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CASO AMBEV
Inquérito vê esquema frustrado para corromper conselheiros do Cade que julgaram fusão entre Brahma e Antarctica
PF aponta tentativa de suborno no Cade
WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de quatro meses de investigação, a Polícia Federal concluiu ontem que havia um esquema montado para tentar corromper conselheiros do Cade no julgamento sobre a AmBev, companhia que resultou da fusão entre a
Brahma e a Antarctica. Um esquema frustrado.
O inquérito sustenta que R$ 20
milhões haviam sido pedidos por
advogados de São Paulo com o
objetivo de "cooptar" membros
do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que
aprovou a fusão no final de março
deste ano.
Segundo um advogado que teve
acesso ao inquérito, o delegado
Luiz Carlos Zubcov indiciou os
advogados Márcio Pugliese e
Marco Antônio Campos Salles
por tráfico de influência. Partiu
deles, segundo o texto, a proposta
de mudar os votos no Cade em
troca dos R$ 20 milhões, que não
chegaram a ser pagos a ninguém.
Também foram indiciados o
presidente da Associação dos Distribuidores da Antarctica (Abradisa), Ataíde Guerreiro, e seu advogado, Aírton Soares, ambos por
falso testemunho. Em depoimento à PF, eles negaram haver insinuado proposta de suborno para
a conselheira Hebe Romano, relatora do caso AmBev. Mas Zubcov
não se convenceu.
Demora
Hebe Romano e o ex-presidente
do Cade Gesner Oliveira não foram indiciados. Mas Zubcov criticou os dois por haver demorado
mais de um mês para comunicar a
tentativa de suborno à PF.
Agora, o inquérito será enviado
ao Ministério Público, que avaliará se oferece denúncia ou não.
Gesner Oliveira e Hebe Romano
também podem ser denunciados.
Investigação
A investigação da PF foi aberta
em fevereiro deste ano, depois
que Hebe Romano relatou ao então ministro da Justiça, José Carlos Dias, uma visita que recebera
algumas semanas antes.
Segundo Hebe Romano, o advogado Aírton Soares, falando em
nome da Abradisa, deixou implícita em conversa uma proposta de
suborno.
De acordo com o inquérito, os
advogados Pugliese e Campos Salles, de São Paulo, que diziam ter
contatos privilegiados no Cade e
garantiam poder interferir no julgamento sobre a legalidade da
AmBev, ofereceram o serviço ao
presidente da Abradisa, Ataíde
Guerreiro. Este enviou a Brasília
seu próprio advogado, Aírton
Soares, para conferir o poder de
fogo da dupla. Sem êxito.
Não há, no inquérito, qualquer
indício de que os conselheiros do
Cade abriram espaço para propostas de suborno. Tampouco há
evidência de participação da Kaiser nesse episódio. A cervejaria
era contra a fusão das duas concorrentes na AmBev.
Defesa
Procurados pela Folha, Gesner
Oliveira e Hebe Romano não quiseram falar sobre o assunto. Aírton Soares e Ataíde Guerreiro não
retornaram os recados deixados.
Márcio Pugliese não foi encontrado.
O advogado de Campos Salles,
Plínio Rangel Pestana, disse que
seu cliente "vai se defender no
processo e provar que não praticou nenhum dos atos que estão
lhe imputando".
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