São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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VACA DOENTE

Governo confirma foco no Pará; para produtores, fato pode atrapalhar planos de expandir exportações de carne

País tem 1º caso de febre aftosa desde 2001

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 34 meses sem a identificação de casos de febre aftosa no Brasil, o Ministério da Agricultura confirmou ontem que foi localizado um foco da doença no município de Monte Alegre, no noroeste do Pará.
Como essa região é considerada pelo próprio ministério como de alto risco para a doença, o gado do Pará já não podia ser exportado nem circular por outros Estados. Por isso, o governo disse ontem que a descoberta não deve prejudicar a intenção do Brasil de erradicar a doença e nem interferir nas exportações de carnes brasileiras -o país é o maior exportador mundial de carne.
Porém, produtores e exportadores brasileiros dizem que o fato vai, no mínimo, atrapalhar esforços que o governo vinha fazendo para abrir os mercados japonês e americano para a carne fresca brasileira. Os dois países não importam o produto brasileiro pela existência de aftosa no país.
O último foco da doença no Brasil havia sido identificado no Maranhão em 2001. O novo foco foi localizado numa área ainda em fase de implementação do sistema de defesa sanitária animal.
O país possui seis circuitos (regiões) agropecuários. Apenas Santa Catarina é livre da doença sem vacinação. Outros Estados, como São Paulo, estão numa região considerada livre de aftosa com vacinação.
A febre aftosa, causada por um vírus (o aflovírus), ataca bovinos, suínos e caprinos. Embora não cause danos para a saúde dos consumidores de carne, a doença se transmite rapidamente entre os animais, trazendo prejuízos aos produtores.
Por essa razão, países como o Japão e os EUA não importam carne fresca do Brasil. Outras regiões consumidoras, como a Europa, aceitam importar apenas o gado brasileiro produzido em regiões livre de aftosa -com ou sem vacinação.
O local da fazenda na qual apareceu o foco da doença está a 700 quilômetros da zona brasileira livre da doença reconhecida internacionalmente.
Foi o próprio dono da fazenda que comunicou a suspeita da doença à Agência de Defesa Agropecuária estadual. O comunicado foi feito no dia 2 deste mês.
O governo já comunicou a ocorrência do foco à OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), da qual o Brasil é signatário.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, o foco de febre aftosa encontrado no Pará pode prejudicar as exportações brasileiras de carne.
"Alguns países provavelmente devem suspender as compras do Brasil até que se esclareça o caso", afirma. Na sua análise, "é uma pena" o Brasil correr o risco de enfrentar uma redução nas exportações justamente depois de o país ser beneficiado pelo aparecimento de outra doença -a da vaca louca- nos Estados Unidos.

"Ruim, mas não trágico"
O Brasil exporta carnes para União Européia, Ásia e Oriente Médio. "Por conta do problema nos EUA, o Brasil estava ganhando espaço nesses mercados. Quem vai se sair bem nessa situação agora é a Argentina", afirma.
"É ruim, mas não é trágico. Seria trágico se o foco tivesse ocorrido em áreas livres de aftosa", disse Constantino Ajimasto Junior, presidente da Associação Brasileira do Novilho Precoce.
Segundo ele, o Pará não está no contexto das exportações brasileiras, o que minimiza os efeitos desse novo foco.
No entanto, outros pecuaristas estão preocupados e preferiram não se manifestar à espera de novas informações do Ministério da Agricultura. Segundo eles, são tantos os problemas de sanidade animal no mundo nos últimos anos que é impossível prever o impacto dessa notícia no mercado externo.


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