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ESPETÁCULO ADIADO
Governo projeta retomada no último trimestre; documento diz que culpa do fraco desempenho é do juro alto
País só crescerá no fim do ano, diz Fazenda
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O "espetáculo do crescimento",
previsto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para começar já
neste mês, está adiado pelo menos até o final do ano.
Documento do Ministério da
Fazenda afirma que a melhoria
dos indicadores econômicos brasileiros "permitirá reativar o crescimento econômico a partir do
último trimestre de 2003". O documento não fala em crescimento
a partir de agora.
Questionado sobre as perspectivas de reativação da economia
brasileira entre julho e setembro
deste ano, o secretário de Política
Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, afirmou
que "sempre há um atraso entre a
melhora dos indicadores macroeconômicos e a recuperação da atividade".
Segundo ele, há um consenso
entre os analistas de que a recuperação da atividade econômica só
deve acontecer no último trimestre (outubro a dezembro) ou no
final do atual.
No primeiro trimestre deste
ano, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro registrou queda de
0,1% em relação aos últimos três
meses de 2002. O Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada)
projeta que, entre abril e junho, a
queda do Produto Interno Bruto
tenha sido maior -0,9%.
O fraco desempenho da economia brasileira, reconhece o Ministério da Fazenda no Boletim Macroeconômico divulgado ontem,
é em boa parte resultado da política de juros altos do Banco Central. "O desempenho agregado da
indústria reflete a política monetária voltada para o combate da
alta nos níveis de inflação iniciada
nos últimos meses de 2002", afirma o boletim.
Outras razões para o desempenho pífio da economia, segundo o
documento, foram a alta da inflação, a escassez de recursos externos e a queda do consumo a partir
do segundo semestre de 2002.
Recuperação
A Fazenda afirma que a recuperação prevista para o último trimestre não será, no entanto, suficiente para inverter a atual trajetória de queda nas vendas do varejo, devido à queda da renda dos
assalariados.
Os únicos setores que conseguiram escapar de um quadro recessivo foram a agricultura e as indústrias que buscaram no mercado externo uma alternativa para
as vendas domésticas.
Lisboa diz que o controle da inflação, a estabilização do câmbio e
a recuperação dos indicadores de
risco-país aconteceram, segundo
analistas, de maneira mais rápida
que o esperado. Segundo ele, isso
permitirá uma recuperação mais
acelerada da economia.
Ele não quis comentar se isso
significaria uma redução dos juros pelo Banco Central de maneira mais acelerada. "Isso é uma
análise para o Banco Central",
afirmou.
Na próxima semana acontece a
reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária), que pode decidir pela queda da taxa básica de
juros, hoje em 26% ao ano.
Segundo a Fazenda, os índices
de preço que medem a inflação
para o consumidor devem ficar
entre 0,7% e 1,2% neste mês e no
próximo. O pico dos reajustes deve acontecer em julho.
O quadro para o resto do ano é
de "inflação em permanente desaceleração, com moderado crescimento da taxa de câmbio [desvalorização do real], gradativa recuperação da demanda interna e
cotações futuras de petróleo em
patamares semelhantes aos
atuais".
Em 2004
Já para o próximo ano, a Fazenda considera possível um crescimento maior que os 3,5% previstos pelo governo. Um dos motivos para a boa notícia não é nada
animador: o efeito estatístico de
comparar 2004 com um ano em
que a economia foi mal.
"A base de comparação deprimida dos três primeiros trimestres de 2003 e a recuperação mais
enfática da economia a partir do
último trimestre irão garantir importante "carryover" [efeito] para
2004, tornando possivelmente
conservadoras as projeções de
crescimento próximas a 3,5% para o próximo ano", afirma o boletim do ministério.
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