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ANÁLISE
Projeto é prova da arte do possível na política
EDWARD LUCE
DO "FINANCIAL TIMES"
Seis meses atrás, alguns observadores estavam prevendo
que os EUA trariam de volta,
em alguma forma, a Lei Glass-Steagall, cuja revogação, em
1999, rompeu a barreira que separava os bancos de investimento dos bancos de varejo,
mais conservadores. O desaparecimento dessa distinção é
visto por muitos como uma das
causas dos excessos que resultaram na atual crise financeira.
O projeto divulgado ontem,
fruto de meses de apressada colaboração entre o governo do
presidente norte-americano,
Barack Obama, e representantes do setor financeiro, é prova
concreta da arte do possível no
reino da política. O texto não
faz nenhuma menção ao retorno de um sistema bancário dividido, solução que havia sido
recomendada por muitos observadores, entre os quais Paul
Volcker, assessor econômico
de Obama e antigo presidente
do Fed (o BC dos EUA).
E o estudo tampouco exibe
qualquer traço do plano original de produzir uma consolidação drástica no número de
agências regulatórias que agem
sobre o sistema bancário. Em
lugar de seis agências para o setor, agora existirão cinco.
Como declarou Obama anteontem, "nós queremos fazer
as coisas da maneira correta.
Queremos agir com cuidado. E
não queremos enfrentar moinhos de vento". O resultado é
uma série cuidadosamente articulada de compromissos entre uma constelação diversificada de agências regulatórias,
barões do Congresso e grupos
de lobby setoriais. Determinar
que proporção desse acordo
cuidadoso sobreviverá aos debates para sua aprovação no
Congresso continua a ser uma
questão em aberto.
É seguro que a maior parte da
comunidade financeira e do
lobby que representa o setor
está satisfeita com a proposta.
"O Tesouro realizou amplas
consultas e produziu uma proposta cuidadosa e bem balanceada", afirma Scott Talbott, de
um grupo de lobby que defende
os interesses de Wall Street.
Talvez o elemento mais vulnerável na proposta de reforma
seja a ideia de conferir ao Fed
poderes novos sobre instituições consideradas como grandes demais para quebrar. Se
considerarmos que o Fed é visto como responsável por alimentar a bolha de ativos que
deu início ao processo, muitos
legisladores, entre os quais
aliados do presidente, consideram que isso seja o equivalente
a recompensar o fracasso.
"Poder econômico demais
concentrado em um lugar só é
algo que coloca em risco o nosso sistema de governo. Os pais
fundadores dos EUA se opunham a concentrações de poder econômico, ou de outra ordem, e favoreciam um sistema
de equilíbrio e de controles recíprocos", afirmou o democrata
Mark Warner, membro da Comissão Bancária do Senado.
Os republicanos são ainda
mais estridentes em sua oposição a uma ampliação dos poderes do Fed. "A vasta expansão
do balanço do Fed nos últimos
meses pode ser vista como fonte muito mais significativa de
risco sistêmico para a economia do nosso país do que o colapso de qualquer instituição financeira específica", disse a liderança republicana no Congresso recentemente.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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