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Juro dos EUA favorece Brasil, dizem economistas
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Mais que a recuperação do crescimento ou a redução gradual da
inflação, é o futuro da taxa de juros dos EUA que deve merecer a
maior parte da atenção brasileira.
Essa é a opinião de membros do
NBER (National Bureau of Economic Research), um dos mais renomados institutos de economia
do país, responsável por oficializar o ciclo das recessões.
Para eles, a manutenção de juros baixos nos EUA (ou ainda
mais baixos que o atual 1% anual),
como apontou o presidente do
Fed, Alan Greenspan, representa
alívio para o financiamento externo dos emergentes -o que seria
o mais importante.
Em contrapartida, juros baixos
são indicativo de que a recuperação econômica ainda é só miragem, o que não é boa notícia para
as exportações brasileiras.
"No caso do Brasil, acho que se
prefere agora a taxa de juros
[americana] mais baixa", diz Roberto Rigobon, professor de economia do MIT (Massachusetts
Institute of Technology).
Em tese, quanto mais baixa a taxa nos EUA, menos atrativo se
torna investir no país, o que provocaria migração dos recursos
para outras áreas do globo.
Mas outro membro do NBER,
Alan Taylor, professor da Universidade da Califórnia, vê a mesma
situação por ângulo um pouco diferente.
"A preocupação tem que ser
com o fato de que o Fed [o BC dos
EUA] não controla os rendimentos de títulos de longo prazo. Se os
mercados começarem a ficar
muito preocupados [com a situação da economia americana], isso
chegaria muito rápido ao mercado de títulos federais e também
aos títulos de mercados emergentes como o Brasil", disse.
Taylor acha que o fluxo de capital para emergentes não tem como principal fundamento a taxa
de juros dos Estados Unidos.
"Há muita atenção não só ao
que acontece com os juros norte-americanos mas também a países
como o Brasil. Depois das crises
na Ásia, na Argentina, na Rússia,
na Turquia e no Brasil, todo mundo está mais cauteloso com a dívida dos mercados emergentes."
Reihnart discorda: "Há uma
tentação em ver que o novo acesso do Brasil ao mercado é inteiro
dirigido pelo novo governo. Isso é
um perigo. Quando falei isso aos
mexicanos em 1992, disseram:
"Estamos recebendo esses fluxos
porque fizemos isso e aquilo".
Sim, tinham feito. Mas grande
parte do fluxo ocorria porque os
juros estavam tão baixos [nos Estados Unidos] que se procuravam
rendimentos mais altos".
Outro componente da discussão é o raciocínio inverso, caso a
retomada prevista por Greenspan
de fato aconteça -o que poderia
trazer os juros para cima, possibilidade que os três economistas do
NBER consideram bem real.
Nesse caso, Rigobon ressalta o
efeito perigoso dos juros americanos sobre as taxas pagas por títulos brasileiros. "O "pass through"
[repasse] das taxas americanas
para as brasileiras, em dólar, é
maior que um para um. Se a taxa
subir, os juros da dívida brasileira
vão subir mais rapidamente ainda. O "spread" costuma aumentar
na subida dos juros dos EUA."
O economista acha que a pressão dos juros americanos sobre a
dívida é mais "devastadora" que a
pressão interna, no Brasil, pela
queda da taxa básica.
"Preferiria não exportar tanto,
mas ter um ambiente de baixas taxas de juros", afirma Rigobon.
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