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Equipe espera ciclo curto de alta no juro
Governo tenta minimizar reação negativa dos empresários argumentando que ação mais forte agora reduz ciclo de alta
Temor é que perspectiva de aperto monetário mais longo iniba investimentos para elevar a produção, o que poderia gerar inflação
VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A equipe econômica do governo Lula (excluindo o Banco
Central) não gostou da alta dos
juros, mas avalia que depois do
estrago o melhor caminho é
tentar minimizar a repercussão
negativa da medida, sobretudo
no meio empresarial. Por isso, a
ordem é não aumentar o coro
de críticas ao BC, mas ressaltar
que a alternativa de subir a taxa
em 0,50 ponto percentual poderá encurtar o ciclo de alta.
A análise é que, ao iniciar o
movimento com um aumento
mais forte, o BC poderá promover, no máximo, mais duas altas
nos juros. Isso porque a maior
intensidade criaria condições
para reverter rapidamente as
expectativas de alta da inflação,
abrindo espaço para a retomada da queda dos juros ainda
neste ano.
Em conversas reservadas,
porém, a insatisfação fica clara.
Segundo a Folha apurou, ao
chegar ontem a Belo Horizonte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) não esconderam a irritação com a alta, considerada um "exagero".
O governo acredita que, como não conseguiu evitar que o
BC agisse preventivamente, ao
menos uma alta maior agora
evitará ciclo mais prolongado
de alta.
Isso pode evitar uma interrupção nos planos de investimento das empresas, o que seria ruim numa economia em que o consumo cresce acima da
capacidade de produção.
O medo é que os empresários
adiem os planos de ampliação
do parque produtivo. Sabe-se
que esse risco não causaria
problemas no curto prazo, mas
a partir do segundo semestre
de 2009 e início de 2010, ano
de eleições presidenciais.
Além disso, o governo também quer, com essa tese, sinalizar aos exportadores que o cenário de juros elevados -que
atrai capital estrangeiro para o
país e valoriza o real, elevando
o preço dos produtos exportados- não deverá se prolongar.
A tese conta ainda com outra
hipótese: a de que o cenário
ameaçador para a inflação que
o BC vislumbra se dissipará,
confirmando-se o diagnóstico
mais otimista defendido não só
por opositores do BC no governo, mas também por alguns
analistas do mercado.
Cenários opostos
A partir dos mesmos dados, a
equipe econômica e analistas
vêem cenários opostos. Os diretores do BC defendem que há
uma pressão mais forte na inflação que não se limita à alta
mundial dos preços dos alimentos, mas que passa também pelo setor de serviços, onde há um largo campo para sancionar reajustes, e que pode ser
ainda impulsionada por alguma volatilidade no câmbio e
elevação do crédito.
Isso tudo, admitem, é um risco que pode não se concretizar,
mas o Copom tem que agir preventivamente, de olho na inflação 12 meses à frente. O problema, rebatem os opositores nos
bastidores do governo, é que o
BC poderia esperar o cenário ficar um pouco mais nítido.
Outra crítica, que ecoou no
mercado financeiro, é a de que
se o Copom tem dúvidas sobre
o equilíbrio entre oferta e demanda, o que pode se transformar em pressão na inflação, o
melhor seria iniciar um ciclo
preventivo com 0,25 ponto
percentual. Outra contradição
apontada é que parte do efeito
da alta mais forte de 0,5 ponto
foi amenizada pelo comunicado tentando justificar um ciclo
mais curto.
Isso se refletiu na curva de
juros futuros. A taxa para janeiro de 2009 subiu, mas a de janeiro 2010 ficou parada. No
meio do caminho, a taxa para
maio de 2009, que tem maior
influência na formação dos juros cobrados nos financiamentos, teve um impacto muito pequeno: de 0,05 ponto percentual.
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