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Saída é a prestação de serviço, diz advogado
DA REPORTAGEM LOCAL
Laerte Augusto Galizia, advogado especializado na criação de sindicatos patronais há
40 anos, diz que, diferentemente do que ocorria no passado,
hoje os sindicatos são criados
de forma aleatória, não têm representatividade e só sobrevivem com a contribuição sindical obrigatória paga pelas empresas uma vez por ano.
A falta de representatividade
dos sindicatos, segundo avalia,
é reflexo do fato de os empresários "ficarem mais na retaguarda", por conta de movimentos
grevistas que poderiam ocorrer, e de contratarem profissionais para tratar de assuntos que
envolvam as relações entre capital e trabalho.
Leia a seguir trechos da entrevista com Galizia.
(FF e CR)
FOLHA - Os sindicatos patronais
perderam representatividade?
LAERTE AUGUSTO GALIZIA - Entendo que sim, e isso começou a
acontecer a partir do momento
em que os empresários saíram
do comando de seus sindicatos
e colocaram profissionais para
tratar de assuntos que envolvem as relações entre capital e
trabalho. A partir daí proliferou
o sindicalismo sem resultado.
FOLHA - Quantos sindicatos patronais o sr. criou?
GALIZIA - Pelo menos uns 20,
como o de artefatos de papel,
papelão e cortiça, o de esquadrias e construções metálicas, o
de doces e conservas alimentícias, o de mármores e granitos.
Alguns chegaram a ter mil associados. Hoje, não têm mais de
50. Ou isso muda ou vamos para um buraco sem saída.
FOLHA - A reforma sindical pode
melhorar essa situação?
GALIZIA - Sem dúvida ela seria
importante, tanto para o setor
patronal como para o de trabalhadores. Mas o que já dá para
mudar é ter sindicatos com representatividade efetiva, não
necessariamente por atividade
similar, mas que representem a
indústria no sentido genérico,
como um sindicatão. Os sindicatos de categorias econômicas
estão acéfalos. Lembro que,
quando trabalhava com Mário
Amato, que era presidente da
Fiesp [de 1986 a 1992], a representatividade da federação, que
tinha sindicatos fortes, era descomunal. A Fiesp era sempre
consultada pelo Executivo e
também sobre legislações.
FOLHA - Por que os empresários
perderam o interesse em seus sindicatos?
GALIZIA - No passado, os empresários tinham interesse
porque viam nessas entidades
soluções. Hoje, vejo os empresários desencantados com seus
sindicatos. Se o sindicato não se
tornar um prestador de serviços, diria que é um bicho morto.
FOLHA - Que tipo de serviço um
sindicato patronal deveria prestar?
GALIZIA - Tudo o que uma empresa de consultoria e assessoria faz o sindicato pode e deve
fazer. Quem paga quer retorno,
quer serviço. Hoje, diria que os
sindicatos não fazem coisa nenhuma. Apenas pegam o dinheiro do imposto sindical.
FOLHA - A contribuição sindical deveria ter destino certo?
GALIZIA - A legislação exige que
a contribuição sindical tenha
um direcionamento à finalidade para que o sindicato foi criado, que tenha retorno no âmbito de interesse das empresas,
como a prestação de serviços
jurídicos, por exemplo.
FOLHA - O fato de haver na Fiesp
uma secretária-executiva para cuidar de cinco sindicatos revela a fragilidade dessas entidades?
GALIZIA - Isso revela que os sindicatos precisam se unir para se
tornarem representativos.
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