São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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Ações estão caras e limitam alta da Bolsa, dizem analistas

Índice mostra que preço não condiz com o lucro apresentado por empresas

Para especialistas, mercado adota um otimismo exagerado e ignora as incertezas sobre a recuperação mundial


DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Após três meses de valorização, as ações das empresas brasileiras ficaram muito caras, na avaliação de especialistas, o que explica o fato de a Bolsa de Valores de São Paulo ter estacionado no nível de 50 mil pontos há algumas semanas.
Ao mesmo tempo em que revela um otimismo exagerado do mercado quanto às perspectivas para a economia do país em 2009 e 2010, o atual patamar de preço dos papéis está desencorajando novas compras por parte dos investidores.
Entre o seu menor valor no ano (36.234 pontos, em 2 de março) e o maior (53.630 pontos, em 8 de junho), o Ibovespa -que reúne as 65 ações mais negociadas da Bolsa brasileira- avançou 48%. Segundo levantamento feito pela consultoria Economática a pedido da Folha, o índice P/L (preço de mercado da ação dividido pelo lucro da empresa nos 12 meses anteriores) médio das companhias nacionais estava em 16,6 ontem. Grosso modo, quanto maior essa relação, mais caro se encontra o papel. Em março, o indicador estava em 12,2.
"O P/L médio do país reflete as expectativas sobre o aumento do lucro das empresas locais e o risco que tal nação oferece. É um índice complicado de interpretar, por isso não se pode estabelecer que a partir de determinado nível os preços estão muito altos. Mas, mesmo assim, é preciso acreditar que o Brasil é um país o diferente do que era em 2005, quando o índice estava perto dos 10 pontos, para justificar que agora fique em 16. Leituras acima de 15 pontos me deixam desconfiado", diz Fernando Exel, presidente da Economática.
De quatro anos para cá, o indicador subiu porque o preço das ações aumentou em um ritmo superior ao dos ganhos corporativos. No começo de 2008, quando chegou aos 24,2 pontos, os analistas apontavam para a formação de uma bolha.
Esse não parece ser o caso no momento, ressalta quem acompanha os movimentos do mercado de perto; entretanto, os dados disponíveis sobre a atividade econômica brasileira ainda não autorizam muita euforia quanto ao desempenho das empresas do país no curto e no médio prazo.
"À parte os progressos recentes e todas as qualidades do Brasil -como a eficiente atuação do governo federal e do Banco Central no combate aos efeitos da crise, a boa governança corporativa das empresas- e as surpresas positivas quanto ao grau de aquecimento da atividade no primeiro semestre, ainda existem incertezas demais sobre o comportamento do PIB [Produto Interno Bruto] no Brasil e no mundo daqui para a frente", diz Raffi Dokuzian, superintendente da Banif Corretora.

Preço justo
Na opinião de Haroldo Vale Mota, professor da Fundação Dom Cabral, a estabilização da Bovespa entre 51 mil pontos e 53 mil pontos desde o início de junho pode mostrar exatamente que os preços das ações atingiram o equilíbrio. "Se os investidores achassem que os papéis estão caros, venderiam-nos e, dessa forma, fariam o seu valor recuar. Aconteceria o contrário no caso de acharem que está barato demais. A lei da oferta e da demanda faz com que os preços convirjam para o intervalo justo."
É nas previsões de melhora da produção industrial brasileira, das vendas do varejo e do aumento da geração de empregos que o mercado está se apoiando para colocar os preços no ponto em que estão. "A discussão não é se o cenário vai melhorar, e sim o quanto. Entre as dúvidas, a mais importante é a que diz respeito à retomada da economia dos EUA."


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