|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VACA DOENTE
Governo confirma foco no Pará; para produtores, fato pode atrapalhar planos de expandir exportações de carne
País tem 1º caso de febre aftosa desde 2001
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de 34 meses sem a identificação de casos de febre aftosa
no Brasil, o Ministério da Agricultura confirmou ontem que foi localizado um foco da doença no
município de Monte Alegre, no
noroeste do Pará.
Como essa região é considerada
pelo próprio ministério como de
alto risco para a doença, o gado do
Pará já não podia ser exportado
nem circular por outros Estados.
Por isso, o governo disse ontem
que a descoberta não deve prejudicar a intenção do Brasil de erradicar a doença e nem interferir
nas exportações de carnes brasileiras -o país é o maior exportador mundial de carne.
Porém, produtores e exportadores brasileiros dizem que o fato
vai, no mínimo, atrapalhar esforços que o governo vinha fazendo
para abrir os mercados japonês e
americano para a carne fresca
brasileira. Os dois países não importam o produto brasileiro pela
existência de aftosa no país.
O último foco da doença no
Brasil havia sido identificado no
Maranhão em 2001. O novo foco
foi localizado numa área ainda
em fase de implementação do sistema de defesa sanitária animal.
O país possui seis circuitos (regiões) agropecuários. Apenas
Santa Catarina é livre da doença
sem vacinação. Outros Estados,
como São Paulo, estão numa região considerada livre de aftosa
com vacinação.
A febre aftosa, causada por um
vírus (o aflovírus), ataca bovinos,
suínos e caprinos. Embora não
cause danos para a saúde dos consumidores de carne, a doença se
transmite rapidamente entre os
animais, trazendo prejuízos aos
produtores.
Por essa razão, países como o
Japão e os EUA não importam
carne fresca do Brasil. Outras regiões consumidoras, como a Europa, aceitam importar apenas o
gado brasileiro produzido em regiões livre de aftosa -com ou
sem vacinação.
O local da fazenda na qual apareceu o foco da doença está a 700
quilômetros da zona brasileira livre da doença reconhecida internacionalmente.
Foi o próprio dono da fazenda
que comunicou a suspeita da
doença à Agência de Defesa Agropecuária estadual. O comunicado
foi feito no dia 2 deste mês.
O governo já comunicou a ocorrência do foco à OIE (Organização Mundial de Saúde Animal),
da qual o Brasil é signatário.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de
Comércio Exterior do Brasil, o foco de febre aftosa encontrado no
Pará pode prejudicar as exportações brasileiras de carne.
"Alguns países provavelmente
devem suspender as compras do
Brasil até que se esclareça o caso",
afirma. Na sua análise, "é uma pena" o Brasil correr o risco de enfrentar uma redução nas exportações justamente depois de o país
ser beneficiado pelo aparecimento de outra doença -a da vaca
louca- nos Estados Unidos.
"Ruim, mas não trágico"
O Brasil exporta carnes para
União Européia, Ásia e Oriente
Médio. "Por conta do problema
nos EUA, o Brasil estava ganhando espaço nesses mercados.
Quem vai se sair bem nessa situação agora é a Argentina", afirma.
"É ruim, mas não é trágico. Seria trágico se o foco tivesse ocorrido em áreas livres de aftosa", disse
Constantino Ajimasto Junior,
presidente da Associação Brasileira do Novilho Precoce.
Segundo ele, o Pará não está no
contexto das exportações brasileiras, o que minimiza os efeitos desse novo foco.
No entanto, outros pecuaristas
estão preocupados e preferiram
não se manifestar à espera de novas informações do Ministério da
Agricultura. Segundo eles, são
tantos os problemas de sanidade
animal no mundo nos últimos
anos que é impossível prever o
impacto dessa notícia no mercado externo.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Outro lado: Novo foco não deve interferir na exportação de carne, diz governo Índice
|