem
responder ao pesquisador do
IBGE que o tempo para lavar o
carro conta como afazer doméstico. E, por outro lado, a
mulher pode não considerar
atividades como a de levar os filhos à escola porque acha que
são coisas normais do dia a dia".
O IBGE incluiu a pergunta
sobre dedicação a essas tarefas
em 2001. Mas, mesmo com a
ressalva de que o número do
IBGE pode estar aquém do real
e de que a pesquisa é recente
-e, portanto, a base de dados
para a análise ainda é limitada-, Dedecca diz que a diminuição das horas dedicadas ao
lar revela avanço na sociedade.
"Uma parte do trabalho doméstico não se pode exteriorizar -por exemplo, a atenção
dedicada à formação dos filhos.
Mas outra parte espero que o
poder público assuma, com escola integral, creches etc."
Classes sociais
Os números do IBGE também revelam que, quanto menor é a escolaridade -e, por
conseguinte, a renda-, maior é
o tempo dedicado à casa. Mulheres que estudaram 15 ou
mais anos empregam quase a
metade do tempo nessas tarefas do que o gasto pelas que frequentaram a escola por até um
ano.
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