São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Equipe espera ciclo curto de alta no juro

Governo tenta minimizar reação negativa dos empresários argumentando que ação mais forte agora reduz ciclo de alta

Temor é que perspectiva de aperto monetário mais longo iniba investimentos para elevar a produção, o que poderia gerar inflação

VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A equipe econômica do governo Lula (excluindo o Banco Central) não gostou da alta dos juros, mas avalia que depois do estrago o melhor caminho é tentar minimizar a repercussão negativa da medida, sobretudo no meio empresarial. Por isso, a ordem é não aumentar o coro de críticas ao BC, mas ressaltar que a alternativa de subir a taxa em 0,50 ponto percentual poderá encurtar o ciclo de alta.
A análise é que, ao iniciar o movimento com um aumento mais forte, o BC poderá promover, no máximo, mais duas altas nos juros. Isso porque a maior intensidade criaria condições para reverter rapidamente as expectativas de alta da inflação, abrindo espaço para a retomada da queda dos juros ainda neste ano.
Em conversas reservadas, porém, a insatisfação fica clara. Segundo a Folha apurou, ao chegar ontem a Belo Horizonte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) não esconderam a irritação com a alta, considerada um "exagero".
O governo acredita que, como não conseguiu evitar que o BC agisse preventivamente, ao menos uma alta maior agora evitará ciclo mais prolongado de alta.
Isso pode evitar uma interrupção nos planos de investimento das empresas, o que seria ruim numa economia em que o consumo cresce acima da capacidade de produção.
O medo é que os empresários adiem os planos de ampliação do parque produtivo. Sabe-se que esse risco não causaria problemas no curto prazo, mas a partir do segundo semestre de 2009 e início de 2010, ano de eleições presidenciais.
Além disso, o governo também quer, com essa tese, sinalizar aos exportadores que o cenário de juros elevados -que atrai capital estrangeiro para o país e valoriza o real, elevando o preço dos produtos exportados- não deverá se prolongar.
A tese conta ainda com outra hipótese: a de que o cenário ameaçador para a inflação que o BC vislumbra se dissipará, confirmando-se o diagnóstico mais otimista defendido não só por opositores do BC no governo, mas também por alguns analistas do mercado.

Cenários opostos
A partir dos mesmos dados, a equipe econômica e analistas vêem cenários opostos. Os diretores do BC defendem que há uma pressão mais forte na inflação que não se limita à alta mundial dos preços dos alimentos, mas que passa também pelo setor de serviços, onde há um largo campo para sancionar reajustes, e que pode ser ainda impulsionada por alguma volatilidade no câmbio e elevação do crédito.
Isso tudo, admitem, é um risco que pode não se concretizar, mas o Copom tem que agir preventivamente, de olho na inflação 12 meses à frente. O problema, rebatem os opositores nos bastidores do governo, é que o BC poderia esperar o cenário ficar um pouco mais nítido.
Outra crítica, que ecoou no mercado financeiro, é a de que se o Copom tem dúvidas sobre o equilíbrio entre oferta e demanda, o que pode se transformar em pressão na inflação, o melhor seria iniciar um ciclo preventivo com 0,25 ponto percentual. Outra contradição apontada é que parte do efeito da alta mais forte de 0,5 ponto foi amenizada pelo comunicado tentando justificar um ciclo mais curto.
Isso se refletiu na curva de juros futuros. A taxa para janeiro de 2009 subiu, mas a de janeiro 2010 ficou parada. No meio do caminho, a taxa para maio de 2009, que tem maior influência na formação dos juros cobrados nos financiamentos, teve um impacto muito pequeno: de 0,05 ponto percentual.


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