São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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EMERGENTES

Jim O"Neill, do Goldman Sachs, diz que até 2036 a economia brasileira superará a alemã, mas pede maior abertura

Economista crê em novos líderes globais

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em 2036, a economia brasileira será maior do que a alemã, superando todos os demais países europeus. A China ultrapassará os Estados Unidos em 2041 e, por volta de 2032, a Índia vai superar o Japão. Em 2050, Brasil, Rússia, Índia e China integrarão o G6 (seis maiores economias do mundo) e mudarão drasticamente as relações de poder e de comércio existentes hoje no globo.
A análise é do economista-chefe do banco norte-americano Goldman Sachs, Jim O"Neill, que lançou no ano passado o polêmico estudo chamado "Sonhando com BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China): o caminho para 2050".
De Londres, em entrevista à Folha por telefone, O"Neill disse que suas projeções não são tão otimistas assim quando comparada à realidade de Coréia do Sul e do Japão na década de 60 com a situação dos dois países hoje.
"É muito interessante ver que algumas das economias asiáticas, como o Japão, especialmente, estão hoje em situação muito melhor do que se esperava pelas análises feitas em 1960", disse.
Por suas projeções, o Brasil crescerá nos próximos 50 anos a uma taxa anual de 3,6%, percentual que ele considera bastante "ambicioso" quando se olha a história do país nos últimos 50 anos.
Para que o cenário se confirme, o Brasil precisaria abrir mais sua economia. O governo teria também de reduzir o tamanho da dívida pública, para não concorrer com o setor privado por crédito, e aumentar a taxa de poupança.

 

Folha - O sr. poderia fazer uma síntese do quadro traçado para cada um dos quatro países?
Jim O"Neill
- Eu enfatizo o termo "sonhando", pois o estudo não é uma projeção de 100% do que poderá acontecer.
Eu penso que os quatro países enfrentam diferentes desafios para alcançar seus sonhos. A maior prioridade para a China é aumentar a importância da cultura do consumo. O país precisa também melhorar a qualidade do sistema financeiro, o que envolve importantes reformas, e, em determinado estágio, fazer algum tipo de transição política.
No caso da Índia, o país precisa abrir muito mais sua economia e ter um sistema de educação básica muito melhor. É preciso ter também mais transparência sobre as políticas macroeconômicas adotadas.
O principal ponto de transição para a Rússia é reduzir sua dependência em do petróleo [principal produto de exportação do país]. Além disso, ao contrário dos outros países [do BRICs], precisa conter a redução da população.
Para o Brasil, um dos pontos-chaves é abrir mais o seu mercado. O Brasil precisa ter mais claro que o mundo ajudará mais quanto mais houver competição [no comércio exterior]. Historicamente, um grande número de países latino-americanos, incluindo o Brasil, nunca pareceu estar consciente dos benefícios advindos do comércio internacional.

Folha - Essas projeções não são muito suscetíveis a falhas, uma vez que o período em questão é bastante longo?
O"Neill
- O que nós fizemos foi pegar períodos de cinco anos e assumir como a produtividade e a demografia nesses países iriam afetar os padrões econômicos ao longo desses períodos de cinco anos. É claro que as projeções podem ser muito otimistas. No entanto, no estudo, nós tentamos avaliar o que uma projeção semelhante mostraria nos anos 60. É muito interessante ver que algumas das economias asiáticas, como Coréia do Sul e Japão, especialmente, estão hoje em situação muito melhor do que se esperava pelas análises feitas nos anos 60. Então, as projeções não são necessariamente tão otimistas assim.

Folha - Em seu estudo, a projeção de crescimento médio para o Brasil nos próximos 50 anos é de 3,6% ao ano. Essa taxa média de crescimento é um bom número para o Brasil?
O"Neill
- É muito ambiciosa, dado o histórico de crescimento do país nos últimos 50 anos. Mas, no nosso estudo, dizemos também que o crescimento nos próximos anos, de hoje até o final desta década, será acima de 4%.

Folha - Ao ultrapassar a economia americana, como o crescimento chinês vai modificar o equilíbrio político global hoje existente?
O"Neill
- Essa é uma pergunta muito boa. Como nós já estamos caminhando nessa direção, precisamos urgentemente de uma reforma no G7. Quando me interessei pela primeira vez por esse conceito, escrevi um artigo chamado "O mundo precisa de fundamentos econômicos [em inglês, "economic bricks", trocadilho com BRICs]". Argumentei que uma expansão definitiva do G7 era necessária para incluir a China. Seria preciso também aumentar a importância do G20, para que China, Índia, Rússia e Brasil tivessem voz maior na administração da política econômica mundial.


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