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ENCALHE
Desavença entre nomeados de PT, PTB e PL impede reforma, e só 36% da verba disponível é usada; embarque de soja pode atrasar
Disputa política emperra porto de Santos
FERNANDO CANZIAN
MAURO ZAFALON
DA REPORTAGEM LOCAL
A semana foi de caos no porto
de Santos. O aumento do fluxo da
safra de grãos jogou luz sobre a
falta de estrutura, planejamento e
investimentos na principal saída
das exportações brasileiras.
Milhares de caminhões entupiram a baixada, reuniões de emergência foram acionadas até com a
vizinha Cubatão e repetiram-se
longas filas de espera para chegar
ao cais e carregar navios.
Segundo algumas das maiores
empresas exportadoras de commodities do país, o "loteamento
político" da Codesp (Companhia
Docas do Estado de São Paulo),
empresa federal que administra o
porto de Santos, está na base dos
problemas atuais, que tendem a
se agravar nas próximas semanas.
O deputado federal Vicente
Cascione (PTB), vice-líder do governo Lula na Câmara, confirma
que a presidência e as três diretorias do porto têm problemas de
entendimento e foram loteadas
entre o seu partido, o PT e o PL.
"A briga não é de hoje. Há várias
colisões entre as diretorias e a presidência", afirma Cascione.
O problema de Santos não é dinheiro. No ano passado, segundo
dados do Ministério dos Transportes, o porto só conseguiu gastar 36% da verba federal autorizada pela União para investimentos.
De uma previsão inicial de R$
101,3 milhões, no início de 2005, o
governo federal acabou autorizando R$ 38,4 milhões. Mesmo
assim, a atual administração do
porto só conseguiu gastar efetivamente R$ 13,9 milhões.
As duas principais obras para
desafogar Santos, a ampliação das
vias de acesso -epicentro do
caos desta semana- e o aprofundamento da calha dos canais de
navegação, não avançaram. A Codesp afirma que a burocracia ambiental vem retardando as obras
necessárias, daí o retardo em gastar o dinheiro disponível.
Porto caro
A falta de investimentos e a ingerência política, segundo as exportadoras, fazem de Santos um
dos portos mais caros do mundo.
O embarque de uma tonelada de
soja, por exemplo, custa US$ 6 em
Santos, 50% a mais que nos portos da Argentina.
Os problemas de logística levam
os fretes a terem custo até cinco
vezes maiores para Santos, também na comparação com o país
vizinho. O resultado de custos
maiores afeta toda a cadeia, já que
as grandes tradings compensam
os gastos pagando menos aos
produtores no campo.
O quadro em Santos tende a
piorar. Em 2006, a produção de
soja no país deve bater o recorde
de 58 milhões de toneladas. Cerca
de 25 milhões devem ser exportadas, a maior parte por Santos. Pela primeira vez, o Brasil assumirá
neste ano a liderança mundial nas
vendas externas de soja em grãos.
Na semana passada, a Folha ouviu três dos maiores exportadores
de commodities no país com terminais em Santos. Assim como
em outras áreas onde a concessão
para operar é pública, as empresas não querem ter os nomes citados para não sofrer represálias.
Segundo os empresários, o caos
da semana passada estava anunciado havia meses e só na última
hora a Codesp apresentou a solução: mandar os caminhões das
empresas para bolsões de estacionamento em Cubatão. Os custos e
a logística dessa operação tiveram
de ser negociados pelas empresas.
Segundo Ricardo Lascane, secretário de Indústria, Comércio,
Porto e Desenvolvimento de Cubatão, as vias de acesso aos estacionamentos indicados pela Codesp às empresas são péssimas e
precisariam de reformas para suportar a atual demanda.
Durante a semana passada,
houve várias reuniões emergenciais para tentar preparar o terreno para segunda e terça-feira próximas, quando nova leva de caminhões com soja chegará de outros
Estados. Se não der certo, a estratégia é começar a conter os veículos antes que desçam a serra.
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