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São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2003

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Juro dos EUA favorece Brasil, dizem economistas

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Mais que a recuperação do crescimento ou a redução gradual da inflação, é o futuro da taxa de juros dos EUA que deve merecer a maior parte da atenção brasileira.
Essa é a opinião de membros do NBER (National Bureau of Economic Research), um dos mais renomados institutos de economia do país, responsável por oficializar o ciclo das recessões.
Para eles, a manutenção de juros baixos nos EUA (ou ainda mais baixos que o atual 1% anual), como apontou o presidente do Fed, Alan Greenspan, representa alívio para o financiamento externo dos emergentes -o que seria o mais importante.
Em contrapartida, juros baixos são indicativo de que a recuperação econômica ainda é só miragem, o que não é boa notícia para as exportações brasileiras.
"No caso do Brasil, acho que se prefere agora a taxa de juros [americana] mais baixa", diz Roberto Rigobon, professor de economia do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
Em tese, quanto mais baixa a taxa nos EUA, menos atrativo se torna investir no país, o que provocaria migração dos recursos para outras áreas do globo.
Mas outro membro do NBER, Alan Taylor, professor da Universidade da Califórnia, vê a mesma situação por ângulo um pouco diferente.
"A preocupação tem que ser com o fato de que o Fed [o BC dos EUA] não controla os rendimentos de títulos de longo prazo. Se os mercados começarem a ficar muito preocupados [com a situação da economia americana], isso chegaria muito rápido ao mercado de títulos federais e também aos títulos de mercados emergentes como o Brasil", disse.
Taylor acha que o fluxo de capital para emergentes não tem como principal fundamento a taxa de juros dos Estados Unidos.
"Há muita atenção não só ao que acontece com os juros norte-americanos mas também a países como o Brasil. Depois das crises na Ásia, na Argentina, na Rússia, na Turquia e no Brasil, todo mundo está mais cauteloso com a dívida dos mercados emergentes."
Reihnart discorda: "Há uma tentação em ver que o novo acesso do Brasil ao mercado é inteiro dirigido pelo novo governo. Isso é um perigo. Quando falei isso aos mexicanos em 1992, disseram: "Estamos recebendo esses fluxos porque fizemos isso e aquilo". Sim, tinham feito. Mas grande parte do fluxo ocorria porque os juros estavam tão baixos [nos Estados Unidos] que se procuravam rendimentos mais altos".
Outro componente da discussão é o raciocínio inverso, caso a retomada prevista por Greenspan de fato aconteça -o que poderia trazer os juros para cima, possibilidade que os três economistas do NBER consideram bem real.
Nesse caso, Rigobon ressalta o efeito perigoso dos juros americanos sobre as taxas pagas por títulos brasileiros. "O "pass through" [repasse] das taxas americanas para as brasileiras, em dólar, é maior que um para um. Se a taxa subir, os juros da dívida brasileira vão subir mais rapidamente ainda. O "spread" costuma aumentar na subida dos juros dos EUA."
O economista acha que a pressão dos juros americanos sobre a dívida é mais "devastadora" que a pressão interna, no Brasil, pela queda da taxa básica.
"Preferiria não exportar tanto, mas ter um ambiente de baixas taxas de juros", afirma Rigobon.


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