São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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Grupo Peugeot na França registra 6 suicídios neste ano

Cinco trabalhadores trabalhavam em uma mesma unidade da montadora européia; três deles se suicidaram em maio

Motivo da 6ª morte não foi explicado; sindicato pede que suicídio do funcionário seja qualificado como acidente de trabalho

NATHALIE BRAFMAN
DO "MONDE"

Um operário da fábrica da Peugeot-Citroën em Mulhouse (na região francesa da Alsácia) se enforcou na última segunda-feira, elevando para cinco o número de suicídios de funcionários dessa unidade e para seis o total no grupo desde o início do ano. Em Mulhouse trabalham cerca de 10,5 mil pessoas.
Segundo uma fonte sindical, o funcionário, de 55 anos, teria se enforcado com um objeto que serve para serrar peças. Chamado Mario, ele trabalhava havia 29 anos na PSA.
Esse suicídio ocorre após a primeira reunião, em 11 de julho, da célula interna de reflexão, constituída por psiquiatra e assistentes sociais, destinada a prevenir os suicídios e da qual participam a direção e os sindicatos. E duas semanas depois da implementação pela direção do grupo PSA de uma linha telefônica gratuita de escuta psicológica, que funciona 24 horas, sete dias por semana e permite que os empregados da montadora dialoguem.

Acidente de trabalho
Por enquanto são ignoradas as causas do suicídio. O empregado não deixou uma carta no local de trabalho explicando seu gesto. O sindicato CGT já pediu que o suicídio seja qualificado como acidente de trabalho. Ainda estão em curso investigações sobre os outros casos de suicídio.
Segundo Vincent Duse, delegado da CGT no comitê da empresa da fábrica de Mulhouse, "esse homem podia ter problemas pessoais, mas o fato de a morte ocorrer no local de trabalho basta para nos indagarmos sobre as condições de trabalho impostas pela PSA".
"Está na hora de a direção tomar as medidas necessárias para que essas tragédias parem. Em nome da corrida pela rentabilidade, metas e prazos, as condições de trabalho são muito difíceis. Além disso, o plano de gestão provisional dos empregos e dos cargos vai agravar ainda mais a situação. Sem contar que, no fim de julho, 500 contratos provisórios não serão renovados", afirmou Duse. Na oficina de ferragens da fábrica em Mulhouse, onde três outros assalariados se suicidaram em maio no local de montagem dos chassis, uma tarefa dura, as equipes estão sendo reduzidas. "Há não muito tempo éramos 2.000, em breve seremos 500. Não é de surpreender que as condições de trabalho se degradem"", disse um operário. À preocupação ligada à produção acrescenta-se a degradação do ambiente. "Hoje, cada operário compete com seu vizinho. Os lugares de convívio foram suprimidos e estamos constantemente sob o olhar do chefe, que também está sob pressão, deve-se admitir", lamenta Bruno Lemerle, delegado da CGT em Sochaux.

Plano de emergência
No início de junho, o sindicato propôs um plano de emergência para a saúde dos funcionários, que prevê principalmente a generalização na produção do sistema "dez minutos de pausa por hora", um controle ambulatorial das queixas psicológicas e o fim imediato das pressões sobre os doentes, que assumem a forma de convocações ou o envio de cartas da direção por "absenteísmo pessoal incompatível com a organização industrial" -a CGT teria reunido 150 delas-, assim como telefonemas e visitas indesejadas às residências dos trabalhadores.
"Até hoje, infelizmente, a direção não deu uma resposta séria a nossas propostas. A criação da linha direta não é suficiente. Queremos que uma firma externa especializada em dificuldades no trabalho também venha às fábricas."


Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES


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