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Para moinhos, haverá reserva de mercado
Representantes do setor vêem como problemas pressão inflacionária se demanda não for atendida e perda nutricional
Dependendo da qualidade, a farinha de trigo tem entre 8% e 12% de proteína, enquanto o amido de mandioca tem apenas 2%
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria de amido de mandioca diz ter, hoje, capacidade
ociosa de 50%. Seus representantes dizem que atenderiam
rapidamente à demanda no caso da obrigatoriedade de adicionar 10% do produto à farinha de trigo. Para tanto, seriam
necessárias mais 500 mil toneladas de amido por ano.
Já os moinhos de trigo dizem
que, com a obrigatoriedade, estará criada uma reserva de
mercado aos produtores de
mandioca e de amido, com possíveis pressões inflacionárias se
a demanda não for atendida.
O empresário Lawrence Pih,
do moinho de trigo Pacífico, o
maior do país, vê "puro interesse eleitoreiro" no encaminhamento do projeto em regime
terminativo e no atual momento. "É demagogia e populismo
barato. Uma afronta ao livre
mercado. Surpreende-me uma
aventura como essa, resquício
da época do dirigismo central."
Pih afirma que engavetou um
projeto no valor de R$ 200 milhões à espera do desfecho da
medida. "Se passar, vamos para
a Argentina e exportamos a farinha de lá."
O deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), presidente
da comissão especial, afirma
que os moinhos de trigo querem "preservar uma ditadura,
onde meia dúzia de indústrias
controlam todo o mercado".
Já o deputado Nilson Mourão (PT-AC), relator do projeto,
diz que "o objetivo final" é não
criar conflitos. "Queremos algo
que fique bem para todos."
Entre as alternativas que foram estudadas, constam a adição paulatina (em três anos) do
amido até o limite de 10% na farinha de trigo e a obrigatoriedade da mistura somente no caso
do trigo importado.
Questionado pela Folha sobre a "exclusividade" de apenas
29 deputados decidirem o que
186 milhões devem comer,
Mourão disse que, como relator, "seria até favorável" à discussão do projeto em plenário.
Maurício Yamakawa, prefeito de Paranavaí (PDT-PR) e
presidente licenciado da maior
empresa de amido de mandioca no país, diz que hoje o Brasil
"importa subsídios agrícolas
externos" ao importar trigo.
A Amidos Yamakawa produz
cerca de 50 mil toneladas por
ano, já tem capacidade para dobrar a produção e compra cerca
de 70% de sua mandioca de pequenos produtores.
Perda nutricional
O Brasil produz hoje cerca de
25 milhões de toneladas por
ano de mandioca "in natura".
Mas 70% da raiz é constituída
de água, daí uma produção ao
redor de 500 mil toneladas por
ano de amido de mandioca.
Para os representantes dos
moinhos de trigo, além do "intervencionismo" haverá uma
perda nutricional se for aprovada a adição de 10% de amido
de mandioca à farinha de trigo.
Dependendo da qualidade, a
farinha de trigo tem entre 8% e
12% de proteína, enquanto o
amido de mandioca tem 2%. Já
os "mandioqueiros" dizem que
produtos como pão, biscoito e
macarrão são usados como fontes de energia, não de proteína.
"O Brasil cometeu um erro lá
atrás ao não optar pela preferência a um carboidrato de cultura tropical", diz Yamakawa.
Em depoimento à comissão,
Armed Aldashi, engenheiro de
alimentos da Unicamp, resumiu esse histórico: na prática,
boa parte da indústria da mandioca foi desmontada no Brasil
nos anos 50, quando os Estados
Unidos aumentaram fortemente a produção de trigo e
ofereceram o produto, financiado, a US$ 40 a tonelada, contra os US$ 150 vigentes antes.
No início dos anos 70, uma
grande quebra de safra na Rússia fez os preços explodirem para US$ 250 por tonelada em 60
dias. A maioria dos países do
Terceiro Mundo foi obrigada a
subsidiar o produto, contraindo enormes dívidas, sobretudo
com os próprios EUA.
Espaço para crescer
O exemplo internacional
mostra que a indústria da mandioca e seus derivados teria como crescer de outras formas.
A Tailândia é considerada
hoje o maior produtor mundial
de fécula de mandioca, com 3
milhões de toneladas por ano.
O percentual consumido internamente é mínimo. O país ganha exportando, inclusive produtos de maior valor agregado.
Já o mercado brasileiro tem
tido queda na rentabilidade.
Movimentou R$ 410 milhões
em 2005, receita 28,5% menor
que a de 2004, apesar da produção física quase 40% maior de
um ano para outro.
Vicente Genicola Júnior,
consultor do sindicato de trigo
paulista, diz que faltam ao Brasil novos investimentos no
aproveitamento da mandioca,
usada não só na indústria de
alimentos mas nas de álcool,
cosméticos, farmacêuticos e
têxteis e embalagens.
(FCZ e MZ)
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