São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Economia corre mais que as pernas


Emprego formal, comércio e confiança em alta devem ter feito PIB crescer à taxa anual de 8% no primeiro trimestre

O PAÍS está criando tantos empregos formais quanto nos meses que antecederam o soco da crise mundial, em setembro de 2008. Era o momento em que a economia crescia quase 7% ao ano.
Uma estimativa do crescimento para o PIB do primeiro trimestre de 2010 por ora indica que a economia cresceu no mesmo ritmo do final do ano passado. Isto é, 2% em relação ao trimestre anterior, o que dá um ritmo anual de 8%. É forte.
Um dos institutos de pesquisa econômica até agora mais pessimistas com o Brasil, a EIU, revisou de 4,8% para 5,5% sua estimativa para o crescimento do PIB brasileiro em 2010, a ser divulgada hoje (a EIU faz parte do grupo que edita a revista "The Economist"). Note-se que os 5,5% da EIU ainda estão abaixo das projeções de bancões brasileiros, que andam por volta de 6%.
A economia brasileira está correndo mais do que o previsto pelo governo e até por aqueles ainda mais otimistas que o pessoal de Brasília.
A projeção de PIB disparado neste início de 2010 é do pessoal da pesquisa macroeconômica do Itaú Unibanco, liderado por Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central.
O dado completo mais recente dos economistas do banco é de janeiro.
Trata-se do PIBIU, um nome engraçado, como o de um passarinho. O PIBIU é a estimativa de uma espécie de PIB mensal. Mesmo a conta feita com dados fechados para o trimestre, do IBGE, costuma carecer de revisões, que dirá uma estimativa mensal, como o próprio pessoal do banco reconhece. Porém, há fumaça evidente em quase toda a economia.
Na média dos três meses contados até janeiro, o PIBIU registra a maior taxa de crescimento em 48 meses.
No relatório do Itaú Unibanco, assinado por Aurélio Bicalho, se diz: "Temos de admitir que a desaceleração da atividade que esperávamos para o primeiro trimestre não está acontecendo". Os economistas acreditavam que, com a contenção dos gastos do governo e com o fim gradual das reduções de impostos (estímulo fiscal), seria difícil manter o ritmo forte do final de 2009.
A relativa desaceleração viria, pois, nos próximos trimestres, embora o pessoal do Itaú Unibanco admita que é difícil medir o efeito da redução do estímulo fiscal.
As dúvidas devem ter crescido com os dados do Caged, o registro oficial de contratados e demitidos, entre os que têm carteira assinada.
Nas contas dos economistas do Bradesco, liderados por Octavio de Barros, o país deve terminar o ano com um saldo de 1,8 milhão de empregos.
Atualmente, a economia contrata a um ritmo que, anualizado, daria em 2,5 milhões de empregos. Note-se que dezembro costuma ser mês de muita demissão. Logo, pelas contas do Bradesco, as empresas vão contratar bastante até outubro, pelo menos. Outubro, mês de eleição.
Os números sobre a confiança de empresários e consumidores estão em alta. Um indicador informal de apertos da indústria, o número de decibéis das queixas de empresários sobre juros e câmbio, está sob controle, digamos, quase quieto. As altas de juros do Banco Central começarão a ser sentidas apenas lá por setembro e outubro, se tanto.
Afora hipótese de catástrofe externa, o PIB vai crescer bem. Talvez, ressalte-se, até demais.

vinit@uol.com.br


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