São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2008

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Governo argentino retoma controle da Aerolíneas para superar crise

Com dívida de US$ 890 milhões, empresa enfrenta protestos e atraso de vôos

Cozaro De Luca/EFE
Aviões da Aerolíneas Argentinas, em Buenos Aires; metade da frota está parada com a crise da empresa

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
O governo argentino anunciou ontem que a empresa aérea Aerolíneas Argentinas voltará ao controle do Estado, 17 anos depois de sua privatização. Endividada e com metade da frota parada, a empresa enfrentava problemas com protestos de funcionários e conseqüentes atrasos e cancelamentos de vôos.
O anúncio foi feito ontem pelo secretário de Transporte, Ricardo Jaime, que afirmou que o governo chegou a um acordo com o grupo espanhol Marsans, controlador da companhia, para a transferência de 100% das ações da Aerolíneas e de sua subsidiária, a Austral, ao Estado, que hoje tem apenas 5% do capital da empresa.
O acordo será assinado na próxima segunda-feira pelo ministro de Planejamento, Julio De Vido, e por acionistas.
Durante 60 dias, um conselho de transição, formado por três representantes do governo e dois do grupo espanhol, formarão a gestão para a transferência da empresa e buscarão definir o valor da companhia, motivo de desentendimento entre os dois lados. "Mais adiante definiremos se convocaremos a venda de uma parte das ações por meio de uma licitação nacional e internacional", disse Jaime, ao afirmar que o Estado não descarta privatizar novamente a empresa.
Apesar de as negociações entre companhia e governo estarem avançadas há vários dias, o anúncio foi feito horas depois de uma derrota política. O governo não conseguiu aprovar seu projeto de aumento de impostos sobre as exportações de grãos no Senado. O anúncio do acordo dividiu as atenções, mas o secretário de Transportes negou qualquer vínculo entre as duas notícias.
Com uma dívida de US$ 900 milhões (R$ 1, 4 bilhão), segundo o governo, e metade de sua frota parada, a crise na Aerolíneas se agravou na semana passada, quando funcionários paralisaram parte de suas atividades porque não receberam os pagamentos de junho. Os atrasos e cancelamentos de vôos, constantes na empresa, agravaram-se ainda mais.
Há uma semana, governo e representantes sindicais entraram com pedido de intervenção da Justiça na empresa. O governo assumiu o pagamento de 50 milhões de pesos (R$ 26 milhões) em salários atrasados, combustíveis e aluguel de aeronaves da empresa. Ontem, anunciou que investiria outros 54 milhões (R$ 28 milhões) para a manutenção de aviões.
Na quarta-feira, o secretário-geral da Associação de Pilotos de Linhas Aéreas, Jorge Pérez Tamayo, afirmou que a Aerolíneas "está em coma quatro". Tamayo afirmou que a crise se agravou justo quando a empresa deveria estar no auge de sua arrecadação econômica, devido às férias de inverno.
Depois de meses de conflito devido à crise da empresa, o grupo assumiu que tem dívidas de US$ 890 milhões, mas somente US$ 220 milhões seriam exigíveis, que devem ser pagas imediatamente.

Tendência nacionalista
A Aerolíneas Argentinas não é a primeira empresa privatizada nos anos 90, pelo então presidente Carlos Menem, que volta ao controle estatal.
Uma das bandeiras políticas do ex-presidente Néstor Kirchner foi consertar o que considerou "erros" das privatizações da era Menem. Durante seu governo, ele cassou concessões de empresas como o Correo Argentino, de serviços postais, e a Aguas Argentinas, de água e esgoto, e as transferiu ao Estado.


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