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LUCIANO COUTINHO
Círculo virtuoso ao alcance
O antes precário processo de estabilização ganhou solidez a partir do robustecimento das contas externas do país
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COMEÇA a cair a ficha (para o
mercado financeiro especialmente) de que a economia
brasileira pode ingressar em um ciclo de crescimento acelerado baseado em uma vigorosa corrente de decisões privadas de investimento e
consumo, suportadas pelo desenvolvimento do crédito e do mercado
de capitais. É claro que essa perspectiva não é compatível com uma crise
mundial já em 2007, que se desdobraria a partir de uma recessão americana, provocada pelo colapso do
seu sistema hipotecário. Mas, se o ciclo global resistir e persistir por
mais alguns anos (ainda que os EUA
desacelerem), essa trajetória virtuosa pode vir a se materializar.
Duas condicionantes no âmbito
doméstico, porém, poderão frustrá-la. A primeira diz respeito aos investimentos em infra-estrutura (em
energia elétrica notadamente). Sem
garantia da oferta futura de energia
(15, 20 anos à frente), o investimento privado não se moverá maciçamente. A segunda condicionante
necessária é a consolidação de perspectiva fiscal sólida de longo prazo,
que abra espaço para a redução mais
incisiva do juro, o reposicionamento
da taxa de câmbio e a melhoria substancial da qualidade e "duration" da
dívida pública interna.
Por isso, os investimentos do PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento), especialmente em energia,
não poderão falhar e, também por
isso, o governo não pode abrir mão
de ter uma política fiscal consistente. O fato é que o antes precário processo brasileiro de estabilização ganhou solidez a partir de 2006 em decorrência do notável robustecimento das contas externas. Com reservas cambiais caminhando para US$
110 bilhões e superávit em conta
corrente, a trajetória da taxa de câmbio se tornou muito menos volátil.
Sua propensão a sofrer surtos violentos de depreciação, causadores
de choques inflacionários, é página
virada. Abriu-se, finalmente, o caminho para termos taxas de inflação
baixas, pouco voláteis e relativamente previsíveis.
É essa nova perspectiva, aliada ao
processo de contenção do ritmo de
crescimento da dívida pública, que
pode viabilizar o círculo virtuoso de
queda firme da taxa real de juros,
melhoria da qualidade da dívida e
alongamento dos horizontes de investimento/endividamento ("investment grade" mais cedo!). Nos
últimos anos, o mercado financeiro
já parece decolar. Expandiu-se o
crédito bancário (de 27% para 33%
do PIB) e explodiu o lançamento de
debêntures corporativas e de IPOs
(de 0,6% para 3,6% do PIB).
Uma tarefa-chave doravante será
a de coordenar o desenvolvimento
do crédito e do mercado de capitais
para propulsionar os investimentos
privado e público e a construção civil. Essa agenda inclui o relaxamento dos depósitos compulsórios, o
tratamento tributário ao crédito e
ao mercado de capitais, a refocagem
dos subsistemas de poupança compulsória. Entre os desafios se destacam, ainda, o desenvolvimento de
técnicas, seguros e soluções para o
"project finance" (essencial aos
grandes projetos infra-estruturais), para os riscos do crédito agrícola, para a assimetria de informações que exclui as pequenas empresas e, finalmente, para os riscos
do financiamento de longo prazo
às exportações.
LUCIANO COUTINHO , 60, é consultor e professor convidado do IE/Unicamp.
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