São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FMI alerta sobre "grande" ameaça da inflação global

Relatório do Fundo aumenta projeções para alta de preços no mundo em 2008

Por outro lado, previsão de crescimento das economias tem ligeira elevação; no caso dos EUA, entidade já vê avanço de 1,3% do PIB

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O fantasma da inflação chegou ao Fundo Monetário Internacional. A entidade soltou ontem sua atualização periódica de perspectivas para a economia mundial em que a alta dos preços projetada para 2008 e 2009, principalmente nos países emergentes, dá um salto. "A inflação está crescendo no mundo", disse Simon Johnson, diretor de pesquisas do Fundo. Isso é uma novidade grande, séria e negativa em relação ao relatório de abril."
Ainda assim, o "Cenário Econômico Mundial" revê a previsão de crescimento das economias ligeiramente para cima: 4,1% neste ano e 3,9% no ano que vem, ou respectivamente 0,4 ponto percentual e 0,1 ponto percentual mais do que no relatório feito em abril, durante o Encontro de Primavera do FMI e do Banco Mundial. "Antes de voltar a se recuperar em 2009, o crescimento global deve se desacelerar significativamente no segundo semestre deste ano", diz o texto.
Entre as duas avaliações, houve novas altas do petróleo, que bateu recordes nas últimas semanas, dos alimentos e dos preços das commodities em geral. Assim, agora, a taxa inflacionária nos países avançados deve ficar em 3,4% em 2008 e 2,3% em 2009, uma alta respectivamente de 0,8 e 0,3 ponto percentual em relação à previsão de abril. Já a das economias emergentes deve chegar a 9,1% neste ano e 7,4% no próximo -saltos, respectivamente, de 1,7 e 1,8 ponto percentual.
O avanço dos preços previsto nos emergentes é tal que Johnson sugere alta na taxa básica das economias desses países para segurar a inflação. ""Bancos centrais [desses países] devem considerar aumento preventivo dos juros como maneira de evitar que a inflação saia de controle", disse o economista, em entrevista na sede do Fundo, em Washington.
O crescimento dos emergentes e em desenvolvimento será afetado, também. Segundo o texto do FMI, essas economias se desaceleram para 6,9% em 2008 e 6,7% em 2009, ante os 8% registrados em 2007.
Mas houve espaço para boas notícias. Entre os países industrializados destacados pelo relatório, a maior correção positiva na trajetória de crescimento coube justamente aos EUA, que passam por grande turbulência econômica. Do 0,5% de crescimento do PIB projetado para 2008 no texto de abril, houve um salto para o 1,3% no de ontem. Em 2009, o Fundo vê o país crescendo menos, 0,8% -mas o índice é um aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao anterior.
Os sinais de otimismo em relação à maior economia do planeta ecoaram em outra sala de Washington, em reunião realizada poucas horas depois. "Para o setor financeiro como um todo, vemos claramente o princípio do fim da crise", disse Josef Ackerman, presidente do banco alemão Deutsche Bank e do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), a maior associação de bancos do mundo com mais de 380 membros, em lançamento de relatório da entidade.

Biocombustíveis
Se há um culpado pela alta dos preços no relatório do Fundo, ele pode ser encontrado no anexo "Preços crescentes de combustível e alimentos - Origens, perspectivas e riscos". Nele o FMI aponta o dedo para os biocombustíveis, principalmente o etanol feito a partir do milho, o mais comum nos EUA.
"A produção do etanol à base de milho foi responsável por 75% do aumento do consumo mundial de milho em 2006 e 2007", calcula o texto.


Texto Anterior: Luiz Carlos Mendonça De Barros: De volta a 1929
Próximo Texto: "Brasil está indo muito bem", diz Fundo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.