São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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Superávit com China esconde problemas

País que Lula visita hoje pela 2ª vez virou maior comprador do Brasil, mas ainda há desavenças comerciais e políticas

Barreiras ainda impedem entrada de produto brasileiro; governo também se queixa da falta de apoio de asiáticos a vaga em Conselho da ONU

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje a Pequim para tentar atrair investimentos chineses, por enquanto arredios ao Brasil, e derrubar várias barreiras que impedem a entrada de produtos brasileiros na China.
Lula quer fechar um acordo de US$ 10 bilhões com a China para financiar a exploração dos campos de petróleo do pré-sal e tentar destravar barreiras sanitárias que impedem a exportação de carne brasileira, de frango a suínos, à China, assim como reverter o cancelamento da venda de aviões da Embraer a companhias chinesas.
É a segunda visita oficial de Estado à China, país que virou o maior parceiro comercial do Brasil no mês passado. Mas, apesar do sucesso das exportações de soja e ferro, há um crescente mal-estar pelo que diplomatas chamam de pouca atenção da China com o Brasil.
Em sua primeira viagem, em 2004, Lula assinou diversos memorandos de investimentos em infraestrutura, que jamais se concretizaram. Em 2008, a China investiu no Brasil US$ 38,4 milhões, o que a deixa na longínqua posição de 42º maior investidor no país.
A decepção pelo pouco avanço nos investimentos se reflete na agenda. Em abril, a viagem se estenderia por cinco dias, incluindo Xangai e Guangzhou no roteiro, e uma comitiva de 500 empresários.
Os números encolheram. Lula ficará 50 horas em Pequim, ante 65 na Turquia, escala seguinte do périplo internacional, com visitas a Istambul e Ancara. A comitiva terá cerca de cem empresários, mas detalhes do seminário não estavam prontos na semana passada.
Também se contava com a presença dos ministros Guido Mantega e Reinhold Stephanes e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Os três desistiram da viagem.
Diplomatas apontam a recusa da China de apoiar uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU como uma das grandes desavenças. Para impedir a entrada de rivais como Índia e Japão, a China é reticente na ampliação do Conselho.

Investimentos minguados
De 2005 a 2008, o Brasil investiu US$ 355 milhões na China. O gigante asiático investiu US$ 141 milhões no parceiro sul-americano. É uma fração dos investimentos chineses em países como Nigéria, Sudão e Argélia. Em 2006, a China já havia investido US$ 1,18 bilhão na África.
Nos bastidores, integrantes do governo reconhecem que o Brasil ainda não desperta um real interesse dos chineses, que pudesse alçar a relação bilateral a outro patamar.
As exportações brasileiras representam apenas 1,3% das importações chinesas.
"O investimento chinês no Brasil é muito menor do que poderia ser", afirma o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.
"O desconhecimento que existe sobre o Brasil ainda é muito grande. Neste ano, o Brasil ganhou importância para a China, há mais interesse, é visível. Mas precisamos nos promover mais", diz.
O primeiro escritório da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), que começou a ser instalado em Pequim em dezembro, aguardava autorização do governo chinês para ser inaugurado durante a visita de Lula.
"A China é a única grande economia do mundo que deve crescer acima de 7% neste ano. Não é hora para ficar de birra", diz o secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China, Rodrigo Maciel.
Apesar do discurso de parceria estratégica, o Brasil não tem um único diplomata ou técnico trabalhando em seus ministérios que seja fluente em chinês.
A agenda do presidente inclui jantar com o colega chinês, Hu Jintao, a abertura de um Centro de Estudos Brasileiros na estatal Academia Chinesa de Ciências Sociais e uma visita ao centro espacial onde os dois países colaboram na produção de satélites.
"Apesar de algumas pessoas desejarem um hipotético G2 entre Estados Unidos e China, acho que precisamos de múltiplas parcerias com países como o Brasil, que enfrentam desafios similares", disse à Folha o diretor da Escola de Políticas Públicas da Universidade Tsinghua, Xue Lan.
"Temos que combater a distância, a burocracia e o desconhecimento, mas os dois países têm ativos que se complementam, de capacidade de investimento à riqueza de recursos naturais", afirmou Xue.


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