São Paulo, sábado, 18 de março de 2006

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ENCALHE

Desavença entre nomeados de PT, PTB e PL impede reforma, e só 36% da verba disponível é usada; embarque de soja pode atrasar

Disputa política emperra porto de Santos

FERNANDO CANZIAN
MAURO ZAFALON
DA REPORTAGEM LOCAL

A semana foi de caos no porto de Santos. O aumento do fluxo da safra de grãos jogou luz sobre a falta de estrutura, planejamento e investimentos na principal saída das exportações brasileiras.
Milhares de caminhões entupiram a baixada, reuniões de emergência foram acionadas até com a vizinha Cubatão e repetiram-se longas filas de espera para chegar ao cais e carregar navios.
Segundo algumas das maiores empresas exportadoras de commodities do país, o "loteamento político" da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), empresa federal que administra o porto de Santos, está na base dos problemas atuais, que tendem a se agravar nas próximas semanas.
O deputado federal Vicente Cascione (PTB), vice-líder do governo Lula na Câmara, confirma que a presidência e as três diretorias do porto têm problemas de entendimento e foram loteadas entre o seu partido, o PT e o PL.
"A briga não é de hoje. Há várias colisões entre as diretorias e a presidência", afirma Cascione.
O problema de Santos não é dinheiro. No ano passado, segundo dados do Ministério dos Transportes, o porto só conseguiu gastar 36% da verba federal autorizada pela União para investimentos.
De uma previsão inicial de R$ 101,3 milhões, no início de 2005, o governo federal acabou autorizando R$ 38,4 milhões. Mesmo assim, a atual administração do porto só conseguiu gastar efetivamente R$ 13,9 milhões.
As duas principais obras para desafogar Santos, a ampliação das vias de acesso -epicentro do caos desta semana- e o aprofundamento da calha dos canais de navegação, não avançaram. A Codesp afirma que a burocracia ambiental vem retardando as obras necessárias, daí o retardo em gastar o dinheiro disponível.

Porto caro
A falta de investimentos e a ingerência política, segundo as exportadoras, fazem de Santos um dos portos mais caros do mundo. O embarque de uma tonelada de soja, por exemplo, custa US$ 6 em Santos, 50% a mais que nos portos da Argentina.
Os problemas de logística levam os fretes a terem custo até cinco vezes maiores para Santos, também na comparação com o país vizinho. O resultado de custos maiores afeta toda a cadeia, já que as grandes tradings compensam os gastos pagando menos aos produtores no campo.
O quadro em Santos tende a piorar. Em 2006, a produção de soja no país deve bater o recorde de 58 milhões de toneladas. Cerca de 25 milhões devem ser exportadas, a maior parte por Santos. Pela primeira vez, o Brasil assumirá neste ano a liderança mundial nas vendas externas de soja em grãos.
Na semana passada, a Folha ouviu três dos maiores exportadores de commodities no país com terminais em Santos. Assim como em outras áreas onde a concessão para operar é pública, as empresas não querem ter os nomes citados para não sofrer represálias.
Segundo os empresários, o caos da semana passada estava anunciado havia meses e só na última hora a Codesp apresentou a solução: mandar os caminhões das empresas para bolsões de estacionamento em Cubatão. Os custos e a logística dessa operação tiveram de ser negociados pelas empresas.
Segundo Ricardo Lascane, secretário de Indústria, Comércio, Porto e Desenvolvimento de Cubatão, as vias de acesso aos estacionamentos indicados pela Codesp às empresas são péssimas e precisariam de reformas para suportar a atual demanda.
Durante a semana passada, houve várias reuniões emergenciais para tentar preparar o terreno para segunda e terça-feira próximas, quando nova leva de caminhões com soja chegará de outros Estados. Se não der certo, a estratégia é começar a conter os veículos antes que desçam a serra.


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