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OPINIÃO ECONÔMICA
O muro
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
A Alvaro Alencar In memoriam
Os nossos amigos (muy amigos) norte-americanos são
mestres consumados na prática
da duplicidade. Por um lado,
querem o máximo de liberdade
para as suas corporações. Por
meio da Alca ou de tratados bilaterais de "livre comércio", procuram garantir às suas empresas
oportunidades amplas e se possível irrestritas para exportar, investir, prestar serviços e participar
de concorrências governamentais. Pretendem, em tese, estabelecer o império da livre concorrência e da liberdade de mercados na
América Latina.
Por outro lado, Washington se
recusa a aplicar o princípio da liberdade a setores em que a economia dos EUA tem dificuldades de
competir internacionalmente
(agricultura e diversas indústrias
tradicionais). E outra: a liberdade
econômica não vale para os trabalhadores latino-americanos. O
acesso ao mercado de trabalho
nos EUA estará sujeito a restrições cada vez mais rigorosas,
mesmo para pessoas oriundas de
nações que tenham feito todas as
concessões econômicas pretendidas por Washington e pelos lobbies corporativos norte-americanos.
Morreu anteontem o embaixador Alvaro Alencar, um dos mais
importantes diplomatas brasileiros da sua geração. Entre muitas
qualidades, ele possuía a de explorar, com ironia e habilidade,
as contradições entre o discurso e
a prática dos EUA e de outros países desenvolvidos. Foi um dos
nossos grandes negociadores e a
ele dedico o artigo de hoje.
Desde janeiro de 2001, o governo americano aumentou em 66%
as despesas com a segurança das
fronteiras, reforçando consideravelmente o muro que separa os
EUA do México, conhecido como
o Muro de Nogales, em referência
às cidades fronteiriças mexicana
e americana desse nome. O contingente da patrulha de fronteira
foi ampliado de cerca de 9.000 para 12.000 Nos últimos cinco anos,
6 milhões de pessoas que tentavam entrar ilegalmente nos EUA
foram presas e expulsas.
Nesta semana, o presidente dos
EUA, George W. Bush, fez um
pronunciamento à nação sobre o
problema do controle da imigração. Anunciou medidas adicionais para garantir a segurança
das fronteiras, "responsabilidade
básica de uma nação soberana" e
"necessidade urgente da nossa segurança nacional". O número de
agentes da patrulha de fronteira
será aumentado para 18.000. De
imediato, como medida de transição, até 6.000 membros da Guarda Nacional serão enviados para
a fronteira com o México.
Além disso, o governo construirá cercas de alta tecnologia em
corredores urbanos e novas barreiras e estradas de patrulhamento em áreas rurais. Serão empregados sensores de movimento, câmeras infravermelhas e veículos
aéreos não-tripulados para detectar e responder a tentativas de entrada ilegal nos EUA.
Por incrível que possa parecer, o
"companheiro Bush" é relativamente moderado. Setores radicais
do Congresso, principalmente do
Partido Republicano, querem ir
ainda mais longe. Em dezembro
de 2005, a Câmara de Representantes aprovou, por 239 a 182 votos, um projeto de lei draconiano
que determina, entre muitas outras medidas de repressão, a construção de um muro de até 1.120
quilômetros ao longo da fronteira
com o México.
Foi contra essa iniciativa que
pelo menos 1 milhão de pessoas
foram às ruas em diversas cidades
americanas no último dia 1º de
maio, quando imigrantes ilegais e
aqueles que os apoiavam estimularam a suspensão das compras e
o não-comparecimento ao trabalho e às escolas para marcar "um
dia sem imigrantes".
Em junho de 1987, o então presidente dos EUA, Ronald Reagan,
pronunciou em frente ao Muro de
Berlim discurso que ficaria célebre. Na frase culminante, muito
citada até hoje, ele fez o apelo
dramático: "Mr. Gorbatchov, tear
down this wall!" ("Sr. Gorbatchov, derrube este muro!"). Bem
que os líderes latino-americanos
poderiam reunir-se em Nogales,
ou alguma outra cidade mexicana da fronteira com os EUA, para
lançar novo e irônico apelo: "Mr.
Bush, tear down this wall!".
Paulo Nogueira Batista Jr., 51, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail -
pnbjr@attglobal.net
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