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Ações estão caras e limitam alta da Bolsa, dizem analistas
Índice mostra que preço não condiz com o lucro apresentado por empresas
Para especialistas, mercado adota um otimismo
exagerado e ignora
as incertezas sobre a
recuperação mundial
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Após três meses de valorização, as ações das empresas brasileiras ficaram muito caras, na
avaliação de especialistas, o que
explica o fato de a Bolsa de Valores de São Paulo ter estacionado no nível de 50 mil pontos
há algumas semanas.
Ao mesmo tempo em que revela um otimismo exagerado
do mercado quanto às perspectivas para a economia do país
em 2009 e 2010, o atual patamar de preço dos papéis está
desencorajando novas compras por parte dos investidores.
Entre o seu menor valor no
ano (36.234 pontos, em 2 de
março) e o maior (53.630 pontos, em 8 de junho), o Ibovespa
-que reúne as 65 ações mais
negociadas da Bolsa brasileira- avançou 48%. Segundo levantamento feito pela consultoria Economática a pedido da
Folha, o índice P/L (preço de
mercado da ação dividido pelo
lucro da empresa nos 12 meses
anteriores) médio das companhias nacionais estava em 16,6
ontem. Grosso modo, quanto
maior essa relação, mais caro se
encontra o papel. Em março, o
indicador estava em 12,2.
"O P/L médio do país reflete
as expectativas sobre o aumento do lucro das empresas locais
e o risco que tal nação oferece.
É um índice complicado de interpretar, por isso não se pode
estabelecer que a partir de determinado nível os preços estão
muito altos. Mas, mesmo assim, é preciso acreditar que o
Brasil é um país o diferente do
que era em 2005, quando o índice estava perto dos 10 pontos,
para justificar que agora fique
em 16. Leituras acima de 15
pontos me deixam desconfiado", diz Fernando Exel, presidente da Economática.
De quatro anos para cá, o indicador subiu porque o preço
das ações aumentou em um ritmo superior ao dos ganhos corporativos. No começo de 2008,
quando chegou aos 24,2 pontos, os analistas apontavam para a formação de uma bolha.
Esse não parece ser o caso no
momento, ressalta quem
acompanha os movimentos do
mercado de perto; entretanto,
os dados disponíveis sobre a
atividade econômica brasileira
ainda não autorizam muita euforia quanto ao desempenho
das empresas do país no curto e
no médio prazo.
"À parte os progressos recentes e todas as qualidades do
Brasil -como a eficiente atuação do governo federal e do
Banco Central no combate aos
efeitos da crise, a boa governança corporativa das empresas- e as surpresas positivas
quanto ao grau de aquecimento
da atividade no primeiro semestre, ainda existem incertezas demais sobre o comportamento do PIB [Produto Interno Bruto] no Brasil e no mundo
daqui para a frente", diz Raffi
Dokuzian, superintendente da
Banif Corretora.
Preço justo
Na opinião de Haroldo Vale
Mota, professor da Fundação
Dom Cabral, a estabilização da
Bovespa entre 51 mil pontos e
53 mil pontos desde o início de
junho pode mostrar exatamente que os preços das ações atingiram o equilíbrio. "Se os investidores achassem que os papéis
estão caros, venderiam-nos e,
dessa forma, fariam o seu valor
recuar. Aconteceria o contrário
no caso de acharem que está
barato demais. A lei da oferta e
da demanda faz com que os
preços convirjam para o intervalo justo."
É nas previsões de melhora
da produção industrial brasileira, das vendas do varejo e do aumento da geração de empregos
que o mercado está se apoiando
para colocar os preços no ponto
em que estão. "A discussão não
é se o cenário vai melhorar, e
sim o quanto. Entre as dúvidas,
a mais importante é a que diz
respeito à retomada da economia dos EUA."
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