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São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2003

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ESPETÁCULO ADIADO

Governo projeta retomada no último trimestre; documento diz que culpa do fraco desempenho é do juro alto

País só crescerá no fim do ano, diz Fazenda

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O "espetáculo do crescimento", previsto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para começar já neste mês, está adiado pelo menos até o final do ano.
Documento do Ministério da Fazenda afirma que a melhoria dos indicadores econômicos brasileiros "permitirá reativar o crescimento econômico a partir do último trimestre de 2003". O documento não fala em crescimento a partir de agora.
Questionado sobre as perspectivas de reativação da economia brasileira entre julho e setembro deste ano, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, afirmou que "sempre há um atraso entre a melhora dos indicadores macroeconômicos e a recuperação da atividade".
Segundo ele, há um consenso entre os analistas de que a recuperação da atividade econômica só deve acontecer no último trimestre (outubro a dezembro) ou no final do atual.
No primeiro trimestre deste ano, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro registrou queda de 0,1% em relação aos últimos três meses de 2002. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) projeta que, entre abril e junho, a queda do Produto Interno Bruto tenha sido maior -0,9%.
O fraco desempenho da economia brasileira, reconhece o Ministério da Fazenda no Boletim Macroeconômico divulgado ontem, é em boa parte resultado da política de juros altos do Banco Central. "O desempenho agregado da indústria reflete a política monetária voltada para o combate da alta nos níveis de inflação iniciada nos últimos meses de 2002", afirma o boletim.
Outras razões para o desempenho pífio da economia, segundo o documento, foram a alta da inflação, a escassez de recursos externos e a queda do consumo a partir do segundo semestre de 2002.

Recuperação
A Fazenda afirma que a recuperação prevista para o último trimestre não será, no entanto, suficiente para inverter a atual trajetória de queda nas vendas do varejo, devido à queda da renda dos assalariados.
Os únicos setores que conseguiram escapar de um quadro recessivo foram a agricultura e as indústrias que buscaram no mercado externo uma alternativa para as vendas domésticas.
Lisboa diz que o controle da inflação, a estabilização do câmbio e a recuperação dos indicadores de risco-país aconteceram, segundo analistas, de maneira mais rápida que o esperado. Segundo ele, isso permitirá uma recuperação mais acelerada da economia.
Ele não quis comentar se isso significaria uma redução dos juros pelo Banco Central de maneira mais acelerada. "Isso é uma análise para o Banco Central", afirmou.
Na próxima semana acontece a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que pode decidir pela queda da taxa básica de juros, hoje em 26% ao ano.
Segundo a Fazenda, os índices de preço que medem a inflação para o consumidor devem ficar entre 0,7% e 1,2% neste mês e no próximo. O pico dos reajustes deve acontecer em julho.
O quadro para o resto do ano é de "inflação em permanente desaceleração, com moderado crescimento da taxa de câmbio [desvalorização do real], gradativa recuperação da demanda interna e cotações futuras de petróleo em patamares semelhantes aos atuais".

Em 2004
Já para o próximo ano, a Fazenda considera possível um crescimento maior que os 3,5% previstos pelo governo. Um dos motivos para a boa notícia não é nada animador: o efeito estatístico de comparar 2004 com um ano em que a economia foi mal.
"A base de comparação deprimida dos três primeiros trimestres de 2003 e a recuperação mais enfática da economia a partir do último trimestre irão garantir importante "carryover" [efeito] para 2004, tornando possivelmente conservadoras as projeções de crescimento próximas a 3,5% para o próximo ano", afirma o boletim do ministério.


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