São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2000


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CASO AMBEV
Inquérito vê esquema frustrado para corromper conselheiros do Cade que julgaram fusão entre Brahma e Antarctica
PF aponta tentativa de suborno no Cade

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de quatro meses de investigação, a Polícia Federal concluiu ontem que havia um esquema montado para tentar corromper conselheiros do Cade no julgamento sobre a AmBev, companhia que resultou da fusão entre a Brahma e a Antarctica. Um esquema frustrado.
O inquérito sustenta que R$ 20 milhões haviam sido pedidos por advogados de São Paulo com o objetivo de "cooptar" membros do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que aprovou a fusão no final de março deste ano.
Segundo um advogado que teve acesso ao inquérito, o delegado Luiz Carlos Zubcov indiciou os advogados Márcio Pugliese e Marco Antônio Campos Salles por tráfico de influência. Partiu deles, segundo o texto, a proposta de mudar os votos no Cade em troca dos R$ 20 milhões, que não chegaram a ser pagos a ninguém.
Também foram indiciados o presidente da Associação dos Distribuidores da Antarctica (Abradisa), Ataíde Guerreiro, e seu advogado, Aírton Soares, ambos por falso testemunho. Em depoimento à PF, eles negaram haver insinuado proposta de suborno para a conselheira Hebe Romano, relatora do caso AmBev. Mas Zubcov não se convenceu.

Demora
Hebe Romano e o ex-presidente do Cade Gesner Oliveira não foram indiciados. Mas Zubcov criticou os dois por haver demorado mais de um mês para comunicar a tentativa de suborno à PF.
Agora, o inquérito será enviado ao Ministério Público, que avaliará se oferece denúncia ou não. Gesner Oliveira e Hebe Romano também podem ser denunciados.

Investigação
A investigação da PF foi aberta em fevereiro deste ano, depois que Hebe Romano relatou ao então ministro da Justiça, José Carlos Dias, uma visita que recebera algumas semanas antes.
Segundo Hebe Romano, o advogado Aírton Soares, falando em nome da Abradisa, deixou implícita em conversa uma proposta de suborno.
De acordo com o inquérito, os advogados Pugliese e Campos Salles, de São Paulo, que diziam ter contatos privilegiados no Cade e garantiam poder interferir no julgamento sobre a legalidade da AmBev, ofereceram o serviço ao presidente da Abradisa, Ataíde Guerreiro. Este enviou a Brasília seu próprio advogado, Aírton Soares, para conferir o poder de fogo da dupla. Sem êxito.
Não há, no inquérito, qualquer indício de que os conselheiros do Cade abriram espaço para propostas de suborno. Tampouco há evidência de participação da Kaiser nesse episódio. A cervejaria era contra a fusão das duas concorrentes na AmBev.

Defesa
Procurados pela Folha, Gesner Oliveira e Hebe Romano não quiseram falar sobre o assunto. Aírton Soares e Ataíde Guerreiro não retornaram os recados deixados. Márcio Pugliese não foi encontrado.
O advogado de Campos Salles, Plínio Rangel Pestana, disse que seu cliente "vai se defender no processo e provar que não praticou nenhum dos atos que estão lhe imputando".


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