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Nova regra favorece seguradora de banco
Susep obriga empresas a aumento de capital, em três anos, que pode ultrapassar 100%, forçando concentração no mercado
Setor afirma ter sido pego de
surpresa por medidas que
não passaram por discussão
pública; órgão regulador diz
que sistema será fortalecido
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma forte concentração nos
grandes bancos nacionais e, em
menor escala, nas empresas estrangeiras está a caminho no
mercado brasileiro de seguros.
Um ramo que dobrou de tamanho em sete anos e que arrecadou R$ 70 bilhões em 2006.
A consolidação tende a eliminar nos próximos três anos boa
parte das 110 empresas médias
e pequenas que atuam no setor.
Elas se dizem pegas de surpresa por um conjunto de decisões da Susep (Superintendência de Seguros Privados, órgão
vinculado ao Ministério da Fazenda) publicadas no "Diário
Oficial" da União no último dia
útil de 2006 (29 de dezembro).
As resoluções da Susep, adotadas sem consulta pública ao
mercado, obrigam as seguradoras a um forte aumento de capital, que pode ultrapassar os
100% em relação ao volume
atual. Isso em apenas três anos,
a partir de janeiro de 2008.
Seguradoras menores, algumas que levaram décadas para
constituir o capital atual, afirmam que o prazo é exíguo e que
acabarão engolidas pelas maiores, administradas por bancos.
Hoje, os três maiores bancos
do país (Bradesco, Itaú e Unibanco) e a Sul América (associada ao banco holandês ING)
já dominam 55,6% do mercado.
Bradesco sai na frente
Na quinta-feira, a Bradesco
Seguros e Previdência (líder de
mercado, com 26,3%) anunciou que não esperará o prazo
de três anos dado pela Susep.
Vai atender a exigência até o final deste mês aportando R$
250 milhões no negócio. Em
2006, a área de seguros representou 34% do lucro líquido de
R$ 5 bilhões do Bradesco.
A Susep diz que segue a tendência mundial de reforçar a
solvência das seguradoras e que
mira o modelo europeu. Na
União Européia, o prazo concedido ao mercado para as novas
regras (batizadas de "Solvência
2") foi mais de duas vezes
maior, de dez anos (até 2010).
Renê Garcia, superintendente da Susep que assinou as resoluções (ele se encontra afastado
do cargo pela Justiça desde fevereiro, acusado de favorecer o
empresário Artur Falk, dos antigos sorteios do Papa-Tudo),
afirma que não houve audiências públicas no mercado porque "não precisava".
"Foi feita uma discussão, não
com o mercado, mas com uma
comissão técnica. [Participavam] os funcionários da Susep,
mais dois representantes da
área atuarial e dois de empresas
indicadas pela Fenaseg [que
reúne as empresas do setor]",
disse Garcia, que em 2002 foi
secretário de Estado de Benedita da Silva (PT), no Rio.
Procurada, a Fenaseg informou que só o seu presidente,
João Elisio Ferraz de Campos,
do PFL e ex-governador do Paraná (1986-87), poderia dar declarações, mas que ele estava
em viagem fora do país.
"Lição de casa"
José Rubens Alonso, sócio e
responsável pela área de seguros da KPMG Auditores Independentes, diz que o modelo
adotado pela Susep segue o padrão internacional e que o Brasil vem fazendo "a lição de casa"
em relação às regras da Iais (International Association of Insurance Supervisors), que representa reguladores na área
de seguros em 130 países.
Mas que o prazo de três anos
"é curto se comparado com o de
outros mercados em situações
semelhantes e tendo em vista
os volumes requeridos, que parecem grandes demais em relação ao tamanho das empresas".
"A audiência pública, que é a
prática nesse mercado, também não ocorreu nesse caso",
diz Alonso. Ele afirma que a
"urgência" em implantar as novas regras para a área de ramos
elementares (automóveis, incêndio etc.) também não se justifica no histórico recente do
mercado -sem casos de insolvência nos últimos 15 anos.
Além do prazo curto para
adaptação, as empresas não tomaram conhecimento, até 29
de dezembro, dos fatores e índices relacionados com as áreas
e regiões geográficas de atuação. Os dados, conhecidos só
depois da publicação das resoluções, determinaram o quanto
a mais de capital as empresas
terão de colocar no negócio.
Esse ponto é considerado "a
caixa-preta" das medidas e, segundo as menores, derrubaria
o argumento de que o assunto
foi "discutido previamente"
com o mercado. Renê Garcia
afirma que o Estado tinha a
"prerrogativa" de conduzir o
processo dessa maneira.
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